CAPÍTULO QUINTO

1.

Esta é, tanto quanto eu alcanço conhecer, a razão do nome anjo nas Escrituras. Porém creio agora dever perguntar por que os teólogos chamam indistintamente anjos a todos os do Céu, enquanto que, outras vezes, ao tratar das hierarquias celestes, reservam o nome de anjos para a última ordem hierárquica, a que está subordinada aos graus dos arcanjos, principados, autoridades e potências que as Escrituras reconhecem superiores.

Em todas as hierarquias sagradas o grau superior de cada ordem possui as iluminações e poderes das que lhes estão subordinadas, porém estas não têm as próprias dos superiores. Os teólogos (Sl. 103, 20; Mt. 25, 31; Heb. 1, 4) dão o nome de anjo também às ordens mais altas e santas entre os seres celestes pelo fato de que manifestam as iluminações procedentes da Deidade. Porém, falando concretamente da última ordem dos seres celestes, não há razão para chamar anjos aos membros dos principados, tronos ou serafins, porque os anjos não participam dos supremos poderes destes. De fato, assim como esta ordem superior eleva nossos inspirados hierarcas até onde eles conhecem da luz de Deus, as ordens de grau superior elevam a seus subordinados, os anjos, até a Deidade.

Se a Escritura emprega o mesmo nome para todos os anjos é porque os poderes celestes possuem em comum uma capacidade, inferior ou superior, para identificar-se com Deus e entrar, mais ou menos, em comunhão com a luz que dEle procede.

Mas, para esclarecer tudo isto, contemplemos com olhar puro as santas propriedades de cada ordem celeste tal como a Escritura o revelou.