A VELHICE NÃO É PRÓPRIA PARA ABRAÇAR A VIDA MONÁSTICA

18.

Portanto, vale mais a pena nos armar quando somos donos de nós mesmos e quando nos achamos soltos, desde a infância, não só pelas razões enumeradas, mas também por outras que vou mostrar. De fato o que abraça esta filosofia no fim de sua vida, gasta todo o tempo lavando os pecados cometidos na idade anterior e nesse labor se consome toda a sua energia, e nem assim lhe basta muitas vezes, mas sai deste mundo com fartas relíquias das feridas antigas. Ao contrário, o que desde a sua primeira idade foi para a arena, não tem porque gastar o tempo nisso e estar sempre a curar suas feridas, mas desde o princípio recebe os prêmios da vitória. Aquele tem que se contentar em reparar as derrotas passadas; o outro, porém, levanta troféus desde que começa a corrida e acrescenta vitórias e mais vitórias e, como um campeão olímpico que caminha desde a infância até a velhice de aclamações em aclamações, assim este chega à eternidade, cingida sua a cabeça de coroas sem conta.

Pois bem, entre quem queres que se encontre o teu filho: entre os que por seu grande valor diante de Deus podem olhar fixamente os próprios arcanjos, ou entre os que ficam para trás de todos e ocupam o último lugar? Porque não há dúvida que o último lugar ocuparão, e isso se conseguirem escapar de todos os obstáculos que acabo de enumerar e não os arrebatar uma morte prematura, nem os impeça logo a mulher, e que não tenham tão graves feridas que nem toda a velhice baste para repará-las, e conservem, finalmente, firme e imóvel o seu primeiro propósito. Supondo que ocorram todas estas circunstâncias, ainda assim serão contados a duras penas no último lugar. Destes, pois, queres que seja teu filho, ou dos que brilham na cabeça da falange?