A EDUCAÇÃO SEGUNDO
A FILOSOFIA PERENE

Capítulo IV

Pressupostos Psicológicos




IV.1.

Introdução.

Nos capítulos V, VI e VII vamos mostrar de que modo se educa o homem para que ele possa vir a alcançar a contemplação de que falam Aristóteles e S. Tomás.

Em outras palavras, posto qual seja o fim último do homem, estaremos buscando quais devem ser os meios que a natureza deste fim exige para que ele seja alcançado. À medida em que fizermos isto, ganharemos também uma maior compreensão da natureza deste mesmo fim.

Antes de fazer isto, porém, é necessário analisar alguns pressupostos implicados na colocação da contemplação como fim último do homem e da educação. No capítulo anterior analisamos os pressupostos históricos, que explicam o modo particular de que se serviu S. Tomás de Aquino ao colocar esta questão. Neste capítulo iremos analisar um outro pressuposto da contemplação como fim último, não mais o processo histórico de como se chegou a ela, mas a investigação que os filósofos gregos e medievais realizaram sobre a natureza da psicologia humana.

Grande parte da firmeza que os filósofos gregos e medievais tinham em afirmar que a contemplação é a felicidade e o fim último do homem provém da igual firmeza a que eles tinham chegado em afirmarem que a inteligência humana é uma faculdade imaterial, e não um processo neurológico de natureza físico-química. A inteligência seria algo unido ao corpo assim como a forma à matéria. Mais precisamente, a inteligência humana seria o atributo de uma forma substancial que unida à matéria formaria o homem; esta forma substancial, porém, ao contrário das formas substanciais dos demais entes corporais, apesar de unida à matéria, possuiria um modo próprio de ser que faria com que não dependesse da matéria para existir. A inteligência humana, assim, seria uma faculdade imaterial incorruptível, que no homem estaria unida em suas operações próprias a um processo neurológico de natureza físico-química, mas que não consistiria neste processo físico químico e seria até mesmo capaz de existência independentemente dele.

Conforme veremos, não foi uma revelação divina que fêz com que os filósofos gregos chegassem a esta conclusão, mas uma persistente contemplação da natureza unida a uma exigente educação das faculdades intelectivas. Este assunto é um dos principais temas do Comentário ao De Anima, sobre o qual se baseia em sua maior parte o presente capítulo.