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Na Física de Aristóteles a matéria e a forma são os princípios intrínsecos
necessários para explicar o movimento. No entanto, somente eles não explicam inteiramente
como o movimento é possível. Para isto, devem ser acrescentados também outros princípios
extrínsecos.
O primeiro princípio extrínseco que deve ser admitido para poder explicar-
se o movimento é o que se chama de causa eficiente. A causa eficiente é a causa externa que
produz efetivamente o movimento. Quando uma pessoa empurra uma mesa é ela a causa
eficiente do movimento da mesa; quando a panela ferve, o fogo é a causa eficiente do
aquecimento.
Segundo a Física de Aristóteles, tudo o que se move deve ser movido
necessariamente por uma causa eficiente externa. Esta afirmação pode ser demonstrada do
seguinte modo: o movimento, enquanto tal, implica em uma passagem do ser em potência ao
ser em ato. Antes de iniciar-se o movimento o ente móvel está, no que diz respeito à forma
para a qual tende o movimento, apenas em potência. O ente móvel, na medida em que está em
potência, possui uma relação de possibilidade para com o ato que lhe será determinado pela
forma, mas não possui ainda nenhuma determinação em ato que lhe será conferida pela
forma. O desencadeamento do movimento, no entanto, já é um início desta determinação e
pressupõe, portanto, que o processo desta determinação já tenha se iniciado. Não pode ter-se
iniciado, porém, apenas pela potência, porque isto significaria que aquilo a que se chamava
potência já possuía alguma determinação e que, portanto, não seria apenas potência. O
movimento, por conseguinte, já teria se iniciado, ao contrário do que havia sido suposto. O
início do movimento, portanto, já supõe uma primeira determinação da potência que não
pode provir dela mesma. Esta primeira determinação, tendo características de ato, e não de
potência, não podendo provir do próprio móvel, deverá vir de um movente externo que
deverá possuir a determinação necessária para iniciar o movimento. Isto é, deverá provir de
um movente externo que, ao contrário do móvel, esteja em ato. Portanto, nada pode mover-se
a si mesmo, mas apenas por um agente externo em ato ao qual se chama de causa eficiente.
Se não existisse a causalidade eficiente, apenas pela matéria e pela forma como princípios
intrínsecos do ente movido, o movimento não seria possível.
Em alguns textos de Metafísica encontram-se demonstrações mais
abreviadas para esta mesma proposição, tais como as seguintes:
A.
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Nada se move senão aquilo que está em potência àquilo
para o qual se move.
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Algo só se move, porém, na medida em que está em ato,
pois mover é conduzir algo da potência para o ato.
Portanto, da potência nada pode reduzir-se ao ato, senão
por meio de algum outro ente em ato.
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B.
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Não é possível que a mesma coisa esteja simultaneamente
em ato e potência segundo o mesmo aspecto.
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Portanto, é impossível que, segundo o mesmo aspecto e
segundo o mesmo modo, algo seja movente e movido, isto
é, que mova a si mesmo.
Portanto, tudo o que é movido, deve ser movido por outro.
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