DIGRESSÃO: QUE NOMES DEVEMOS COLOCAR NAS CRIANÇAS

46.

Em tempo me lembrei e agora me ocorreu outro pensamento, a propósito do nome. Que pensamento é este? Que despertemos neles, imediatamente, por seu próprio nome, zelo pela virtude. Ninguém tenha, pois, pressa em dar às crianças nomes de antepassados, do pai, da mãe, avô ou bisavô. Não. Ponhamos neles os nomes dos justos, dos mártires, dos bispos, dos apóstolos. O próprio nome há de ser para eles um motivo de fervor. Chame-se um Pedro, outro João ou nome de algum outro santo.

47.

E não me venhas com costumes gentis. Efetivamente não é pequena a vergonha e ridículo que em casa de cristãos se perpetuem costumes dos gentios, acendendo velas, observando qual se apaga primeiro, e outros costumes semelhantes, que não trazem dano de qualquer tipo para quem os praticam. Com efeito, não penseis que tudo isso são coisas fúteis e sem importância.

48.

Eu vos exorto, portanto, a que chameis vossos filhos pelos nomes dos santos. É natural que no princípio se fizesse de outra forma e se chamasse os filhos pelos nomes dos antepassados. Isso era como um consolo da morte, pois aquele que morria se imaginava viver no nome dos filhos. Porém, agora já não. Pelo menos vemos que os justos não chamam assim seus próprios filhos. Assim Abraão gerou Isaac. Jacó e Moisés não se chamaram como seus antepassados nem encontraremos nenhum dos justos que assim fossem chamados. Que exemplo e exortação à virtude não é o mero nome! E, efetivamente, não acharemos outro motivo para a mudança do nome, senão o de recordar a virtude:

"Tu",

disse,

"te chamarás Céfas, que significa Pedro".
Jo. 1, 42

Por que? Porque tu me confessaste (Mt. 16, 17-18).

"E tu te chamarás Abraão".

Por que?

"Porque serás pai de nações".
Gen. 17, 4 ss

E Jacó foi chamado Israel, porque viu a Deus (Gen. 32, 39). Por aqui, portanto, deve-se começar nosso esmero com os filhos e assim os deveremos educar.

49.

Portanto, como dizia,

"viu uma escada voltada para o céu e que chegava até ali...".

Entre, pois, o nome dos santos nas casas como o nome dos filhos, e assim se eduque não só o filho, mas também o pai, sempre que considere ser pai de um João, de um Elias, de um Jacó. Porque se o nome é escolhido com piedade e para honrar os antepassados; se preferirmos o parentesco com os justos ao invés de nossos avós, isso trará muito proveito para nós e para nossos filhos. Não penses que por tratar-se de coisa miúda, deixa de ter importância, pois é motivo de muita utilidade.

50.

Assim, como dizia, retornemos à história.

"Viu uma escada levantar-se;
procurou ser abençoado;
Deus lhe concedeu a benção;
caminhou em direção de seus parentes; foi pastor".

Logo lhe explicarás o referente à esposa e à volta, e muito proveito poderá a criança extrair disso tudo. Vê quanto ensinamento: Aprenderá a confiar em Deus; mesmo sendo de nobre família, não desprezará ninguém; não se envergonhará da pobreza, saberá sofrer pacientemente as dificuldades e muitos outros ensinamentos.