O PAI DEVE TRATAR SEU FILHO COMO OS PESCADORES AS PÉROLAS, OS PINTORES SEUS QUADROS E OS ESCULTORES SUAS ESTÁTUAS

21.

Disseste que as pérolas, no momento de se colher, são apenas água. Pois bem, se aquele que a colhe é esperto, põe em sua mão aquela gota de água e, fazendo-a girar sobre o vazio da mesma, a torneia de modo perfeito e a torna completamente redonda. E uma vez que tenha tomado uma forma, já não é possível dar-lhe outra. E é assim que, em geral, o tenro, como ainda não recebeu sua própria forma, presta-se a adotar qualquer uma que se lhe dê. Daí a facilidade com que se faz dele o que se quer. Mas o duro, como se da dureza tivesse recebido uma disposição peculiar, já não é fácil fazer perdê-la e passar para outra estrutura.

22.

Cada um, pois, de nós, pais e mães, pela maneira que vemos como os pintores e escultores trabalham tão esmeradamente seus quadros e estátuas, assim devemos cuidar destas maravilhosas esculturas, que são os filhos. Os pintores, com efeito, pondo-se diante da tela cada dia, a vão pintando convenientemente. E o mesmo fazem os que vão polindo a pedra, ora tirando o supérfluo, ora colocando o que falta. Assim, nem mais nem menos, fazei também vós: estais esculpindo esculturas. Todo vosso tempo há de ser consagrado a preparar para Deus estas maravilhosas estátuas. Cerceai o supérfluo e acrescentai o que falta, e examinai diariamente quais os ganhos que já têm sobre seu natural, a fim de aumentá-los, e que defeitos também lhes vêm da natureza, para corrigi-los.

E, antes de tudo, e com todo rigor, afastai deles todas as palavras de intemperança, pois esta paixão é a que mais prejudica a alma dos jovens. Ou, melhor, antes que o jovem chegue a conhecê-la pela experiência, ensinai-o a ser sóbrio, a vigiar, a velar pela oração e a pôr o sinal da cruz em tudo que diga ou faça.