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Pois bem, como com certeza desde o princípio não cantastes a
vossos filhos outra cantilena a não ser esta, não lhes ensinastes
outra coisa com isto, senão o que há de ser a causa de todos os seus
males, pois infundites neles os dois mais tirânicos amores: o amor ao
dinheiro, e o outro, que é mais perverso ainda, da glória vazia e
vã. Qualquer um dos dois é por si só o bastante para transtornar
tudo; mas quando estão os dois juntos, como duas torrentes que
confluem, na alma terna do jovem, arrasam todo o bem, pois arrastam
consigo tantos espinhos, tanta areia, tanta erosão, que deixam sua
alma estéril e infecunda para qualquer boa obra. Sobre isto podem nos
testemunhar os próprios escritores profanos e assim, a uma só dessas
paixões, sem aliança da outra, alguém chamou a acrópole ou
cidadela, outro a cabeça de todos os males. E se, isoladamente, é
acrópole e cabeça, o que será quando se juntar a outra paixão mais
grave e poderosa, isto é, a loucura da vaidade, e as duas caiam
impetuosas sobre a alma do jovem e se apoderem dela e nela lancem
raízes? Quem será então capaz de extirpar essa doença, ainda mais
quando os próprios pais, longe de trabalhar para arrancar plantas tão
más, dirigem todas as suas obras e palavras para que se consolidem e
afirmem? Quem será, pois, tão insensato que não desespere da
salvação de um jovem assim educado? Nós estaríamos contentes se a
alma que goza de discursos contrários a estes pudesse escapar da
maldade; mas quando não se propõe outro prêmio senão o dinheiro nem
outros modelos para imitações além de homens execráveis, que
esperança pode haver de salvação? Porque os que amam o dinheiro,
forçosamente hão de ser invejosos, mal intencionados, juradores e
perjuros, temerários, maledicentes, ladrões, desavergonhados,
descarados, ingratos; enfim, sínteses de todos os males. O bem
aventurado Paulo nos atesta isto quando chama a cobiça de raiz de
todos os males da vida (1 Tim 6,10); e antes de Paulo, o
próprio Cristo nos havia manifestado isto, ao afirmar que não é
possível servir a Deus aquele que se acha dominado por esta paixão
(Mt 6,24). Pois bem, se desde o princípio se leva o jovem a
esta escravidão, quando poderá ele ser livre, quando levantará a
cabeça dentre as ondas, se todos o puxam, todos estão empenhados em
afundá-lo e o põem em perigo de se afogar? Seria o bastante que
quando ninguém o perturbasse e muitos lhe estendessem a mão, pudesse
se levantar e olhar para a clara luz e limpar-se do salobre da
maldade; e, se por longo tempo encantado com canções divinas, tiver
forças para se defender das enfermidades que o agridem, esta façanha
merecerá mil louvores e coroas. O costume é uma coisa terrível;
digo, terrível para dominar e cativar uma alma, sobretudo quando esta
tem o prazer como aliado da paixão, e a outra a qual aspiramos e a
cujo porto temos pressa em chegar, nos traz preparados muitos
trabalhos.
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