EXEMPLOS PAGÃOS: SÓCRATES E DIÓGENES

E se fosses homem que professasse nossa religião, te contaria muitos e grandes exemplos acerca desse particular; mas já que professas o paganismo, tampouco aí me faltarão exemplos. Escuta o que disse Críton a Sócrates:

"A tua disposição está o meu dinheiro, que a meu ver é suficiente. E se por consideração para comigo não quiseres gastar o que é meu, aqui estão estes estrangeiros dispostos a gastar. Exatamente para este fim trouxe bastante dinheiro Simias o tebano e também está disposto Cebes, e como eles muitos outros. Enfim, como te dizia, que não seja este temor motivo para que desistas de te por a salvo, e nem alegues também como dificuldade o que disseste no tribunal: Que, saindo da cidade, não saberias o que fazer de tua pessoa. Aonde quer que fores, te receberão com mil amores, e, se quiseres marchar para a Tesália, ali tenho eu hóspedes que te estimarão altamente e te darão todo o gênero de segurança, de modo que nada te falte do quanto exista em Tesália".

Que coisa é mais doce que este gênero de opulência? E ainda este argumento é para os homens do mundo; porém se quiséssemos examinar a riqueza do monge com um espírito um pouco mais filosófico, talvez tu não seguisses os meus argumentos, mas não tenho outro remédio senão dize-los para agrado dos juizes. E é por isso que a riqueza da virtude é tão grande, tanto mais doce e invejável que a vossa, que aqueles que a possuem jamais desejariam trocá-la pela terra inteira, nem se as montanhas, os mares e os rios se convertessem em ouro. E se tal transformação fosse possível, tu verias de fato de que não se trata de fanfarronice, mas que, oferecendo-lhes ainda muito mais do que tudo isto, desprezariam a tudo e jamais o trocariam pela virtude. E como digo trocar? Nem sequer consentiriam em possuir juntamente riqueza e virtude. Se a vós oferecessem a riqueza da virtude junto com a do dinheiro, as receberias amorosamente; com o que confessais que esta riqueza é grande e maravilhosa. Os monges, porém, não querem a tua riqueza unida com a deles; com o que dão a entender que a têm por coisa desprezível. E eu te manifestarei isto com os teus próprios exemplos. Que quantidade de dinheiro acreditas não teria dado Alexandre a Diógenes, se este tivesse querido receber? Porém o rejeitou totalmente. Alexandre, ao contrário, empenhava-se e não deixou pedra por mover para que um dia chegasse à riqueza de Diógenes.