Notas de FHE

B

SITUAÇÃO HISTÓRICA DO
MUNDO ANTIGO






Antes de iniciarmos nosso estudo de Filosofia e História da Educação temos primeiro que tentar compreender, ainda que resumidamente, a situação do mundo em que se iniciou a obra dos primeiros filósofos e educadores, porque é sobre a obra destes homens que se desenvolveu posteriormente a educação existente e porque, além disso, o mundo em que eles viveram foi em muitos aspectos bastante diferente do nosso, e não se pode compreender corretamente o que estes homens pensaram em fizeram sem compreender as situações que eles viveram.

Ora, a civilização em que atualmente vivemos, e a educação que nela desenvolvemos é apenas uma entre muitas que existiram e ainda existem. A civilização em que vivemos teve sua origem na fusão de três outras que houve na Antiguidade, que foram a civilização hebraica, a grega e a romana. Cada uma destas três civilizações teve origem independente da outra, mas, devido a um processo histórico que começou por volta do ano 2.000 AC e foi até a época do surgimento do cristianismo, acabaram se fundindo e formando a nossa civilização atual, dentro da qual se desenvolveu a educação que temos hoje.

Das três civilizações que deram origem à nossa, a mais antiga é a hebraica, que inicia sua história em 2.000 AC. A seguinte a aparecer foi a grega,cujas origens datam de 1.200 AC. Finalmente, a última, a Romana, iniciou sua história, segundo sua tradição, no ano 753 AC.

Vamos a seguir examinar sucintamente como elas nasceram, se desenvolveram e se integraram, e como dentre delas surgiu a filosofia. Não pretendemos fazer um relato completo. Pretendemos traçar um quadro dentro do qual se encaixará a seqüência das aulas que virão posteriormente, de tal maneira que, depois, ao estudarmos os fatos em detalhes, os fatos que realmente interessarão ao estudo da filosofia e da educação, os alunos saibam situá-los sem muita dificuldade no tempo e no espaço, e consigam dar-lhes uma primeira avaliação de suas importâncias no contexto dos acontecimentos da época.

Vamos examinar primeiro a civilização hebraica, na primeira parte destas notas. Depois, a grega, na segunda. Finalmente, na terceira parte, examinaremos a romana.


I




Para compreender o surgimento da civilização hebraica, cujo início data aproximadamente de 2.000 AC, é preciso saber que os primeiros relatos históricos, isto é, relatos escritos que temos do homem datam de pouco antes do ano 3.000 AC, mil anos, portanto, antes do início da história que propriamente nos interessa. O período anterior à época que se inicia com a escrita é chamado de período pré histórico.

Por volta do ano 3.000 AC havia três civilizações no mundo que conheciam a escrita, todas elas que se desenvolveram ao longo do curso de grandes rios: os Sumérios, os Egípcios e uma terceira recentemente descoberta que floresceu ao longo do rio Hindo na região do atual Paquistão.

Os sumérios estavam organizados em uma federação de cidades ao longo da Mesopotâmia, no lugar em que hoje fica o Iraque. É um lugar fértil, propício à agricultura, onde correm os rios Tigre e Eufrates. Os sumérios estavam organizados em cidades independentes, as quais, porém, tinham escrita, cultura e religião em comum.

Já os egípcios estavam submetidos ao poder absoluto de um único faraó, soberano de todo o Egito. A civilização egípcia floresceu ao longo do rio Nilo, graças também à facilidade que este rio propiciava à atividade agrícola.

Os grandes rios do Egito e da Mesopotâmia, favorecendo a agricultura, fizeram com que os habitantes destas regiões não precisassem deslocar-se constantemente para obter alimentos; o excedente de produção propiciado pela agricultura permitiu o aparecimento de outras classes sociais que podiam se dedicar ao estudo e às atividades do espírito.

A civilização hebraica tem sua origem assim em uma cidade do norte da Suméria chamada Ur. Por volta do ano 2.000 AC, aproximadamente, nela vivia um homem chamado Abraão, neto do tataraneto de Héber, de onde veio o termo hebreu. Segundo afirmam as Sagradas Escrituras, a principal fonte de conhecimento da história dos hebreus, o próprio Deus teria ordenado a Abraão que fosse habitar uma terra situada entre a Suméria e o Egito com as seguintes palavras:

"Sai da tua terra e da tua parentela,
e da casa de teu pai,
e vem para a terra que eu te mostrar.
E eu farei sair de ti um grande povo,
e te abençoarei,
e engrandecerei o teu nome,
e serás bendito.
Abençoarei os que te abençoarem,
e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem;
em ti serão benditas todas as nações da terra".

Gen. 12

Abraão, pois, abandonou sua terra e foi morar na terra de Canaan, atualmente Palestina ou Israel. Lá Deus lhe falou novamente que haveria de dar aquela terra à sua posteridade.

Abraão teve um filho chamado Isaac, e deste um neto chamado Jacó. Ambos habitaram a terra de Canaan levando uma vida semi nômade como pastores. Quando Jacó, mais tarde, já tinha doze filhos, uma terrível fome assolou o mundo da época e o obrigou a se transferir para o Egito com os seus filhos, onde se estabeleceu na região da desembocadura do rio Nilo chamada terra de Gezem.

Os doze filhos de Jacó se multiplicaram de tal modo na terra do Egito que acabram se tornando um povo dentro de outro povo; este povo foi chamado de hebreu ou judeu, sendo pois até hoje os judeus os descendentes de Abraão. A multiplicação do povo judeu em terras egípcias foi tão grande que o Faraó julgou que deveria submetê-los à escravidão para evitar um possível levante contgra os egípcios. Este estado de escravidão durou aproximadamente até ao ano 1.200 AC, quando o judeu Moisés recebeu junto ao Monte Sinai uma ordem de Deus para se dirigir ao Faraó e exigir dele a liberdade para o seu povo.

Como o Faraó não aceitasse as exigências de Moisés, Deus enviou por meio dele aos egípcios as 10 pragas descritas no Êxodo, até que, após a décima, o Faraó cedeu e deixou o povo judeu partir. Atravessaram os judeus as águas do Mar Vermelho que se abriram ao toque do bastão de Moisés, e passando pelo leito enxuto do mar chegaram ao pé do Monte Sinai, onde Moisés recebeu a Tábua dos 10 Mandamentos.

Mas, além dos 10 Mandamentos Moisés estabeleceu uma longa legislação moral, judicial e cerimonial, que formou a base de toda a cultura hebraica posterior. Esta legislação, cheia de sabedoria e de padrões muito mais elevados do que de todos os povos da época, está contida nos cinco primeiros livros da Bíblia denominados em grego Pentateuco e em hebraico simplesmente de Torá, ou Lei.

Após receberem todas estas leis e caminharem durante 40 anos pelo deserto, os hebreus entraram finalmente na terra da Palestina da qual se apoderaram militarmente e passaram a nela viver. Durante cerca de duzentos anos viveram assim na terra de Canaan em uma confederação de doze tribos, correspondentes aos descendentes dos doze filhos de Jacó, neto de Abraão, sem rei nem governo central, unidos apenas pela descendência, e história comum e pelas leis que Moisés lhes havia estabelecido.

Aproximadamente no ano 900 AC a pedido do povo o profeta Samuel ungiu o primeiro rei dos judeus, chamado Saul, o qual se suicidou alguns anos mais tarde diante de uma batalha perdida.

Sucedeu-lhe o rei Davi, ungido também pelo profeta Samuel, que o escolheu entre os pastores do povo israelita. Foi Davi que conquistou a cidade de Jerusalém que, ao que parece, era bem antiga e datava desde antes dos tempos de Abraão. Davi instalou em Jerusalém a capital de seu reino.

Filho de Davi foi o rei Salomão, que construiu um imenso templo na cidade de Jerusalém, mas que cobrou pesados impostos de seu povo. Ao morrer Salomão, seu filho e herdeiro do trono, Roboão, anunciou que seus impostos seriam muito mais pesados. Mal aconselhado por seus jovens amigos criados junto com ele, suas primeiras palavras ao povo depois de assumir o trono foram:

"Meu pai vos impôs um jugo pesado,
e eu ainda aumentarei o peso deste jugo.
Meu pai açoitou-vos com correias,
eu vos açoitarei com escorpiões".

1Reis 12, 14

Resultado imediato destas palavras foi uma revolução civil; as 10 tribos que viviam ao norte da Palestina se separaram e formaram o Reino de Israel sob o comando de Jeroboão; duas tribos ao sul, a de Benjamim e Judá, ficaram fiéis a Roboão e conswtituíram o Reino de Judá. Embora Roboão dispusesse de 180 mil homens prontos para a guerra, desistiu de lutar contra o Reino do Norte e aceitou as coisas como estavam.

Enquanto isso, na Mesopotâmia muita coisa havia mudado. Na época em que Abraão havia se mudado de Ur para a Palestina, as cidades sumérias se uniram e formaram o Império da Babilônia; seu sexto rei Hamurabi legislou o famoso Código de Hamurabi, base de um império que durou em torno de um milênio. Por volta da época em que o povo judeu se dividiu em duas nações, Judá ao sul e Israel ao Norte, porém, um povo vindo da região situada ao norte da Mesopotâmia conquistou os babilônios e fundou o Império Assírio.

No ano de 721 AC os assírios cercaram durante três anos a capital do Reino do Norte de Israel, chamada Samaria, ao fim do qual deportaram os judeus do norte para o Mesopotâmia. No seu lugar vieram outros povos mesopotâmios que, miscigenando-se com a cultura local, fundiram o hebraico com línguas caldaicas, daí resultando a língua aramaica e um povo que passou a ser conhecido como samaritano.

Mais tarde caiu na Mesopotâmia o Império Assírio. No seu lugar surgiu o Segundo Império Babilônico. Este império invadiu o Reino do Sul de Judá e após outro certo de três anos à cidade de Jerusalém, capital de Judá, prendeu o "rei Sedecias, matou os seus filhos em sua presença, vasou-lhe os olhos e o levou para a Babilônia", juntamente com todo o povo do Reino de Judá (2 Reis, 25). Queimaram também o templo construído em Jerusalém por Salomão, as casas e os edifícios de Jerusalém, e derrubaram os muros da cidade e o resto do povo que ainda tinha permanecido na cidade, deixando apenas alguns pobres agricultores.

O povo judeu do Reino de Judá, mais fiel à legislação de Moisés do que o Reino do Norte de Israel, ficou exilado 70 anos na Babilônia. Lá não perderam sua identidade cultural nem religiosa, nem se misturaram com os outros povos mesopotâmicos. Ao contrário, passaram a se reunir aos sábados para lerem a Lei de Moisés; as casa em que estas reuniões eram feitas passaram com o tempo a constituir as primeiras sinagogas. Uma parte do povo começou a se dedicar ao estudo da lei de Moisés para poder comentá-la nestas reuniões; surgiram então os primeiro rabinos e, em torno deles, alunos que começaram a formar as primeiras academias de teologia. Nestas academias era proibido o uso de quaisquer livros além da Torá; todos os comentários dos grandes rabinos tinham que ser guardados de memória e passados de geração em geração, de professor a aluno, oralmente e com fidelidade.

Surgiram também na época que precedeu o exílio da Babilônia, durante o exílio e após o mesmo, os grandes profetas que marcaram a vida do povo judeu e deixaram livros escritos: Elias e Eliseu, que viveram no Reino do Norte; Isaías e Jeremias, que viveram no Reino do Sul, todos estes antes do exílio; Ezequiel, durante o exílio, viveu na Babilônia; e Daniel, da época posterior ao exílio, também viveu, embora judeu, como funcionário na côrte do Império Persa.

Setenta anos após a deportação dos judeus para a Babilônia, em 521 AC, o rei Ciro dos persas conquistou o Império Babilônico e libertou o povo judeu para retornar a Jerusalém e reconstruírem a pátria. Também nesta época os persas conseguiram a façanha militar de, pela primeira vez na história, derrotarem as forças militares do Egito na batalha de Pelusa, levando exilados para a Mesopotâmia a côrte do Faraó e todos os sábios do Egito. Foi isto o fim da civilização egípcia, que já tinha quase três milênios de duração.

Desta maneira, na História Antiga, houve duas regiões em que houve povos altamente civilizados, uma ao longo do rio Nilo e outra ao longo dos rios Tigre e Eufrates. Na primeira, os egípcios permaneceram estavelmente durante quase três milênios. Na segunda, assistiu-se à sucessão dos sumérios, dos babilônios, dos assírios, dos babilônios novamente e dos persas. Os persas, que sucederam os babilônios na Mesopotâmia, se tornaram a maior potência militar que a história tinha visto até o momento e donos de toda a Ásia, incluindo o Egito, o Oriente Médio, a atual Turquia, a Mesopotâmia e estendendo seu poderio até as regiões da Índia.

Durante toda esta época a história do povo judeu foi uma série de vicissitudes entre as forças políticas dos egípcios e dos mesopotâmios. Quando, após a conquista da Babilônia e do Egito pelos persas, estes puderam voltar para a Palestina e reconstruir a cidade de Jerusalém e o Templo de Salomão destruído pelos babilônios, a maior parte do Antigo Testamento já havia sido escrito e foi então que começou a marcar presença no mundo a civilização grega, a segunda das três que compuseram a nossa a aparecer na história.

A fonte histórica para o conhecimento da civilização hebraica desta época é quase que exclusivamente a Sagrada Escritura. A história de Abraão, de seu filho Isaac e seu neto Jacó, e de sua mudança para o Egito está contada no livro de Gênesis, do capítulo 12 até ao fim.

A libertação do povo judeu do Egito feita por meio de Moisés é narrada no livro do Êxodo, do início até o capítulo 20.

As leis dadas por Moisés ao povo judeu, e sua estada de 40 anos no deserto é narrada no restande do livro do Êxodo, no Levítico, Números e Deuteronômio.

A conquista da terra prometida por meio de Josué, sucessor de Moisés no comando do povo judeu é narrada no livro de Josué.

Os primeiros dois ou três séculos em que os judeus viveram na terra de Canaan sem terem reis como governantes são narrados no livro dos Juízes.

A história do profeta Samuel e de como ele consagrou Saul como primeiro rei de Israel, juntamente com o relato de seu reinado encontra-se no primeiro livro de Samuel.

A narrativa do reinado de Davi que sucedeu a Saul e conquistou a cidade de Jerusalém encontra-se no Segundo Livro de Samuel.

O reinado de Salomão e a construção do templo de Jerusalém encontra-se nos onze primeiros capítulos do Primeiro Livro dos Reis.

A divisão do povo judeu no Reino do Norte de Israel e no Reino de Juá ao sul até a conquista do Reino do Norte pelos assírios e do Sul pelos babilônios encontra-se no restante do primeiro livro dos reis e todos o Segundo Livro dos Reis.

Os setenta anos de exílio na Babilônia por parte do Reino de Judá não estão contados em nenhum livro da Bíblia; há referências a este período nos Salmos e nos livros dos Profetas.

A volta do exílio, a reconstrução de Jerusalém e de seu templo são narrados nos Livros de Livros de Esdras e Neemias.

As vidas dos profetas Elias e Eliseu encontram-se narradas dentro do Primeiro e Segundo Livro dos Reis; estes não deixaram escritos. Isaías encontra-se também no segundo livro dos Reis, mas ademais ele deixou-nos escritos um livro seu próprio. Quanto a Jeremias, Ezequiel e Daniel, a fonte para o seu estudo são os seus próprios livros.


II




A origem dos gregos é antiga, não tão antiga como a dos judeus, mas bem anterior aos acontecimentos que acabamos de narrar. Entretanto, é apenas por esta época, cerca de 600-500 AC, que eles passaram a ter importância no cenário dos acontecimentos mundiais. Até então, as verdadeiras forças políticas do mundo eram os egípcios e os povos mesopotâmicos.

O povo judeu politicamente era muito pouco importante; sua verdadeira grandeza estava nas idéias e nas leis contidas nos livros do Antigo Testamento, desconhecidas pelos povos da época, que iriam posteriormente revolucionar o mundo.

A origem dos gregos vem da Ilha de Creta. Por volta do ano 1.500 AC, quando os judeus eram escravos no Egito, desenvolveu-se nesta ilha uma civilização de marinheiros que construíam em Creta cidades famosas na antiguidade por não terem muralhas. A ilha de Creta era muito comprida e ao mesmo tempo muito estreita. Seus muros era a própria frota de seus navios. A civilização que nela se desenvolveu recebeu o nome de Minóica.

Na época em que Moisés recebeu as tábuas da Lei no Monte Sinai, cerca de 1.200 AC, uma terrível explosão de um vulcão na Ilha de Santorini obrigou o povo cretense a fugir para o norte, fixando-se no sul da Grécia, num território chamado Peloponeso. Nele fundaram a cidade de Micenas e passaram a ser conhecidos pelos historiadores como povo micênico.

Por volta do ano 1.000 AC, pouco antes da época do rei Davi e Salomão, outro povo vindo do norte da Europa, chamado de Aqueus, invadiu a Grécia e obrigou o povo micênico a fugir novamente, espalhando-se pelo litoral da Anatólia, atual Turquia, para a Fenícia, atual Líbano, para a Sicília, ilha ao sul da Itália, e para a Etrúria, no norte da Itália, região onde atualmente fica a cidade de Pisa.

Por esta época foi escrito o primeiro clássico da língua grega, os poemas de Homero conhecidos por Ilíada e Odisséia. No território da atual Grécia desenvolveram-se diversas cidades independentes, como Atenas, Esparte e Tebas, das quais as mais importantes foram Atenas e Esparta.

Esparta estava situada em uma Península grande que havia ao sul da Grécia chamada de Peloponeso. No ano 800 AC um membro da família real de Esparta, chamado Licurgo, que havia já ocupado o trono interinamente, após ter viajado por todo o mundo da época, voltou a Esparta e fez uma reforma política na cidade na qual instituiu pela primeira vez a educação por parte do governo às crianças, jovens e adultos. Era, porém, uma educação puramente militar, que viria a ser a característica da cidade na Idade Antiga.

Quanto à cidade de Atenas, nada tinha de especial em relação às demais cidades da Grécia até aproximadamente o ano 600 AC, quando Sólon, político ateniense, implantou uma reforma agrária e instaurou o regime de governo democrático mais arraigado que se tem notícia na história antiga. Foi justamente nesta época que surgiram os primeiros filósofos.

O primeiro filósofo de que se tem notícia foi Tales de Mileto, amigo pessoal de Sólon. Ele vivia na cidade de Mileto, cidade grega, embora não ficasse no território da atual Grécia, mas no litoral oeste da Turquia, a chamada Grécia Antólia na Antiguidade, um dos lugares para onde haviam fugido os povos micênicos quando da invasão dos Aqueus. Ao que parece, os primeiros conhecimentos de Tales de Mileto foram adquiridos de uma viagem de estudos que fez junto aos sábios do Egito. Nesta época, floresceram em Mileto e em suas proximidades outros filósofos famosos, como por exemplo Anaximandro de Mileto.

Próximo do fim da vida de Tales e Anaximandro, um jovem nascido na Ilha de Samos, situada entre o litoral da Grécia Anatólia e a Grécia propriamente dita, chamado Pitágoras, chegou à cidade de Mileto para estudar com estes sábios. Pitágoras, ao que parece, pois, foi discípulo de Tales e Anaximandro. Depois de ter estudado com eles, assim como seus mestres, dirigiu-se ao Egito onde ficou cerca de duas décadas estudando com os sábios daquela terra. Quando os persas derrotaram os egípcios e os levaram para o exílio na Mesopotâmia, e com isto a civilização egípcia chegou ao seu fim, parece que Pitágoras, lá estudante, tinha sido levado junto. Na Mesopotâmia, onde nesta época as maiores civilizações do mundo antigo acabaram se reunindo, continuou estudando por mais uma década. Voltou então para o seu povo no sul da Itália, lugar para onde também os povos micênicos haviam fugido quatro séculos antes, e fundou pela primeira vez uma e depois várias outras escolas de filosofia em que os alunos ingressavam para se dedicarem aos estudos pelo restante de suas vidas.

Na época, pois, em que quase todo o Velho Testamento estava escrito e já tinham vivido a maioria dos maiores profetas de Israel, a filosofia grega estava ainda em sua segunda geração.

Foi então que os persas, que eram donos praticamente do mundo inteiro, quiseram invadir e conquistar também a Grécia. Por volta do ano 490 AC ela tentou por três vezes, com um exército fantástico de mais de um milhão de homens, subjugar os gregos. Por inacreditável que possa parecer, este exército e sua armada naval foram derrotados nas três tentativas pelos gregos graças a uma grande frota naval que os atenienses haviam construído com o principal propósito de se defenderem.

Após terminar a guerra, à diferença do que costumava acontecer com outros povos, um simples homem, chamado Heródoto, viajou pelo mundo inteiro às suas custas entrevistando pessoas e conhecendo locais, apenas para escrever um livro contendo para a posteridade a história das guerras dos gregos contra os persas. Seu livro, intitulado A História de Heródoto, em estilo fluente e cativante, era lido em praça pública em Atenas tal como há pouco tempo também se ouviam as novelas pelo rádio.

Acabadas as guerras contra os persas, Atenas não desmontou a sua frota. Em vez disso, utilizou-a para montar um imenso império comercial entre a cidade de Atenas e uma série de cidades chamadas colônias, fundadas pelos gregos pelo mar mediterrâneo maios ou menos nos locais ou nas proximidades de onde tinham se instalado séculos antes os povos micênicos. Atenas assim tinha colônias comerciais na Grécia Anatólia (Turquia), na Fenícia (Líbano), nas Ilhas do mar Egeu, na cidade de Siracusa na Sicília, na cidade de Nápoles na Itália, originalmente chamada Neapolis, nome que em grego significa Nova Cidade, e no sul da França, território na Antiguidade conhecido como Gália, a cidade de Marselha, também de fundação grega.

Nesta época governou a cidade de Atenas durante longos anos o grego Péricles. Foi a época de maior prosperidade entre os gregos, também conhecida como época de Péricles. Esta prosperidade não foi apenas material. Foi nesta época que apareceram os grandes arquitetos gregos, os grandes escultores, como Fídias, os grandes autores de peças teatrais, clássicas até hoje, como Ésquilo e Aristófanes. Todas as cidades gregas tinham teatros públicos em que se representavamconstantemente peças teatrais acompanhadas de corais em que se abordavam os grandes problemas da época. Elas representaram para o povo grego aquilo que a televisao representa para o mundo de hoje.

Foi nesta época que entrou em Atenas o primeiro filósofo, chamado Anaxágoras. Até aquele momento a filosofia somente se tinha desenvolvido na Grécia Anatólia, originalmente, e no sul da Itália, por obra de Pitágoras. Anaxágoras entrou em Atenas vindo da Anatólia, fixou residência durante algumas décadas na cidade e teve como discípulo ao próprio Péricles, até ter sido expulso da cidade por um julgamento popular. Somente alguns anos mais tarde entraria novamente um filósofo em Atenas, na pessoa de Parmênides e Zenão de Eléia, estes vindos não da Anatólia, mas do sul da Itália, discípulos de alunos das escolas pitagóricas.

As guerras contra os persas se deram por volta do ano 490 AC. A prosperidade que se seguiu à vitória durou quase um século, durante a segunda metade da qual Péricles governou Atenas. Por volta do ano 400 AC a cidade de Esparta, com receio do poderio ateniense, começou uma guerra que se estendeu durante cerca de 30 anos entre Esparta e Atenas e ficou conhecida com o nome de guerra do Peloponeso.

Por inacreditável que possa parecer, os atenienses que haviam conseguido derrotar três vezes ao Império Persa, praticamente uma cidade contra o resto do mundo, perderam a Guerra do Peloponeso diante da cidade de Esparta, basicamente pela submissão das decisões da guerra à votação democrática que tinha se tornado lei na cidade. Tal como na guerra anterior, que teve em Heródoto seu historiador, a guerra do Peloponeso foi narrada em livro pelo general Tucídides, que em sua infância havia passado longas horas ouvindo em praça pública a narração dos livros de Horódoto pela boca de seu autor. Esta obra, a Guerra do Peloponeso, é considerada a obra de historiografia mais perfeita da Antiguidade.

Foi alguns anos antes da guerra do Peloponeso que entraram em Atenas, vindos do sul da Itália, dois filósofos chamados Parmênides e Zenão. Ambos travaram profundos debates com um jovem ateniense chamado Sócrates, homem pobre, filho de uma parteira. Pouco tempo depois, Parmênides e Zenão se retiraram da cidade. Sócrates lutou depois disso na guerra do Peloponeso. Finda a mesma, começou a fazer discípulos, entre os quais estava Platão, jovem rico da alta política de Atenas.

No ano de 399 AC Sócrates foi condenado à morte e Platão, seu principal discípulo, a partir daí abandonou Atenas e a vida pública, passando a viajar pelo mundo em busca de conhecimento. Visitou entre outros locais o Egito e as escolas italianas dos Pitagóricos. Voltou depois para Atenas e fundou, inspirado nas escolas pitagóricas, em um bosque comprado de um homem chamado Academo, a primeira escola de filosofia que existiu em território ateniense. Ficou conhecida como a Academia de Platão, por causa do nome a quem tinha pertencido o terreno.

Foi aluno da Academia durante duas décadas o filho de um médico da corte do Rei Felipe da Macedônia, o jovem Aristóteles. Quando da morte de Platão, Aristóteles abandonou a Academia e fundou uma segunda escola de filosofia em Atenas, chamada Escola Peripatética, por causa das aulas que eram dadas em pórticos. Tanto a escola acadêmica como a peripatética não iriam morrer com os seus fundadores; quando da morte de Platão e Aristóteles, os alunos escolheram um sucessor dentre eles para estes mestres e desta maneira ambas as escolas duraram séculos. A Academia de Platão, em particular, durou quase um milênio.

Mas, dizíamos, Aristóteles era filho de um médico da corte do rei da Macedônia. Quem eram os macedônios? Era um grupo de povos que viviam ao norte da Grécia em uma região montanhosa. O rei Felipe havia lutado quase por uma vida inteira para unificá-los sob o seu comando. Para o seu filho Alexandre, porém, tinha ambições ainda maiores. Informado pelo seu médico Nicômaco da sabedoria de Aristóteles, seu filho, mandou-o vir de Atenas para ser educador de Alexandre. Após a morte de Felipe e terminada a educação recebida por Aristóteles, Alexandre conquistou toda a Grécia, inclusive Atenas e Esparta, e preparou- se para conquistar o mundo.

Tomou Alexandre depois da Grécia todos os portos da costa mediterrânea da Pérsia, um após outro. Tomou depois o Egito. Sua intenção era poder depois atacar a parte principal da Pérsia localizada na Mesopotâmia sem que ela pudesse atacar por mar os gregos pela retaguarda.

A batalha final foi em Dardanelos, na qual a Pérsia foi vencida. Alexandre, o Grande, agora era senhor do mundo conhecido na época, desde a Grécia até a fronteira com a Índia.

Pouquíssimo tempo depois, porém, Alexandre morreu vítima de uma simples febre. O príncipe herdeiro, ainda bebê, foi morto assim como toda a família de Alexandre pelos generais que começaram a disputar o trono. Nenhum deles, porém, conseguiu ficar com o império todo que Alexandre havia conquistado. Ptolomeu ficou com o Egito, Seleuco com o Oriente, Antígono com a Síria e a Turquia, Casandro com a Macedônia. Mais tarde Antígono foi derrotado militarmente e os seleucidas ficaram também com a Síria.

O resultado final foi a divisão do mundo inteiro em monarquias de reis greco-macedônios.

O resultado, porém, que mais nos interessa deste processo político foi o resultado cultural.

A primeira conseqüência cultural deste processo foi que a língua grega se tornou a língua universal de todo o Oriente. Em todas as cidades importantes começaram a surgir escolas de grego. Foram abertos teatros onde se apresentavam peças gregas,ginásios de esporte se espalharam por estas cidades e adquiriu-se o gosto pelas obras de arte no estilo grego. Os poetas, os filósofos e os historiadores gregos passaram a ser lidos em todo o Oriente e na língua original. A cultura grega, muito superior e mais elaborada do que tudo quanto existia no mundo da época começou a se impor emtodo lugar. No Egito foi construída em Alexandria a maior biblioteca do mundo antigo, com acesso aberto ao público. Em outras palavras, o que ocorreu no Oriente como conseqüência das conquistas de Alexandre foi o processo de helenização do mundo oriental, sendo este período da história conhecido, por causa disso, com o nome de período helenístico.

Este processo aconteceu também com o povo judeu que habitava na Palestina. eles começaram a aprender o grego e a se esquecer do hebraico. Nesta época, os últimos livros da Bíblia, tais como o Livro da Sabedoria e os Livros dos Macabeus, foram escritos em grego e não em hebraico. O rei Ptolomeu do Egito convidou também neste período 70 rabinos judeus para virem até Alexandria, capital do Egito, traduzir o Velho Testamento do hebraico para o grego. Esta tradução, inicialmente feita a pedido e para a leitura do rei Ptolomeu, acabou se tornando mais comum entre os judeus do que o próprio original hebraico. Foi a primeira tradução da Bíblia de que a história tem notícia, chamada, por causa de seus autores, de Versão dos Setenta ou Septuaginta.

Os judeus tiveram que sofrer muito sob o reinado dos governantes grego macedônios que dominavam a Palestina. Ao contrário dos reis da dinastia dos Ptolomeus do Egito, que com tanta reverência mandaram vir ao seu país os sábios judeus para traduzirem as Leis de Moisés e os Escritos dos Profetas, os reis sob cuja jurisdição ficava a Palestina viam com desprezo os costumes e as leis hebraicas. As perseguições que o povo judeu teve que sofrer nesta época são narradas nos dois livros dos Macabeus, que não sem razão se iniciam contando resumidamente a vida de Alexandre, o Grande, de como o mundo inteiro veio a cair sob o domínio dos gregos e do governo dos generais de Alexandre.

Foi nesta época que começou a entrar em cena no palco dos acontecimentos mundiais a terceira das civilizações que compuseram a nossa atual, a civilização romana.


III




A história de Roma se inicia por volta do ano 750 AC com a lenda de Rômulo e Remo.

Havia nesta época uma cidade, na região do Lácio, na Itália central, chamada Alba a Longa. Esta cidade era governada por dois irmãos, um dos quais viria a ser o avô de Rômulo e Remo. Um destes irmãos, querendo governar sozinho, expulsou o outro e matou toda a sua família exceto uma de suas filhas, chamada Reia Silvia. Mais tarde Reia Silvia deu à luz duas crianças gêmeas. O tio, agora governante único de Alba a Longa, com medo de futuramente perder o trono, colocou os dois bebês em um cesto e os jogou no rio Tibre. Esperava que a correnteza os arrastasse para o mar onde morreriam afogados. Entretanto, uma forte ventania que se iniciou subitamente pouco depois disso, soprando em direção contrária à do curso do rio, fez com que o cestinho acabasse encalhando na margem do rio a uma pequena distância de onde tinha sido abandonado. O choro das duas crianças atraiu a atenção de uma loba, que passou a amamentá-las e delas cuidou como uma mãe.

Quando os dois gêmeos cresceram, receberam o nome de Rômulos e Remo. Posteriormente, vieram a saber quem realmente eram e qual havia sido a sua história. Voltaram à cidade de Alba a Longa, mataram o tio avô e reconduziram o avô ao trono. Se tivessem tido um pouco mais de paciência, como príncipes herdeiros que eram, teriam reinado também eles sobre Alba a Longa. Mas o fato foi que não quiseram esperar para serem reis. Voltaram ao lugar onde muitos anos antes o cestinho havia encalhado e resolveram fundar ali uma nova cidade na qual eles fossem os reis. Tiraram a sorte e resolveram chamar a cidade pelo nome de Roma em homenagem a Rômulo.

Escolhido o local e o nome da futura cidade, os dois irmãos traçaram um sulco no chão para assinlar os limites da cidade, construíram um pequeno muro sobre este sulco e juraram matar quem quer que o violasse.

Remo, porém, possivelmente ainda aborrecido por não ter a cidade recebido o seu nome, achou que estes muros não eram sólidos, e com um pontapé derrubou um pedaço deles. Para sua desgraça o pontapé foi desferido logo após os dois irmãos terem jurado matar quem violasse os limites da nova cidade. Rômulo julgou, pois, que era de seu dever assassinar o irmão, o que fez com um golpe de pá, tornando-se assim o primeiro rei de Roma.

Tudo isto teria acontecido no dia 21 de abril do ano 753 AC, ano que ficou sendo o ano zero da fundação de Roma. A partir daí os romanos passaram a contar o tempo em anos AUC, ou `Ab Urbe Condita', isto é, desde a fundação da cidade. Cristo, assim, teria nascido no ano 753 AUC, isto é, 753 anos após a fundação da cidade de Roma.

Durante aproximadamente 250 anos Roma foi governada por sete reis, sucessores de Rômulo. Por volta do ano 500 AC foi proclamada a república e Roma passou a ser governada teoricamente por três instituições:

  • Dois cônsules,
  • o Senado,
  • a Assembléia Popular.

Vamos explicar rapidamente como funcionavam estas três instituições, pois isto é muito importante para a compreensão do que se segue.

Os dois cônsules eram eleitos pela Assembléia Popular para um período de apenas um ano.

Na Assembléia Popular votavam todos os cidadãos, mas não por cabeça, e sim por centúrias. Como porém as centúrias dos ricos eram menores em número de pessoas do que as centúrias dos pobres, havia mais centúrias de ricos do que centúrias de pobres e, portanto, eram eleitos cônsules sempre pessoas da classe rica. Depois de um ano de mandato, os cônsules passavam a fazer parte automaticamente do Senado pelo restante de suas vidas.

O senado não tinha teoricamente poder algum. Este nome, isto é, senado, vem da palavra latina `senex', que significa velho. O senado, como o próprio nome indicava, deveria ter sido, teoricamente, apenas um conselho de homens vividos e experientes. Sua função deveria ter sido apenas a de dar conselhos aos cônsules. Quem tomava as decisões na república eram os cônsules, mas tinham que submeter todas as decisões mais importantes para serem votadas na assembléia popular. Assim, pelo menos na teoria, quem mandava na república era a assembléia popular.

Na prática, porém, nenhum cônsul jamais se atreveria a submeter à assembléia popular nenhum assunto sem antes consultar o senado, e muito menos se atreveria a não seguir o conselho dos senadores. Portanto, quem governava de fato na política romana não eram nem os cônsules nem a assembléia popular, mas o senado constituído de aproximadamente 300 pessoas por mandato vitalício. Esta forma de governo é conhecida como aristocracia; não é a monarquia, que é o governo de um só, nem a democracia, que é o governo de todo o povo, mas um governo de poucos e, teoricamente, escolhidos entre os melhores e mais sábios dos cidadãos.

Além desse sistema especial de governo, a outra base da força do povo romano era o seu exército. O exército não era composto por militares de carreira, mas por todos os cidadãos da república, pobres e ricos, que custeavam seus equipamentos bélicos cada qual com os seus próprios recursos. O exército era convocado pelo cônsul sempre que necessário. O voto dos cidadãos na assembléia popular, conforme dissemos, era dado não por cabeça, mas por grupos de homens denominados centúras, as quais eram as unidades do exército romano. Os cidadãos mais pobres só podiam custear equipamentos de guerra mais baratos, daí que geralmente lutavam como soldados de infantaria; já os cidadãos ricos iam armados a cavalo, com equipamentos mais sofisticados. Por causa disso, uma centúria de cidadãos ricos de menos homens era considerada equivalente a uma centúria de cidadãos pobres com maior número de soldados e é por este motivo que nas votações da assembléia popular, apesar de haver mais pobres do que ricos, o número de centúrias de ricos era maior do que o número de centúrias de pobres. Com este exército os romanos conquistaram toda a Itália e depois toda a região ocidental do Mediterrâneo, isto é, a África do Norte, o sul da França, na época chamada Gália, a Espanha e Portugal, na época chamadas Ibéria e Lusitânia.

Este sistema de governo provou ser o mais perfeito da antiguidade e, enquanto não se corrompeu, fez fama, tendo sido até mesmo nomeado das Sagradas Escrituras.

De fato, logo após a conquista de Alexandre do mundo oriental, Roma foi conquistando progressivamente toda a parte ocidental das terras banhadas pelo mar Mediterrâneo. Quando os judeus se viram oprimidos pelos reis greco macedônios que dominavam a Síria e o Oriente Médio, ouvindo falar da fama dos romanos, mandaram embaixadores a Roma fazer um pacto que garantisse a ajuda militar dos romanos contra o rei Antíoco que os dominava. No oitavo capítulo do Primeiro Livro dos Macabeus assim é narrado o fato, que ilustra com as palavras da época a fama que os romanos difundiam no mundo de então:

"Entrementes,
chegou aos ouvidos de Judas Macabeu
a fama dos romanos,
de como são fortes e poderosos,
como favorecem em tudo
aqueles que propendem para eles,
fazendo aliança de amizade com todos
os que recorrem a eles,
e assim crescendo em poder.
Contaram-lhe as guerras
e as valorosas proezas que tinham realizado,
e o que fizeram na Espanha,
e como subjugaram todo este país
com a sua prudência e constância,
apesar de estar este país muito distante do deles.
Os outros reinos e ilhas que alguma vez
se lhes opuseram,
destroçaram-nos e reduziram-nos à servidão;
com os seus amigos, porém,
e com os desejosos de seu apoio,
mantiveram amizade
e estenderam seu poder sobre os reis,
quer vizinhos, quer distantes,
de modo que todos os que ouviram pronunciar
o seu nome ficaram atemorizados.
Sentam no trono aqueles
a quem querem ajudar a reinar
e depõem os que eles querem;
tão poderosos chegaram a ser.
Não obstante isso,
nenhum deles cingiu o diadema,
nem se vestiu de púrpura com o que se pavonear,
mas constituíram um Conselho
em que diariamente trezentos e vinte conselheiros
discutem assiduamente os negócios públicos
para o seu bom andamento.
Confiam por um ano a um só homem
o comando e o governo de todos os seus domínios,
e a ele todos obedecem,
sem haver entre eles inveja e rivalidade.

Então Judas Macabeu escolheu Eupólemo,
filho de João, e Jasão, filho de Eleasar,
e mandou-os a Roma
para estreitar amizade e aliança com eles,
e para sacudir o jugo,
visto como a dominação dos gregos
mantinha Israel na servidão.

Foram, de fato, a Roma,
viagem longuíssima,
e, tendo entrado no Senado,
falaram nestes termos:

`Judas,
também chamado Macabeu,
e seus irmãos,
e o povo dos judeus
nos enviaram a vós,
para estreitar aliança e paz convosco,
para sermos inscritos como confederados
e amigos vossos'.

A proposta foi acolhida favoravelmente,
e celebraram um acordo escrito
que gravaram em lâminas de bronze
que enviaram a Jerusalém
para que lá ficasse como testemunho
de amizade e aliança".

1 Mac 8,1-22

O que aconteceu com os romanos depois disso foi um dos processos de transformação política mais importantes a serem examinados num curso de história; aqui nós somente o poderemos relatar em suas linhas gerais.

Conforme falamos acima, nesta época o exército romano era composto de todos os cidadãos, ricos e pobres, que se armavam cada qual às suas próprias custas para a guerra e era convocado pelo cônsul sempre que necessário. Foi este exército que conquistou para os romanos toda a região ocidental do mediterrâneo e espalhou sua fama por todo o mundo. Ora, à medida em que os romanos se iam tornando donos do mundo ocidental da época, a riqueza começou a crescer e surgiu à vista o perigo dos cidadãos se corromperem, principalmente os líderes máximos da política, os componentes do Senado, passando a julgar as decisões a serem tomadas não mais segundo os interesses da República, mas segundo os seus próprios interesses.

Para evitar isto, e num exemplo de rara honestidade para os dias de hoje, inicialmente o próprio Senado fez aprovar uma lei proibindo os senadores de se dedicarem a atividades de alto lucro. Durante algum tempo esta medida evitou que a corrupção chegasse àquele órgão.

A medida não pôde evitar, porém, que a corrupção chegasse a outros lugares. Ela não evitou, por exemplo, o aparecimento de uma classe de novos ricos, que poderiam ter sido os senadores, que se dedicassem à exploração de latifúndios, isto é, grandes propriedades de terra produzindo, mediante o trabalho escravo, uma grande quantidade de gêneros agrícolas, como o trigo e o azeite de oliveira. À medida em que estes latifundiários foram tomando conta da agricultura, os pequenos proprietários, que eram a maioria dos cidadãos romanos e a parte principal do exército, foram empobrecendo, sendo progressivamente obrigados a vender suas terras aos grandes proprietários e caindo definitivamente na miséria ou na escravidão. Isto acontecia justamente na época em que os romanos se tornavam os donos do mundo ocidental e mais precisavam de um exército forte.

Ora, é evidente que uma multidão de miseráveis não tem interesse em morrer pela pátria e mesmo que tivesse, não teria dinheiro para custear suas despesas pessoais no exército.

Começou, portanto, a ficar evidente que, se era necessário um exército forte para manter o poderio romano no ocidente, este novo exército teria que passar a ser custeado pelos novos ricos. Mas, se isto acontecesse, a república fatalmente iria cair nas mãos dessa nova classe de indivíduos.

Ora, antes que pudesse ser tomada uma decisão definitiva quanto a uma possível reorganização do exército, por volta do ano 200 AC os irmãos Tibério Graco e Caio Graco, tribunos da plebe, exigiram uma reforma agrária imediata. Ambos foram assassinados e, em vez da reforma agrária, o que veio foi uma sangrenta guerra civil no mundo romano.

Nesta época ficou evidente que a República Romana não poderia continuar existindo sem a presença de um exército permanente constituído de soldados profissionais que fossem, ele próprios, uma classe à parte dentro da sociedade romana. Tal exército foi constituído, e veio a ser de fato uma nova classe dentro da República.

Quando isto ocorreu, porém, e não poderia deixar de ter ocorrido, emm pouco tempo o senado percebeu que o perigo da República não era mais o de cair nas mãos dos ricos latifundiários, mas o de todos os romanos, inclusive os ricos proprietários, cairem nas mãos do poder militar.

Por causa desse perigo, embora no início o exército fosse permanente, o senado tomava o cuidade de não nomear para o seu comando generais de carreira, mas senadores que ocupavam temporariamente estes altos postos.

Com o tempo, porém, e com o aperfeiçoamento do exército, os soldados passaram a recusar obediência a generais que não eram verdadeiros militares, mas apenas políticos que vinham comandá-los durante algum pequenos espaço de tempo. A contragosto o senado teve que nomear generais mais ou menos permanentes para o exército.

Durante a guerra civil, estes generais começaram a se dar conta de que a luta entre os poucos detentores da riqueza e o partido democrático, isto é, a massa dos cidadãos romanos empobrecidos, poderia em breve se tornar um problema secundário quando o primeiro general que conquistasse a confiança geral do exército resolvesse tomar o poder.

No século seguinte, por volta do ano 50 AC, começou a ficar claro que havia surgido um homem que reunia as condições necessárias para dar o golpe. Chamava-se Júlio César, um senador que apoiava abertamente a causa do partido democrático. Para afastá-lo do centro político da época, que era a própria Roma, lhe foi confiado o cargo de general no exército da fronteira nos confins da Gália, atual sul da França, cargo este que Júlio César aceitou de muito bom grado.

Júlio César aproveitou o cargo e com seu exército conquistou para a República Romana todo o restante do norte da França, a Bélgica, a Suíça, a Alemanha e metade da Inglaterra. Seu modo de agir, o respeito que tinha pelos seus soldados, a admiração e ao mesmo tempo a inveja que sentia por Alexandre o Grande que os relatos da época nos contam, sua coragem, verdeira, mas muitas vezes apenas ostensivamente encenada, conquistaram-lhe o devotamento quase incondicional do seu exército.

Uma história da juventude de Júlio César ilustra bem as qualidades que ele mais tarde iria desenvolver como general nas Gálias; esta história é narrada pela maioria dos biógrafos antigos de Júlio César; tal como está nestas notas, é adaptada da biografia de César devida a Alfred Duggan.

Quando ainda jovem, com cerca de 23 anos, sem ainda ter ocupado nenhum cargo político de importância, Júlio César dirigiu-se à Ásia para estudar Retórica, a arte de bem falar e escrever, com um famoso professor da época, Apolônio Molo, que também foi professor do famoso Cícero. Chegou a Mileto onde embarcou em um navio que se dirigia à ilha de Rodes, residência de Apolônio.

Ao atravessar de Mileto para Rodes, foi capturado por piratas, que reconheceram imediatamente o valor do prisioneiro, um jovem aristocrata romano, acompanhado por dez escravos e um médico particular. Oito escravos foram despachados de volta para Mileto a fim de negociar um resgate, enquanto que César, seu médico e dois outros escravos ficavam retidos em uma ilha sob a guarda dos piratas.

César esperava a morte com tortura se não voltassem seus escravos com o resgate. O problema era que sua família não tinha a riqueza correspondente à sua posição de nobre; talvez nem na Itália ele possuísse o dinheiro que os piratas pediam pelo resgate, mas em Mileto, onde os escravos tinham ido buscá-lo, César não possuía absolutamente nada. Em face, porém, do perigo de morte, passou a comportar-se com aquela coragem fabulosa, quase febril, que o tornou mais tarde o ídolo de seus soldados.

Os piratas haviam pedido 20 talentos pela vida de César; um talento era na época dinheiro bastante para assegurar o conforto de toda uma família. César respondeu que ficava indignado que um nobre como ele tivesse tão baixa cotação e para espanto dos piratas ofereceu 50 talentos como valor de sua pessoa. Acrescentou, porém, que depois de haver honestamente readquirido sua vida, pagando por ela, voltaria à caça de seus raptores e não descansaria enquanto não assistisse à execução deles. Os piratas acharam engraçadíssima a piada do jovem estudante de retórica, e enquanto aguardavam a chegada do tesouro deram a César permissão para andar livremente pela ilha.

César, porém, não perdia a arrogância. Observava os piratas em exercícios com suas armas e criticava-lhes a incompetência. Sabia que sua vida estava por um fio e divertia-se naturalmente pondo à prova seus raptores e levando-os ao limite da paciência. Como estudante de retórica, muitas vezes compunha textos em verso e prosa; pedia que não o perturbassem quando ele estivesse escrevendo e conseguiu realmente impor este desejo aos piratas. Depois então punha-se a entreter os piratas com a leitura de seus escritos. Como estes dessem mostras de tédio, passava a repreendê-los dizendo que não passavam de uns bárbaros, incapazes por causa de seu baixo ofício de apreciar o estilo grego. Diante disso, continuava César, ele, que tinha pensado seriamente em não mais vir a executar seus companheiros até que agradáveis, vendo porém como não sabiam dar valor a estas coisas, também não mereciam atulhar a face da terra, e afinal de contas tinha que concluir estar de acordo com o fim próximo que os aguardava. Os piratas continuavam achando divertidíssima toda esta basófia.

Como os escravos de César conseguiram o dinheiro foi uma coisa obscura. Os Césares não eram considerados ricos em roma, mas, por outro lado, era evidente que o jovem tinha talento político; se viesse a atingir altos postos, certamente morreria como todos cheio de dinheiro. A Ásia estava cheia de emprestadores de dinheiro e de agiotas; talvez consideraram ser a vida de César um bom negócio e emprestaram a alta importância do resgate.

Posto em liberdade, César foi para Mileto. Nunca havia ocupado qualquer posição oficial, mas era cidadão romano de família de senadores. Lá chegando, verificou que Mileto não tinha forças armadas próprias, e a guarnição romana mais próxima estava longe. No porto havia apenas umpunhado de navios mercantes; César requisitou-os com os seus dotes oratórios como voluntários para caçar os piratas, e não faltou quem se apresentasse.

Lá foi ele, com seus navios, diretamente à ilha dos piratas, onde os encontrou, com a incorrigível incompetência que tantas vezes lhes havia censurado, ainda na enseada celebrando sua façanha e contando o dinheiro. Caiu sobre eles de surpresa, colocou-os a ferro e os levou para a cidade de Pérgamo, a cidade mais próxima em que havia uma fortaleza romana.

Chegando a Pérgamo, nova surpresa; o comandante não estava, ausente em uma campanha militar, ao que parece para caçar os mesmos piratas que Júlio César havia capturado, em poder dos quais havia-se espalhado o boato de que haveria 50 talentos.

Em vista da ausência da autoridade militar, Júlio César, sem ser oficialmente ninguém, ordenou que os criminosos fossem crucificados; como, porém, ele pessoalmente achasse que esta espécie de morte fosse horrivelmente penosa e, afinal de contas, Júlio César devia alguma coisa aos piratas por lhe terem permitido certo conforto no cativeiro, mandou que lhes cortassem as gargantas antes de o pregarem às cruzes.

Punir implacavelmente e evitar sofrimento desnecessário, uma e outro coisa viriam a ser típicas do realismo de César.

Sua justiça não conhecia a misericórdia, mas nunca se desviava de seus objetivos para a tortura ou o despreza inútil. E isto era visto na época como um sinal de humanidade, muito maior de que grande parte das outras outoridades militares da época era capaz de possuir.

Mortos os piratas, que fez Júlio César? Tomou os 50 talentos de volta e pagou àqueles que lhe tinham emprestado o dinheiro. Do restante dos bens que tinham os piratas não ficou com nada, distribuiu tudo entre os voluntários que o tinham ajudado a capturá-los. Nesta história toda, um jovem havia feito guerra e condenado criminosos sem autoridade legal alguma; era uma surpreendente e inacreditável usurpação de poder; mais surpreendente ainda, porém, foi que ninguém reclamou e obteve os elogios de todos.

A narrativa deste episódio mostra bem as qualidades que fizeram do futuro general Júlio César o delírio de seus soldados nas Gálias. Mas, tal como está contada nestas notas, é mais do que uma simples curiosidade. Nesta historinha da juventude de Júlio César está descrita no fundo toda uma personalidade que, juntamente com a situação política da época, permitiu a um homem quase desprovido de recursos, relegado ao trabalho de vigiar uma fronteira distante, em poucos anos se tornar o senhor do mundo e transformar a república romana num império sob o comando perpétuo de um só homem.

Personalidades deste tipo, porém, são como moedas de duas faces; conforme veremos, assim como ela seria em grande parte responsável pelas vitórias de Júlio César, veio mais tarde a ser responsável também pela sua morte prematura.

Continuando, porém, nossa história, mortos os piratas, de Pérgamo Júlio César embarcou novamente para Rodes onde passou alguns anos aprendendo a arte da retórica; nenhum pirata ousou causar-lhe quaisquer novos transtornos; usou posteriormente seu talento adquirido nestes anos de estudo não só como orador, mas também como escritor, redigindo ele próprio em livro a narrativa de suas guerras de conquista no norte da Europa sob o título de A Guerra da Gália, ou, como é mais conhecido no original latino, De Bello Gallico; este livro veio a se tornar, juntamente com as obras de Cícero, o principal clássico da língua latina, até hoje estudado por todos aqueles que desejam aprender esta língua na sua forma considerada mais perfeita.

Mais tarde, ouvindo falar destas vitórias de César nas Gálias, o senado romano temeu, e enviou uma intimação a Júlio César ordenando a sua volta a Roma e declarando extinto o prazo de seu generalato. Júlio César aceitou a ordem de retornar a Roma, mas não a extinçao do generalato. Fez questão de voltar a Roma acompanhado de seu exército, e os senadores amedrontados não só tiveram que aceitá-lo como general, como também nomeá-lo cônsul vitalício da república romana.

César passou a governar a república romana como se fosse um rei, embora não tivesse tal título. Em sua época ou pouco antes os romanos conquistaram toda a parte oriental do Mediterrâneo, isto é, a Grécia, a Ásia, o Egito e o norte da Arábia. Destruíram também em caráter definitivo todas as frotas de piratas que infestavam o Mediterrâneo, o qual assim se tornou seguro e facilmente navegável por quaisquer barcos comerciais e de transporte. Pouco antes de César tornar-se cônsul vitalício Pompeu havia invadido a Palestina e conquistado o povo judeu para a República Romana. Muitos judeus foram deportados para a cidade de Roma, onde acabaram formando uma grande colônia, e outros emigraram para cidades gregas, onde estabeleceram sinagogas em suas principais cidades.

Júlio César poderia ter governado sabiamente a república romana se tivesse procurado fazê-lo de comum acordo com o senado, coisa que esta instituição teria tolerado de bom grado. Em vez disso, porém, preferiu governar com manifesto desprezo pelos senadores e com medidas frequentemente ostensivamente humilhantes para a instituição senatorial. O resultado que acabou colhendo foi que, poucos anos depois, ao entrar no recinto do senado, uma multidão de senadores, entre os quais se achava o seu filho adotivo Brutus, o apunhalou impiedosamente.

Depois de vários acontecimentos, o poder acabou passando para Otávio, também filho adotivo e herdeiro de Júlio César, o qual de uma certa forma estabeleceu um pacto com os senadores pelo qual passaria a governar Roma de comum acordo com o senado e em troca o senado lhe conferiria o título de Príncipe, Imperador e Augusto. Roma assim deixava de ser um república e passava a ser um império. Foi nesta época do Imperador Otávio César Augusto que, no outro lado do mundo de então, sem fazer alarde, Jesus Cristo nasceu em um estábulo de Belém de Judá. O imperador queria saber as proporções do império que havia herdado; pela primeira vez na história ordenou um recenceamento completo de toda a população dos domínios romanos, mandando que cada um se cadastrasse em sua cidade de origem. Foi assim que José, esposo de Maria, encaminhando-se para Belém, sua cidade natal, para cadastrar-se, foi surpreendido pelo nascimento de Jesus sem que houvesse vagas nas hospedarias da cidade.

A partir do império de César Augusto, poucos anos antes do nascimento de Jesus, iniciou-se na história um período de alguns séculos conhecido como a paz romana. Devido à sabedoria com que era governado o império, e devido também ao domínio quase que total de todo o mundo conhecido, pela primeira vez na história cessaram as guerras quase que completamente.

Com o fim da pirataria no mar Mediterrâneo, facilitaram-se as comunicações entre todas as principais partes do império interligadas que estavam pelo Mediterrâneo. Os romanos ao conquistarem cada nova nação sempre respeitavam não só as leis próprias como inclusive os governantes que as regiam. Eles apenas acrescentavam às leis locais outras leis romanas e aos governantes locais outro governador nomeado por Roma que era responsável pelo exército na região, pela arrecadação dos impostos e pela execução de algumas leis especiais, como os julgamentos em que era dada a sentença de morte, que somente poderia ser sentenciada pelo representante de Roma. Este sistema foi geralmente tão benéfico para ambas as partes que houve diversos casos de reis que, ao morrerem, deixavam em testamento seu reino não aos seus herdeiros, mas aos romanos.

Em relação às línguas faladas no Império Romano, devido à conquista anterior de Alexandre do mundo do Oriente, da Grécia para o leste falava-se universalmente o grego.

Devido às conquistas romanas na região ocidental do mediterrâneo, da Itália para o oeste e no norte ocidental da África falava-se principalmente o latim.

Na própria cidade de Roma, onde tudo se centralizava, falava-se correntemente tanto o latim como o grego. Houve inclusive o costume das crianças ricas em Roma serem educadas desde a primeira idade por escravas gregas que lhes ensinavam a língua grega antes que os seus pais lhes ensinassem a língua latina. Quando, por volta do ano 60 depois de cristo São Paulo escreveu uma carta aos romanos, escreveu esta carta em grego e não em latim. O Evangelho de São Marcos, escrito também na cidade de Roma para ser lido pelos cristãos romanos, foi também escrito no original em grego, e não em latim, embora com muitas expressões e modos de dizer típicas da língua latina e não da grega. Vê-se, desta forma, como as duas principais línguas do mundo desta época eram o latim e o grego, e o íntimo contato que tinham estas línguas na capital romana; é precisamente destas duas que mais tarde viria a formar-se a nossa língua portuguesa, cuja maioria das palavras vem do latim, do grego ou de ambas. Por exemplo, as palavras livro, navio, pão, jovem, mesa, céu, noite e tantas outras vêm diretamente do latim. As palavras igreja, telegrama, biblioteca, política, democracia, hierarquia, anjo, Deus, hidráulica, trigonometria, ética, pneu, física, geometria, pedagogia, quilômetro e tantas outras são palavras gregas. Já na palavra televisão, as duas primeiras sílabas vêm do grego, as duas últimas vêm do latim.

Ao imperador César Augusto sucedeu o imperador Tibério César. Sob o governo de Tibério, Jesus Cristo pregou o evangelho durante três anos, morreu crucificado e ressuscitou depois de três dias, enviando doze de seus discípulos para ensinarem sua doutrina a todo o mundo, unificado e em paz sob o poderio romano. Juntamente com a doutrina cristã estes apóstolos levaram ao conhecimento de todo o império as Escrituras Judaicas do Antigo Testamento.

Com isto surgiu a nossa civilização, que possui suas raízes simultâneamente na cultura hebraica, grega e romana.