DEVE-SE DESPREZAR AS ZOMBARIAS TOLAS

Mas zombam de ti - me dizes - muitos pais que têm seus filhos metidos nos negócios da vida presente, outros rompem-se em choro quando te vêem, outros riem. Mas por que não zombas tu e não te lamentas com mais razão por eles? Porque o que se deve examinar não é se as pessoas zombam ou não de nós; mas se há razão e motivo justo para tais zombarias. Se há razão, mesmo que ninguém ria, temos que chorar; e se não há, mesmo que todo o mundo zombe, devemos nos considerar felizes e ter pena de quem zomba, como se fossem pessoas completamente desgraçadas e que não se diferem em nada dos loucos. Porque é coisa de louco, ou de pessoas que sofrem de enfermidade próxima da loucura, rir-se de coisas que merecem mil louvores e coroas. Pois, dize: Se tivesse enlouquecido o teu filho pela tolice de bailarinas e de meretrizes, e todo o mundo te louvasse e se maravilhasse e te desse mil parabéns, não acharias tu que seria pura troça e escárnio? E se, ao contrário, levando ao fim uma ação generosa e digna de aplauso, acontecesse que as pessoas rissem e zombassem, tu não dirias que elas estão completamente loucas? Pois, façamos assim também agora; não sentenciemos a causa de teu filho levados pela opinião do vulgo, mas pelo rigoroso exame da razão e verás que, comparando uns filhos com os outros, estes que se riem são pais de filhos escravos e não livres.