I.8.

Princípios extrínsecos do movimento.

Na Física de Aristóteles a matéria e a forma são os princípios intrínsecos necessários para explicar o movimento. No entanto, somente eles não explicam inteiramente como o movimento é possível. Para isto, devem ser acrescentados também outros princípios extrínsecos.

O primeiro princípio extrínseco que deve ser admitido para poder explicar- se o movimento é o que se chama de causa eficiente. A causa eficiente é a causa externa que produz efetivamente o movimento. Quando uma pessoa empurra uma mesa é ela a causa eficiente do movimento da mesa; quando a panela ferve, o fogo é a causa eficiente do aquecimento.

Segundo a Física de Aristóteles, tudo o que se move deve ser movido necessariamente por uma causa eficiente externa. Esta afirmação pode ser demonstrada do seguinte modo: o movimento, enquanto tal, implica em uma passagem do ser em potência ao ser em ato. Antes de iniciar-se o movimento o ente móvel está, no que diz respeito à forma para a qual tende o movimento, apenas em potência. O ente móvel, na medida em que está em potência, possui uma relação de possibilidade para com o ato que lhe será determinado pela forma, mas não possui ainda nenhuma determinação em ato que lhe será conferida pela forma. O desencadeamento do movimento, no entanto, já é um início desta determinação e pressupõe, portanto, que o processo desta determinação já tenha se iniciado. Não pode ter-se iniciado, porém, apenas pela potência, porque isto significaria que aquilo a que se chamava potência já possuía alguma determinação e que, portanto, não seria apenas potência. O movimento, por conseguinte, já teria se iniciado, ao contrário do que havia sido suposto. O início do movimento, portanto, já supõe uma primeira determinação da potência que não pode provir dela mesma. Esta primeira determinação, tendo características de ato, e não de potência, não podendo provir do próprio móvel, deverá vir de um movente externo que deverá possuir a determinação necessária para iniciar o movimento. Isto é, deverá provir de um movente externo que, ao contrário do móvel, esteja em ato. Portanto, nada pode mover-se a si mesmo, mas apenas por um agente externo em ato ao qual se chama de causa eficiente. Se não existisse a causalidade eficiente, apenas pela matéria e pela forma como princípios intrínsecos do ente movido, o movimento não seria possível.

Em alguns textos de Metafísica encontram-se demonstrações mais abreviadas para esta mesma proposição, tais como as seguintes:


A.

Nada se move senão aquilo que está em potência àquilo para o qual se move.

Algo só se move, porém, na medida em que está em ato, pois mover é conduzir algo da potência para o ato.

Portanto, da potência nada pode reduzir-se ao ato, senão por meio de algum outro ente em ato.


B.

Não é possível que a mesma coisa esteja simultaneamente em ato e potência segundo o mesmo aspecto.

Portanto, é impossível que, segundo o mesmo aspecto e segundo o mesmo modo, algo seja movente e movido, isto é, que mova a si mesmo.

Portanto, tudo o que é movido, deve ser movido por outro.