A EDUCAÇÃO SEGUNDO
A FILOSOFIA PERENE

Capítulo IX

Pressupostos Políticos




IX.1.

Introdução.

Percorremos até aqui um longo caminho. Expusemos que o fim do homem, sua verdadeira felicidade, está na contemplação, e que, portanto, este é também o fim natural da educação; comparamos a este fim diversos outros fins explicando porque seria contra a natureza humana fazer deles o fim último da educação, ainda que seja isto o que fazem freqüentemente os homens. Depois expusemos os pressupostos históricos deste modo de entender a educação; expusemos também os pressupostos psicológicos que o fundamentam. A seguir expusemos os requisitos pedagógicos próximos de uma educação que tenha como meta a contemplação, isto é, o cultivo da virtude e da inteligência. Expusemos depois também outros requisitos mais remotos. Finalmente, enquadramos tudo isto dentro de uma perspectiva metafísica mais ampla, fundamento último da natureza humana e de sua educação.

Enquanto prosseguíamos em nossa exposição, o leitor deste trabalho deve ter-se perguntado se um sistema educacional como o descrito neste trabalho é algo efetivamente realizável. Certamente, considerado em si mesmo, nada há nele que impeça de ser realizado; não parece conter contradições internas e, historicamente, a Academia de Platão e o Mosteiro de São Vitor foram exemplos de sua factibilidade. Mas não é este o sentido da pergunta que o leitor deve ter-se feito. Não se trata de saber se esta educação é realizável quando considerada em si mesma, mas sim se ela é realizável dentro do contexto de uma sociedade concreta como a do Brasil, por exemplo, ou a de qualquer país do mundo. Como seria possível implantar um sistema educacional como o descrito neste trabalho? Haveria algum Ministro da Educação que se atreveria a propor uma Lei de Diretrizes e Bases com fundamento neste trabalho? E se houvesse, haveria algum Congresso que teria coragem de aprová-lo? E ainda que a tivesse, como fazer para implantar tal coisa? Onde encontrar os professores que sequer entendessem o que se pretenderia? Quem iria formar tais professores? Haveria candidatos para este Magistério? Ainda que os houvesse, a sociedade aceitaria semelhante tipo de ensino? Seria pelo menos capaz de entendê-lo? Não acabaria ela exigindo uma educação tal como era antes? Porque se as escolas que temos hoje oferecem uma Pedagogia diferente da que foi descrita neste trabalho é porque há motivos para tanto; há necessidades sociais que precisam ser atendidas que fazem com que a educação oferecida seja deste modo e não daquele outro.

Com isto entramos no próprio centro do presente capítulo. Como deve organizar-se uma sociedade para que possa existir um sistema educacional cuja meta final seja a contemplação da verdade? Perguntar isto é perguntar pelos pressupostos políticos da educação que viemos descrevendo neste trabalho.