TIMOR LESTE
- as pessoas não querem ver -





Timor Leste, 7 de Janeiro 1999.

Uma pequena ilha do Sudeste asiático, onde vivem pouco mais de 800.000 pessoas, em sua maioria católicas, conhecida como Timor Leste, foi ilegalmente invadida há mais de 20 anos pela vizinha e gigantesca Indonesia, em meio de um débil protesto da Organização das Nações Unidas e da infdiferença da maior parte do mundo.

Nestes dias, na capital Dili, milhares de timorenses se reuniram em um pacífico mas enérgico protesto diante do enviado especial da ONU, Jamsheed Marker, pedindo a libertação deste território anexado à força em 1975.

"Queremos um referendum", era a uníssona reivindicação da grande maioria do povo timorense diante do mundo, denunciando o duro e muitíssimas vezes brutal tratamento recebido por parte do exército indonésio ao longo destes anos.

Poucos dias antes Marker havia-se reunido con representantes do governo de Djacarta e com líderes locais, entre eles Monsenhor Carlos Ximenes Belo, Administrador Apostólico de Dili e prêmio Nobel da Paz, para avançar no processo de libertação. Monsenhor Belo recebeu o prêmio Nobel em 1996 precisamente pela sua defesa de Timor Leste contra as agressões e a ocupação ilegal por parte da Indonésia.

Paradoxalmente este novo capítulo na descarada ocupação de Timor Leste e a constante violação dos direitos humanos de numerosos timorenses pelas forças de ocupação ocorre quando se celebra o 50º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos por parte da Organização das Nações Unidas.

Em sua mensagem de saudação à ONU, depois de destacar o que a declaração tinha de positivo, SS. o Papa João Paulo II fazia notar que sua violação sistemática por parte de alguns governos fazia com que este documento requeresse uma mais sólida fundamentação em suas bases antropológicas e morais.

Timor Oriental foi originalmente uma colônia portuguesa até 1975, ano em que foi invadida no momento de sua independência pelo exército indonésio, que a anexou ilegalmente como seu 27º estado. A comunidade internacional recusou-se a reconhecer esta anexação e, de fato, a ONU reconhece atualmente a Portugal como a autoridade administrativa de Timor Leste. No entanto, a população de Timor Oriental, favorável à autodeterminação, está submetida a uma dura e constante repressão.

A população é de 854.000 habitantes, dos quais 85% são católicos. Somente nos primeiros 11 anos de ocupação morreram cerca de 200.000 timorenses em um obscuro capítulo que pertence à série dos trágicos holocaustos do século vinte. O governo de Djacarta forçou a migração de habitantes das ilhas adjacentes, em sua grande maioria de religião islâmica, à ilha de Timor. Foi suprimida a liberdade de expressão e muitos dos líderes locais, em sua maioria católicos, foram aprisionados. Durante os nove primeiros meses de 1997 contaram-se entre os seus habitantes 35 mortos, 81 feridos, 633 prisões e 134 desaparecidos.

As grandes potências não se limitaram a observar com indiferença a injusta anexação; a Grã Bretanha, de uma maneira sutil, vendeu entre 1982 e 1992 mais de duzentos milhões de dólares em armamento à Indonésia, e duplicou esta cifra em 1995.

Em relação à difícil realidade de seu povo, Monsenhor Belo dizia:

"Depois da entrega do Prêmio Nobel,
a situação não mudou.
Os habitantes não podem manifestar-se.
Quem luta pela independência
continua sendo perseguido.
Meus esforços estão orientados
para uma solução pacífica,
fruto do diálogo entre todos os interlocutores,
- Portugal, Indonésia e ONU -,
mas a Indonésia se mostra surda
a nossas reivindicações".

Mesmo assim, o Bispo denunciou a conversão forçada ao Islam dos órfãos das famílias católicas, mencionando que

"quinze de cada vinte
crianças católicas órfãs
são anualmente levadas para fora de Timor Oriental
onde lhes são mudados os nomes
e são educados no Islam".

Um motivo de esperança foi a queda recente do corrupto governo do presidente Suharto e o novo governo de Habibie, que ofereceu um "status especial" para a ilha e a libertação de alguns prisioneiros políticos. O "status especial" implica um regime autônomo com três restrições:

  • ausência de exército;
  • ausência de sistemas fiscais e
  • ausência de política externa autônoma.

Isto significa um govêrno autônomo, mas com a condição de fazer parte da Indonésia.

O recente pedido de referendum por parte do povo timorense manifesta o descontentamento com esta proposta. Mesmo assim, membros da Igreja destacaram que dita proposta somente poderia dar-se como uma possibilidade transitória tendo em vista o reestabelecimento da soberania que corresponde a Timor Oriental.

A situação deste país onde vivem mais de 700.000 católicos, anexados a um governo islâmico abertamente oposto à população e com uma política religiosa de proselitismo que viola a dignidade e os direitos humanos está muito longe de ser alentadora.

Diversos órgãos da imprensa disseram que a porposta da Indonésia só faz colocar em evidência a impossibilidade de resolver a questão, denunciando que por trás de uma aparente abertura, a repressão armada é ainda a forma principal de intervenção por parte do governo.

A falta de atenção da comunidade internacional, ao mesmo tempo em que evidencia um desinteresse pelos direitos humanos, é sinal de uma solução ainda distante. Assim, enquanto as grandes potências celebram os cinqüenta anos da Declaração dos Direitos Humanos, centenas de milhares de timorenses contunuam buscando a liberdade que lhes é devida como pessoas e como membros de um país soberano.

As informações constantes no texto acima foram veiculadas pela Agência Informativa Católica Argentina - AICA, entidade fundada pelo Episcopado Argentino em 1956 e dependente do arcebispado de Buenos Aires. A AICA é entidade membro da Federação Internacional de Agências Católicas (FIAC), da União Católica Internacional de Imprensa (UCIP) e da União Católica Latinoamericana de Imprensa (UCLAP). E-mail: info@aica.org Website: http://www.aica.org

VEJA NESTES LINKS O QUE
PODE SER FEITO

[Nota: em 2005 a maioria destes links não mais existia.
Consulte o site oficial do governo de Timor Leste:

http://www.gov.east-timor.org]