Notas de FHE

VI

FILOSOFIA E EDUCAÇÃO EM
ATENAS NO ANO 450 AC.



01.

Nas notas precedentes ocupamo-nos da obra do filósofo Parmênides de Eléia, uma das cidades colônia que os gregos tinham naquela época no sul da Itália. Aquela foi a região em que floresceram as escolas dos filósofos pitagóricos, e nós pudemos comentar que Parmênides havia sido inicialmente discípulo de um filósofo pitagórico.

02.

Vimos o significado do princípio de Parmênides segundo o qual o ser e o pensar são o mesmo e as conseqüências que ele deduziu deste princípio, segundo as quais só existiria um único ser, eterno e imutável.

Parmênides não ignorava que os cinco sentidos nos mostram um mundo à nossa volta completamente diferente, repleto de seres os mais diversos que não são nem únicos, nem eternos, nem imutáveis, mas em constante movimento e alteração, imersos no contínuo vir-a-ser. Apesar disso, porém, Parmênides não teve dúvidas em afirmar que tudo isto não deveria passar de uma ilusão.

03.

Para entender o que aconteceu na educação e na filosofia depois disso, devemos fazer antes um apanhado geral da situação do pensamento filosófico e da educação no mundo grego na época de Parmênides.

04.

A Filosofia, ou pelo menos, a tradição filosófica que chegou até nós, havia-se iniciado um século e meio antes da época de Parmênides, com Tales e Anaximandro de Mileto.

Mileto era uma cidade grega, mas que não ficava na Grécia propriamente dita, e sim no território que hoje em dia pertence à Turquia. Entre a Turquia e a Grécia existe um mar repleto de numerosas ilhas, atualmente pertencentes à Grécia, mar este chamado de Mar Egeu. Mileto ficava na costa oeste da Turquia, junto ao Mar Egeu.

Diógenes Laércio, um dos biógrafos antigos dos filósofos gregos, diz que há uma controvérsia sobre a naturalidade de Tales. Alguns dizem que Tales havia nascido em Mileto, mas outros afirmam que ele era natural da Fenícia, onde atualmente fica o Líbano. Segundo estes últimos, Tales teria sido expulso de sua terra e acolhido como cidadãos pelos milesianos.

Já Anaximandro, seu colega e talvez parente, era verdadeiramente natural de Mileto. Desta maneira, a Filosofia grega iniciou-se entre os gregos sim, não porém no território que hoje pertence à Grécia, mas na costa ocidental da Turquia por volta do ano 600 AC.

05.

Diógenes Laércio traçou um perfil de Tales que é interessante de se mencionar. Ele afirma que Tales inicialmente estudou no Egito, tendo lá aprendido Geometria, Astronomia e outros conhecimentos. Depois que se radicou em Mileto, embora fosse conhecido pelos excelentes conselhos que dava em matéria política, na qualidade de simples cidadão mantinha-se afastado de tais problemas.

São de Tales, ainda, continua Diógenes Laércio, os seguintes versos:

"Muitas palavras não significam
um coração entendido.
Busca a única sabedoria.
Escolhe um único bem.
Assim fecharás a boca dos tagarelas
que falam sem cessar".

Perguntado sobre o que seria mais difícil, respondeu Tales:

"Conhecer-se a si mesmo".

Dizia ainda Tales que o homem feliz é

"aquele que tem um corpo saudável,
uma mente plena de recursos
e uma natureza dócil".

Ele afirmava também, continua Diógenes, que não nos devemos orgulhar pela nossa aparência exterior, mas estudar cuidadosamente para que nos tornemos belos de caráter.

Tais são alguns traços do perfil do homem que iniciou o movimento filosófico entre os gregos, segundo Diógenes Laércio.

06.

Pitágoras, que pertence à geração seguinte, nasceu em uma ilha chamada Samos, situada muito próxima, separada por um pequeníssimo estreito, à costa ocidental da Turquia, bem perto de Mileto. Não é de se admirar, pois, que favorecido pela proximidade geográfica, Pitágoras tivesse tido como seus primeiros mestres a Tales e Anaximandro de Mileto. Tal como Tales, Pitágoras foi depois estudar no Egito e bem provavelmente também depois disto na Pérsia. Ao voltar para o mundo grego, estabeleceu suas escolas nas colônias do sul da Itália.

Desta maneira, cem anos depois de Tales, pelo ano 500 AC, a Filosofia não tinha entrado no território propriamente grego, mas localizava-se preferencialmente na costa oeste da Turquia e no sul da Itália.

07.

Os milesianos e os pitagóricos foram, pois, durante este primeiro século, os principais dentre os filósofos. Houve, porém, muitos outros, dos quais não tivemos a oportunidade de falar.

08.

Pouco antes da época de Parmênides floresceu em Éfeso, uma cidade também muito próxima de Mileto, um outro filósofo de que não falamos, que condivide com Parmênides o lugar de principal filósofo entre os pré socráticos. Chamava-se Heráclito de Éfeso, e ao morrer deixou seguidores e obras escritas que eram copiadas e reproduzidas pelo mundo grego.

O estilo em que Heráclito compunha as suas obras valeu- lhe o apelido de "Heráclito, o Obscuro".

Conta-se que quando Sócrates mais tarde leu os escritos de Heráclito e lhe perguntaram o que pensava deles, teria respondido:

"A parte que eu consegui entender
é excelente,
e também é, ouso dizer,
a parte que eu não entendi;
mas é preciso um mergulhador Deliano
para chegar ao fundo do mesmo".

09.

Desta maneira, em Atenas, a principal das cidades gregas, por esta época não havia entrado ainda a Filosofia. Não havia nela nenhuma manifestação semelhante ao que ocorria na região de Mileto, nem escola alguma que se parecesse com as escolas que Pitágoras havia fundado na Itália. Mas nesta cidade vinha acontecendo um outro fenômeno que preparou o caminho para que posteriormente viesse a tornar-se o foco da Filosofia antiga.

10.

Antes da época de Tales, durante muitos séculos a educação que era dada aos jovens gregos era uma educação predominantemente militar. A sofisticação crescente da guerra, porém, passou gradualmente a fazer com que o êxito de uma campanha militar dependesse cada vez menos da simples força bruta.

Na época em que Tales florescia em Mileto deram-se uma série de reformas políticas em Atenas que resultaram na criação de um regime democrático nesta cidade. Por esta época os atenienses passaram a abandonar o costume de andarem permanentemente armados e a adotarem costumes mais brandos e civilizados. Assim, as atividades militares em que os jovens eram treinados desde criança passaram a ser exigidas apenas dos dezoito aos vinte anos de idade. A prática da vida militar que ia da infância até aos dezoito anos foi gradualmente se transformando em educação física, com finalidade não mais bélica, mas de competição desportiva desinteressada.

11.

A educação ateniense na época em que na Ásia Menor e na Itália florescia a filosofia consistia, pois, principalmente em educação física. As crianças eram confiadas a um escravo cuja função era conduzi-las diretamente ao ginásio e trazê-las de volta para casa. O escravo encarregado desta tarefa recebia o nome de pedagogo. Posteriormente pedagogo passou a ser o nome dado aos educadores em geral.

12.

Os Jogos Olímpicos são um testemunho da importância que os gregos concediam à prática desportiva. Iniciaram-se no ano 776 AC, e eram disputados de quatro em quatro anos, abertos a todos os atletas de origem grega. A prática começou com uma prova que era uma simples corrida, mas aos poucos foram sendo acrescentadas novas provas até se tornar uma instituição de fundamental importância para a própria unidade cultural dos povos gregos. Os vencedores das provas eram vistos como heróis nacionais para as cidades que representavam e passavam para a história; os títulos olímpicos eram tão cobiçados que, após a conquista da Grécia pelos romanos o próprio Imperador Nero quis participar em pessoa das provas e, deve-se dizer também, fêz questão absoluta de ser o vencedor. Até as datas entre os gregos passaram a ser contadas com base nos Jogos Olímpicos. Assim, por exemplo, consta que Tales teria nascido na 35ª Olimpíada e faleceu na 58ª; Pitágoras floresceu na 60ª Olimpíada e Parmênides na 69ª.

13.

Paralelamente ao ginásio, onde as crianças praticavam a educação física, começaram a surgir também escolas de música. Na verdade estas escolas eram apenas as casas das pessoas que se ofereciam, mediante remuneração, para ensinar as crianças a lerem as poesias de Homero, a Ilíada e a Odisséia. As crianças não apenas aprendiam a ler e a recitar estas poesias, mas também a cantá-las acompanhadas por instrumentos musicais. O escravo pedagogo nesta caso era então incumbido de levar a criança da casa para o ginásio, do ginásio para o professor de música e do professor de música para casa.

Posteriormente apareceu um terceiro professor, que ensinava em outra casa, apenas para a leitura e os rudimentos de gramática.

14.

Disto que foi exposto pode-se entender que não existiam escolas públicas em Atenas. Na realidade, nem sequer havia propriamente escolas, pois estas eram apenas as casas dos professores e os professores eram apenas tais por terem se oferecido para tanto, e não por haverem cursado alguma escola preparatória para o magistério ou por serem oficialmente reconhecidos como professores pelas autoridades.

15.

A educação ateniense consistia, portanto, basicamente em educação física em primeiro lugar, à qual se acrescentavam a música e a leitura. Não havia cartilhas para se aprender a ler. Aprendia-se a leitura diretamente sobre as poesias de Homero, as quais, ademais, naquela época, eram escritas sem sinais de pontuação, isto é, sem pontos nem vírgulas, sem letras maiúsculas para indicar o início das frases e, mais ainda, de modo contínuo, sem que uma palavra viesse separada da outra por um espaço.

16.

A matemática não tinha importância alguma na educação ateniense, apesar da enorme ênfase que os filósofos dava a este conhecimento. No mundo grego, de fato, a matemática era cultivada apenas entre os filósofos, e de um modo muito especial entre os filósofos pitagóricos, mas estes não viviam em Atenas. Em Atenas os rudimentos de matemática eram conhecidos pelos comerciantes que os aprendiam no seu dia a dia e sem nenhuma preocupação educacional.

17.

A educação em Atenas já tinha estas características há certamente mais de um século quando um filósofo entrou pela primeira vez na cidade e lá fixou residência. Seu nome era Anaxágoras, natural de Clazômenas, uma cidade situada no Golfo de Esmirna, na costa Oeste da Turquia, muito próxima, por sinal, de Éfeso e de Mileto. De Anaxágoras já tivemos ocasião de falar anteriormente. Com aproximadamente vinte anos de idade ele atravessou o Mar Egeu e foi morar em Atenas, lá vivendo aproximadamente durante o espaço de tempo de três décadas. Anaxágoras entrou em Atenas por volta do ano 480 AC e saíu de lá trinta anos mais tarde, por volta de 450 AC, possivelmente condenado à morte, pelo menos expulso pelos atenienses.

18.

Anaxágoras entrou em Atenas logo após a vitória dos atenienses contra o Império Persa, no auge da glória e do poderio daquela cidade. Foi ele que educou o mais brilhante líder político daqueles tempos, Péricles, de quem já fizemos referência.

Anaxágoras ficou famoso na história pela integridade de seu caráter, assim como pelo conhecimento assombroso, conforme diziam, que possuía da natureza. Foi ele quem afirmou que vivia para contemplar o Sol, a Lua e o céu, e durante os anos que ele passou em Atenas a história também é testemunha de que ele tentou ensinar aos demais algo destes conhecimentos que ele possuía.

19.

Os escritores antigos dão testemunho, de fato, de um conhecimento surpreendente dos fenômenos naturais por parte de Anaxágoras. Segundo Plutarco, estas afirmações são de Anaxágoras:

  • Que a claridade da Lua é fornecida pelo Sol;
  • que o arco-íris é o reflexo do Sol nas nuvens.

20.

Segundo outros fragmentos recolhidos por Hipólito, escritor cristão de língua grega mas residente em Roma no terceiro século, Anaxágoras também teria ensinado que:

  • As estrelas são pedras incandescentes, das quais não sentimos o calor porque estão muito afastadas de nós;
  • a Lua está abaixo do Sol, e mais perto de nós do que o Sol;
  • o tamanho do Sol é, na realidade, maior do que todo o Peloponeso;
  • a Lua não tem luz própria, mas a recebe do Sol;
  • os eclipses da Lua se devem ao fato de que ela é às vezes ocultada pela Terra, e os do Sol, devido à interposição da Lua;
  • a Lua é feita de terra e possui planícies e montanhas.

21.

Diógenes Laércio confirma muitas destas afirmações de Anaxágoras e acrescenta outras. Ele diz que Anaxágoras, por exemplo, afirmava que:

  • O Sol é apenas uma massa de metal vermelho incandescente maior do que o tamanho de todo o Peloponeso;
  • na Lua há montanhas e planícies;
  • os ventos surgem quando o ar fica rarefeito pelo calor do Sol;
  • o trovão é uma colisão entre as nuvens, e o relâmpago resulta de uma fricção violenta entre as mesmas.

22.

Deve-se chamar a atenção para a importância de muitas destas observações de Anaxágoras. Não só elas estão substancialmente de acordo com a ciência moderna, como também de fato algumas são assombrosamente certas. A mais impressionante delas talvez seja a afirmação de que a Lua é feita de terra e que nela existem montanhas e planícies. Anaxágoras afirmou isto no século quinto antes de Cristo e disto são testemunhas dois escritores independentes do terceiro século depois de Cristo, Hipólito e Diógenes Laércio.

23.

Esta última afirmação impressiona particularmente porque a história oficial, aquela que se comumente se ouve nas salas de aula e se lê nos livros textos, diz que o primeiro homem que afirmou que na Lua existem montanhas e planícies, o homem que portanto teria descoberto este fato, foi Galileu Galilei no século XVI quando, estando recém inventado o telescópio, resolveu apontar o novo instrumento para a Lua, só então assim descobrindo que nela havia montanhas e planícies. Pois, efetivamente, sem um telescópio não é possível perceber que na Lua existem montanhas e planícies, e antes do século XVI não havia telescópios no mundo. Porém o fato é que no século III dois escritores que não se conheciam um ao outro atestam que Anaxágoras, oito séculos antes, já sabia disso.

24.

Este Anaxágoras foi, assim, o primeiro filósofo com que os atenienses tiveram contato em sua história. Parmênides, nesta época, vivia na Itália e era aproximadamente dez anos mais velho do que Anaxágoras. Nenhum deles, ao que tudo indica, sabia da existência do outro.

25.

Devemos também dizer agora que por esta época os atenienses acreditavam em coisas bastante diversas sobre o Sol e a Lua. Para os atenienses o Sol e a Lua eram deuses. Anaxágoras porém, ali vivendo, ensinava-lhes ao contrário que a Lua era feita de terra e que tinha planícies e montanhas, e que o Sol nada mais era do que uma massa de metal incandescente. Era inevitável que, nestas condições, mais cedo ou mais tarde teria que acontecer alguma coisa. Trinta anos depois da chegada de Anaxágoras a Atenas, no ano 450 AC, alguma coisa de fato aconteceu.

26.

Existem diversas versões sobre o que aconteceu. Uma delas diz que um homem chamado Cléon acusou formalmente este estrangeiro à justiça ateniense como réu de impiedade por ensinar que o Sol era apenas uma massa de metal incandescente. Anaxágoras teria sido então levado a julgamento, condenado a pagar uma multa e ir para o exílio.

Uma outra versão diz que Anaxágoras teria sido julgado à revelia e condenado à morte. Seus filhos teriam sido executados, mas antes que o mesmo pudesse ser feito também com ele, o filósofo teria conseguido fugir para o exílio.

Existem ainda outras versões. Seja qual for a versão certa, o fato é que Anaxágoras terminou a sua vida no exílio; seus livros porém, dos quais para nós não restou nenhum, continuaram a ser copiados e vendidos publicamente junto ao coro do teatro de Atenas.

De nada valeu que Péricles, a principal figura política da cidade naquele tempo, tivesse sido seu dedicado discípulo. Naquela época Atenas era uma democracia, e Péricles não tinha poder algum sobre a justiça ateniense.

27.

Naquela época a justiça ateniense era administrada pela Heliéia, ou Assembléia Judicial. Eram sorteados entre todos os cidadãos atenienses seis mil homens que formavam o que seria atualmente o Poder Judiciário. A cidade pagava estes homens pelos deveres que eles desempenhavam. Quando havia um julgamento, eram sorteados quinhentos destes seis mil homens a quem caberia por votação dar a sentença para o caso em julgamento. Naquela época aquele que no tribunal de hoje seria o juiz não tinha poder algum para dar a sentença. Ele era apenas um magistrado que preparava o caso para ser apresentado no tribunal diante dos que eram os verdadeiros quinhentos juízes. Aqueles que nos dias de hoje seriam chamados de advogados não tinham o direito de entrar no tribunal. Suas funções se limitavam a orientar os seus clientes antes do julgamento. As próprias partes em litígio, o acusador e o acusado, deveriam se presentar pessoalmente diante dos quinhentos juízes e cada um devia expor a sua versão do caso a ser julgado. No final os juízes votavam e vencia a causa aquele que obtivesse a maioria simples dos votos dos juízes, isto é, a metade dos votos mais um.

28.

Cinqüenta anos depois do julgamento de Anaxágoras a memória desta fato ainda estava viva entre os atenienses, conforme mostra um acontecimento ocorrido durante o julgamento de outro filósofo diante de um tribunal exatamente composto como o que acabamos de descrever. Este filósofo foi Sócrates, e o seu julgamento foi posteriormente narrado por Platão em um de seus diálogos denominado "A Apologia de Sócrates". As acusações contra Sócrates eram variadas, mas dentre elas estava novamente a mesma acusação de que Anaxágoras havia sido, muitos anos antes, também réu. Durante o julgamento de Sócrates um dos acusadores, de nome Meleto, assim se expressou diante dos juízes:

"Atenienses, eis aqui
diante de vós a Sócrates.
Este homem é réu de pesquisar indiscretamente
o que há sob a terra e nos céus,
de fazer com que prevaleça
a razão mais fraca
e de ensinar aos outros
o mesmo comportamento.
Ele não crê, ademais,
como toda a gente,
que o Sol e a Lua são deuses,
pois afirma que o Sol é pedra
e que a Lua é terra".

A esta acusação Sócrates teria respondido assim:

"Estás sonhando, meu caro Meleto.
Tu supões ainda
estares acusando a Anaxágoras,
envergonhando desta forma os aqui presentes,
julgando-os tão ignorantes
que não sabem que são
os livros de Anaxágoras de Clazômenas
que andam cheios destas teorias.
Seria justo de mim
que os jovens aprenderiam tais lições,
sendo que eles podem,
a qualquer momento,
por apenas três dracmas,
comprar os seus livros junto ao coro do teatro
e depois rir do velho Sócrates
que as quis passar como suas,
justamente estas tão originais?"

Esta não foi a única acusação contra Sócrates, mas juntamente com ela, neste tribunal, Sócrates foi condenado à morte por uma diferença de trinta votos.

29.

De modo que, conforme dizíamos, por volta do ano 450 AC, Anaxágoras de Clazômenas foi condenado à morte ou pelo menos expulso da cidade pelos Atenienses.

Sem que possivelmente soubesse do que havia acontecido, alguns poucos anos depois, talvez em 445 AC, lá na então distante Itália, Parmênides tomou uma decisão que viria a ter conseqüências tanto na Filosofia como na Pedagogia. Este filósofo resolveu abandonar a Itália e dirigir-se para Atenas e ali expor, entre os atenienses, os seus ensinamentos.

Juntamente com Parmênides empreendeu também esta viagem um de seus discípulos e conterrâneos, o filósofo Zenão de Eléia. Ambos levavam para expor em Atenas uma doutrina que, pelo que dela já vimos nas duas aulas precedentes, era indescritivelmente mais ousada do que todos os ensinamentos que Anaxágoras já havia podido trazer à luz.

O que veio a acontecer então será objeto das próximas notas.

São Paulo, 28 de agosto de 1989