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- Pois o que dirás se te demonstrar que este poder, do qual, como
nosso raciocínio demonstrou, não gozam nem mesmo os imperadores, o
possui teu filho no mais alto grau? E não penses que vou falar dos
bens do céu, dos quais não acreditas; não me esqueci até este
ponto das minhas promessas. Não. Minha demonstração há de se
apoiar no que aqui acontece. Pois bem, se o poder máximo consiste em
podermos nos vingar de quem nos ofende, muito melhor seria encontrar um
gênero de vida em que ninguém, ainda que quisesse, pudesse nos
ofender. E que este poder é superior ao primeiro, veremos patente e
manifesto transferindo nosso raciocínio para outro exemplo. Senão me
dize-me: O que seria melhor: ter muita destreza na arte da guerra
que ninguém nos pudesse ferir sem ficar ele ferido ou possuir um corpo
de tal condição que ninguém, fizesse o que fizesse, pudesse
feri-lo? Qualquer um vê que este poder é superior ao outro e se
aproxima do divino. E não há só este, mas outro ainda mais alto
que este. Que poder pode ser este? Saber os remédios com que todas
as feridas desaparecem sem deixar rastros. Acertado está pois, que
há três graus de poder: Primeiro, podermos nos vingar de quem nos
ofende; segundo, superior ao primeiro, curar as próprias feridas (o
que não se segue necessariamente do primeiro) e terceiro, não ser
vulnerável a nenhum homem vivente (com o que, na verdade, se sai da
natureza humana), e vou demonstrar-te que é este o poder que teu
filho possui.
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