VI

A Beleza do Movimento



1.

A divisão do movimento.

O movimento é de quatro modos: local, natural, animal, racional.

Dos quais, como de cada um não poderemos dizer muita coisa, percorreremos com brevidade um de cada vez.

2.

O movimento local.

Observa como no movimento local aparece a sabedoria do Criador. Pensa agora que fonte inesgotável não alimenta as águas que fluem incessantemente; de onde é trazido o movimento dos ventos; quem modera o infatigável curso dos astros; que, por meio de sinais, ordena ao Sol que desça nos invernos, e novamente faz com que suba nos verões; quem o conduz do Oriente ao Ocidente, e o traz de volta do Ocidente ao Oriente.

Todas estas maravilhas somente a Deus são possíveis.

3.

O movimento natural.

Que direi também do movimento natural?

Quem supões que faz surgir todas as nascentes, conduzindo como que de um oculto seio da natureza todas estas águas para germinarem ao ar aberto, e fazendo-as voltar novamente ao lugar de onde vieram? Maravilhas semelhantes aparecem em abundância aos observadores diligentes.

4.

O movimento animal.

Ao natural segue-se o movimento animal, que reside nos sentidos e nos apetites. Pensa, pois, como poderia ser aquele que fabrica o sentido de todos os viventes, cria-lhes o apetite e para cada um destes animais ordena o que devem apetecer e o quanto devem apetecer.

5.

O movimento racional.

O movimento racional, finalmente, consistindo nos feitos e nos conselhos, te encherá de admiração, se quiseres prestar atenção em quão inefável seja a sabedoria que curva ao arbítrio de sua vontade todos os feitos dos homens, todas as vontades, todos, finalmente, os pensamentos dos corações, e os ampara e modera de tal maneira que nada no universo poderá ser feito que ela própria, preceituando ou permitindo, não quereria que fosse feito para o decoro de suas obras.