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O teatro está superlotado; o povo todo está sentado ali,
oferecendo uma vista esplêndida, composta de tantas fisionomias que
muitas vezes alcançam o teto, e o próprio telhado superposto fica
escondido pelos corpos das pessoas. Não é possível ver uma telha
nem uma pedra, senão caras e corpos de pessoas em toda parte. E
entra então à vista de todos o homem ambicioso que ali os reuniu;
todos imediatamente ficam em pé e a uma só voz, como se fossem uma
só boca, além de lhe estenderem as mãos, o chamam em coro, como
benfeitor e protetor da cidade. Logo, conforme as coisas avançam, o
comparam ao maior rio, equiparando a magnificência e profusão do
espetáculo às águas do Nilo, e chamam o próprio
homem de Nilo de dons. E não falta quem, para bajulá-lo ainda mais,
considerando pouco o exemplo do Nilo e, afastando-se de rios e mares,
consideram o próprio oceano, e dizem que é oceano: o que o oceano é em águas,
isso é aquele homem em magnificência. Não há, enfim, elogio que
não lhe seja atribuído.
Esplêndida é a fisionomia da vanglória; porém recordai-vos, vos
rogo, da imagem da garota na qual representamos o demônio,
adornando-o com mil enfeites de ouro e colocando-o em idade de uma
rameira e vereis que não será muito diferente da imagem da realidade.
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