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Mas, se te agrada, suponhamos que teu filho não consiga nada
por intermédio dos outros, senão por si mesmo, e assim levemos um
desgraçado a sua presença e ante a tua, ou melhor, não ante a tua
presença, mas ante o imperador em pessoa. E vejamos quem poderá
ajudá-lo melhor na sua desgraça. E que seja o primeiro a
apresentar-se uma pessoa que tenha sofrido a mais dura calamidade que
se pode sofrer neste mundo, por exemplo, um pai que tem um filho
único e o perde na flor da idade. Não há juiz ou imperador, nem
ninguém neste mundo que possa aliviar em nada a desgraça deste pai,
muito menos tu; pois nada lhe podes dar que eqüivalha ao que foi
perdido. Mas o levemos a teu filho e em primeiro lugar aquela visão,
aquele hábito, aquele modo de vida servirão prontamente para
levantar-lhe o ânimo e convencê-lo a não dar importância às
coisas humanas; e logo, com as suas palavras, dissipará facilmente a
nuvem de tristeza do homem aflito. Se entrar, porém, em tua casa,
não fará senão aumentar a sua dor. Ao vê-la livre de desgraças,
em abundância de felicidade, com o herdeiro seguro, se acenderá cada
vez mais a sua ira; mas do deserto ele voltará mais manso e disposto
à resignação. Vendo, efetivamente, como teu filho desprezou tão
grande fazenda, tanta glória e esplendor, já não sentirá tão
vivamente a morte do seu. Como condoer-se de já não ter um herdeiro
para os seus bens, ao ver que outro menosprezou tudo isto? E
facilmente escutaremos suas palavras sobre filosofia, pois vão
acompanhadas da verdade das obras. Mas se tu te atrevesses a apenas
abrir a boca, não farias com isso senão enche-lo de tristeza maior,
pois tomarias as desgraças alheias como tema de especulação. Teu
filho, ensinando-o pelos fatos, o convencerá facilmente que a morte
não se diferencia de um sono. Não irá se entreter em ir enumerando
os pais que passaram pela mesma desgraça, mas o fará ver em si mesmo
como cada dia se exercita em morrer em seu corpo e se acha sempre
preparado para a morte e, fazendo mais acreditável a doutrina sobre a
ressurreição, o despedirá aliviado da maior parte do peso de sua
dor. Enfim, tanto as palavras do monge quanto a demonstração
através dos olhos consolarão melhor este pai aflito, do que todos
aqueles que o acompanham e o rodeiam nos seus banquetes.
A este curará deste modo. Pois, levemos, se te agrada, mais um,
que depois de uma enfermidade, perdeu os olhos. O que poderás fazer
em favor deste pobre cego? O monge, ao contrário, mostrando-lhe
que isto não é nenhum mal, pois ele mesmo vive trancado numa
minúscula cela e corre em direção a outra luz, em comparação à
qual considera trevas a presente, o ensinará a carregar generosamente
a sua desgraça. E a quem sofreu um dano serás capaz de convencer que
o leve resignadamente? De nenhuma maneira. O que irá acontecer é
que irás molestá-lo ainda mais, pois nunca vemos tão claramente
nossos males, como quando ressaltam em contraste com os bens alheios.
E passo por alto a ajuda da oração, que vale mais que tudo o que
disse, e a passo por alto porque estou agora falando contigo.
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