São João Crisóstomo
349 - 407 DC

CONTRA OS IMPUGNADORES
DA VIDA MONÁSTICA

DISCURSO TERCEIRO

A UM PAI CRISTÃO



INTRODUÇÃO

1.

Pois façamos ver também, a um pai cristão, que não deve fazer guerra aos que induzem seu filho a cumprir o que agrada a Deus. Na verdade, está prestes a resultar redundante este discurso, e irá suceder o inverso do que eu dissera antes. Disse na ocasião que a lei deste combate não me obrigava a lutar com um gentio, mas que Paulo, ao me mandar julgar unicamente os de dentro, me eximia de toda a luta contra os de fora. Mas agora, ao que me parece, tampouco estou obrigado a começar o presente combate, pois se já antes de meus argumentos era vergonhoso discutir com um cristão sobre isto, muito mais há de ser agora. Como não corar, efetivamente, um crente por necessitar de exortações em um ponto sobre o qual nada nos pode replicar um infiel?

Pois bem, vamos nos calar por isto e não abriremos a boca? De maneira nenhuma. Se houvesse alguém que nos garantisse o porvir e nos fizesse ver com evidência que ninguém daqui por diante viesse a cometer aqueles desaforos, seria bom que ficássemos em silêncio e jogássemos terra sobre o passado; mas como disto não temos nenhum fiador seguro, não há outro remédio, a não ser voltar para os nossos argumentos e exortações. E se nossa exortação chegar a quem sofre desta enfermidade, o remédio produzirá o seu efeito; e se não houver ninguém que esteja doente, teremos conseguido o que desejávamos. Os médicos, ainda depois de preparados os remédios para os enfermos, o que gostariam é de não ter que aplicá-los; e nós, pela mesma razão, o que pedimos a Deus é que nenhum dos nossos irmãos tenha necessidade da presente exortação; porém se acontecer o que Deus não deseja, não há de lhe faltar, como diz o provérbio, a segunda navegação.