VIRTUDE MONÁSTICA. |
44. |
Enquanto Antão discorria sobre esses assuntos com eles, todos
se regozijavam. Aumentava em uns o amor à virtude, em outros
desaparecia a negligência, e em outros era reprimida a vanglória.
Todos prestavam atenção a seus conselhos sobre os ardis do inimigo,
e se admiravam da graça dada a Antão pelo Senhor para díscernir os
espíritos.
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45. |
Antão voltou como de costume à sua própria cela e intensificou as práticas ascéticas. Dia por dia suspirava na meditação das moradas celestiais (Jo. 14, 2), com todo anelo, vendo a breve existência do homem. Ao pensamento da natureza espiritual da alma, envergonhava-se quando devia dispor-se a comer ou dormir ou a executar outras necessidades corporais. Muitas vezes, quando ia compartilhar seu alimento com muitos outros monges, sobrevinha-lhe o pensamento do alimento espiritual e, rogando que o perdoassem, afastava-se deles, como que envergonhado de que outros o vissem comendo. Comia, certamente, por necessidade de seu corpo, e frequentemente em companhia dos irmãos, pertubado por causa deles, mas falando-lhes pelo auxilio que suas palavras significavam para eles. Costuma dizer que se deveria dar todo seu tempo à alma antes que ao corpo. Certamente, posto que a necessidade o exige, algo de tempo deve ser dado ao corpo, mas em geral deveríamos dar nossa primeira atenção à alma e procurar seu progresso. Ela não deveria ser arrastada para baixo pelos prazeres do corpo, mas este é que deve ser posto sob a sujeição da alma. Isto, dizia, é o que o Salvador expressou:
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ANTÃO VAI A ALEXANDRIA SOB A PERSEGUIÇÃO DO IMPERADOR MAXIMIANO (311). |
46. |
Depois disto, a perseguição de Maximiano, que irrompeu nessa época, abateu-se sobre a Igreja. Quando os santos mártires foram levados a Alexandria, ele também deixou sua cela e os seguiu, dizendo:
Tinha grande desejo de sofrer o martírio, mas não querendo
entregar-se, servia aos confessores da fé nas minas e nas prisões.
Afanava-se no tribunal, estimulando o zêlo dos mártires quando eram
chamados e escoltando-os quando iam para o martírio, ficando junto
deles até que expirassem. Por isso o juiz, vendo sua intrepidez e a
de seus companheiros e seu zelo nestas coisas, deu ordem para que
nenhum monge aparecesse no tribunal ou ficasse na cidade. Todos os
demais julgaram conveniente esconder-se esse dia; Antão, porém,
preocupou-se tão pouco com isso que lavou suas roupas e no dia
seguinte colocou-se à frente de todos, num proeminente, à vista e
paciência do prefeito. Enquanto todos se admiraram e o prefeito mesmo
o via, ao acercar-se com todos os seus funcionários, ele estava ali
de pé, sem medo, mostrando o espírito anelante próprio a nós
cristãos. Como expressei antes, orava para que também ele pudesse
ser martirizado, e por isso penalizava-se por não haver sido.
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O MARTÍRIO DIÁRIO DA VIDA MONÁSTICA. |
47. |
Quando finalmente cessou a perseguição e o bispo Pedro, de santa memória, sofreu o martírio, voltou à solidão de sua cela e aí foi mártir cotidiano em sua consciência, lutando sempre as batalhas da fé. Praticou uma vida ascética cheia de zelo e mais intensa. Jejuava continuamente, sua veste interior era de pêlo, e de couro a exterior, e a conservou até o dia de sua morte. Nunca banhou seu corpo, nem tampouco lavou seus pés, nem se permitiu metê-los ma água sem necessidade. Ninguém viu seu corpo nu até que morreu e foi sepultado. |
48. |
De volta à solidão, determinou um período de tempo durante o qual não sairia nem receberia ninguém. Então um oficial militar, um certo Martiniano, chegou a importunar Antão: tinha uma filha à qual o demônio molestava. Como persistia batendo à porta e rogando que saísse e rogasse a Deus por sua filha, Antão não quis sair, mas por sua janelinha lhe disse:
O homem foi, crendo e invocando a Cristo, e sua filha foi libertada do demônio. Muitas outras coisas fez também o Senhor por intermédio dele, segundo a palavra:
Muitíssima gente, que sofria, dormia simplesmente fora de sua cela, pois ele não queria abrir-lhes a porta, eram curados por sua fé e sincera oração. |
FUGA PARA A MONTANHA INTERIOR. |
49. |
Quando se viu acossado por muitos e impedido de retirar-se como era seu propósito e seu desejo, e inquieto pelo que o Senhor estava operando por intermédio dele, pois podia transformar-se em presunção, ou poderia alguém estimá-lo mais do que convinha, refletiu e foi-se para a Alta Tebaida, a um povo que o desconhecia. Recebeu pão dos irmãos e sentou-se à margem do rio, esperando ver um barco que passasse e no qual pudesse partir. Enquanto estava assim esperando, ouviu-se uma voz do alto:
Não se desorientou-se mas, ouvindo outras vezes tais palavras, contestou:
disse a voz,
"Mas", disse Antão,
De repente chamaram-lhe a atenção uns sarracenos que estavam a tomar aquele caminho. Aproximando-se, Antão lhes pediu para ir com eles ao deserto. Como por ordem da Providência, deram-lhe as boas-vindas. E viajou com eles três dias e três noites, e chegou a uma montanha muito alta, tendo ao pé uma água clara como cristal e muito fresca. Estendendo-se dali havia uma planície e algumas tamareiras. |
50. |
Como inspirado por Deus, Antão ficou encantado com o lugar
porque foi isto que quis dizer Quem falou com ele à margem do Rio.
Começou por conseguir uns pães de seus companheiros de viagem e ficou
sozinho na montanha, sem companhia alguma. Daí em diante olhou esse
lugar como se houvera encontrado seu próprio lar. Quanto aos
sarracenos, notando o entusiasmo de Antão, fizeram do lugar um ponto
em suas travessias, e estavam contentes de levar-lhes pão. Também
as tamareiras lhe davam uma pequena frugal mudança de dieta. Mais
tarde os irmãos, inteirando-se do lugar, como filhos preocupados por
seu pai, engenharam-se para enviar-lhe pão. No entanto, vendo
Antão que o pão lhes causava incômodo, pois tinham de aumentar o
trabalho que já suportavam, e querendo demonstrar consideração aos
monges também nisso, refletiu sobre o assunto e pediu a alguns de seus
visitantes que lhe trouxessem um enxadão, um machado e alguns grãos.
E desde então, como atemorizados com essas ordens, lá não voltaram mais. |
DE NOVO OS DEMÔNIOS. |
51. |
Assim esteve sozinho na Montanha Interior, dando seu tempo à
oração e à prática da vida ascética. Os irmãos que foram em sua
busca rogaram-lhe que lhes permitisse ir cada mês e levar-lhe
azeitonas, legumes e azeite, pois agora já era ancião.
como está escrito, mas em luta com os demônios. Também ali ouviram tumultos e muitas vozes e clamor como de armas. À noite viram a montanha encher-se de vida com animais selvagens. Viram-no também lutando como com inimigos visíveis, e orando contra eles. A um que o visitou falou-lhe palavras de alento enquanto ele próprio mantinha-se firme na contenda, de joelhos e orando ao Senhor. Era realmente notável que, sozinho como estava nesse despovoado, nunca desmaiasse ante os ataques dos demônios, nem tampouco, com todos os animais e répteis que havia, tivesse medo de sua ferocidade. Como está na Escritura, ele realmente
com ânimo inquebrantável e intrépido. Assim os demônios antes fugiam dele, e os animais selvagens fizeram paz com ele, como está escrito (Jó 5, 23). |
52. |
O mau pôs estreita guarda sobre Antão e rangeu os dentes contra ele, como o disse Davi no salmo (Sl. 34, 16), mas Antão foi animado pelo Salvador, não sendo danificado por essa vilania e sutil estratégia. Enviou-lhe animais selvagens enquanto estava em suas vigílias noturnas, e em plena noite todas as hienas do deserto saíram de suas tocas e o rodearam. Tendo-o no centro, abriam suas faces e ameaçavam mordê-lo. Ele, porém, conhecendo bem as manhas do inimigo, disse-lhes:
Enquanto Antão dizia isto, fugiram como açoitados pelo látego dessa palavra. |
53. |
Poucos dias depois, enquanto estava trabalhando, porque o trabalho sempre era parte de seu propósito, alguém chegou à porta e puxou a corda com que trabalhava. Estava fazendo cestos que dava a seus visitantes em troca do que lhe traziam. Levantou-se e viu um monstro que parecia homem até as coxas, mas com pernas e pés de asno. Antão fez simplesmente o sinal da cruz e disse
O monstro porém, com seus demônios, fugiu tão rápido que sua própria rapidez o fez cair e morrer. A morte do monstro veio a significar o fracasso dos demônios: fizeram o que puderam para que saísse do deserto e não o conseguiram. |
ANTÃO VISITA OS IRMÃOS AO LONGO DO NILO. |
54. |
Uma vez os monges pediram-lhe que voltasse para eles e passasse
algum tempo visitando-os e a seus estabelecimentos. Fez a viagem com
os monges que vieram a seu encontro. Um camelo ia carregado com pão e
água, já que em todo esse deserto não havia água, e a única
potável estava na montanha de onde haviam saído e onde estava a sua
cela. Indo a caminho, acabou-se a água, e estavam todos em perigo
quando o calor era mais intenso. Andaram buscando e voltaram sem a
encontrar. Estavam por demais fracos para poderem caminhar.
Lançaram-se ao chão e deixaram partir o camelo, entregando-se ao
desespero.
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OS IRMÃO VISITAM A ANTÃO. |
55. |
Depois de alguns dias voltou à sua montanha. Desde então muitos foram visitá-lo, entre eles muitos cheios de aflição, que arriscavam a viagem até ele. Para todos os monges que chegavam até ele, tinha sempre o mesmo conselho: pôr sua confiança no Senhor e amá-lo, guardar-se a si mesmo dos maus pensamentos e dos prazeres da carne, e não ser seduzidos por um estômago cheio, como está escrito nos Provérbios (Pr. 24, 15). Deviam fugir da vanglória e orar continuamente; cantar salmos antes e depois do sono; guardar no coração os mandamentos impostos nas Escrituras e recordar os feitos dos santos, de modo que a alma, ao recordar os mandamentos, possa inflamar-se ante o exemplo de seu zelo. Aconselhava-os sobretudo recordar sempre a palavra do apóstolo:
e a considerar estas palavras como ditas em relação a todos os mandamentos: o sol não se deve pôr não apenas sobre nossa ira, como sobre nenhum outro pecado. "É inteiramente necessário que o sol não nos condene por nenhum pecado de dia, nem a lua por nenhuma falta noturna, inclusive o mau pensamento. Para assegurar-nos disso, é bom ouvir e guardar o que diz o apóstolo:"
"Por isso, cada um deve fazer diariamente um exame do que fez de dia e de noite; se pecou, deixe de pecar; se não pecou, não se orgulhe disso. Persevere antes na prática do bem e não deixe de estar em guarda. Não julgue o próximo nem se declare justo a si mesmo, como diz o santo apóstolo Paulo",
"Muitas vezes não temos consciência do que fazemos; nós não o sabemos, mas o Senhor conhece tudo. Por isso, deixando a Ele o julgamento, compadeçamo-nos mutuamente e"
"Julguemo-nos a nós mesmos e, se nos vemos diminuídos, esforcemo-nos com toda a seriedade por reparar nossa deficiência. Que esta observação seja nossa salvaguarda contra o pecado: anotemos nossos atos e impulsos da alma como se tivéssemos de informar a outro: podem estar seguros de pura vergonha de que isto seja conhecido, deixaremos de pecar e de prosseguir com pensamentos pecaminosos. Quem gosta que o vejam pecando? Quem, depois de pecar, não prefereria mentir, esperando escapar assim de que o descubram? Assim como não quereríamos abandonar-nos ao prazer à vista de outros, assim também se tivéssemos de escrever nossos pensamentos para dizê-lo a outro, muito nos guardaríamos de maus pensamentos, por vergonha que alguém os soubesse. Que essa informação escrita seja, pois, como os olhos de nossos irmãos ascetas, de modo que, ao nos envergonharmos de escrever como se nos estivessem vendo, jamais nos demos ao mal. Modelando-nos desta maneira, seremos capazes de"
"para agradar ao Senhor e calcar aos pés as maquinações do inimigo". |
MILAGRES NO DESERTO. |
56. |
Estes eram os conselhos a seus visitantes. Com os que sofriam unia-se em simpatia e oração, e amiúdo e em muitos e variados casos, o Senhor ouviu sua oração. Nunca, porem, se jactou quando atendido, nem se queixou não o sendo. Sempre deu graças ao Senhor, e animava-se os que sofriam a ter paciência e a se aperceberem de que a cura não era prerrogativa dele nem de ninguém, mas de Deus só, que a opera quando quer e a favor de quem Ele quer. Os que sofriam ficavam satisfeitos, recebendo as palavras do ancião como cura, pois aprendiam a ter paciência e a suportar o sofrimento. E os que eram curados aprendiam a dar graças, não a Antão, mas a Deus só. |
57. |
Havia, por exemplo, um homem chamado Frontão, o riúndo de Palatium. Tinha uma enfermidade horrível: mordia continuamente a língua e sua vista ia se encurtando. Chegou à montanha e pediu a Antão que rogasse por ele. Orou e disse a Frontão:
Ele, porém, insistiu e ficou durante dias, enquanto Antão prosseguia dizendo-lhe:
O homem consentiu afinal e foi-se; e ao chegar à vista do Egito, sua enfermidade desapareceu. Sarou segundo as instruções que Antão havia recebido do Senhor enquanto orava. |
58. |
Uma menina de Busiris em Trípoli padecia de uma enfermidade terrível e repugnante: uma supuração nos olhos, nariz e ouvidos transformava-se em vermes quando caia no chão. Além disso tinha o corpo paralisado e seus olhos eram defeituosos. Seus pais ouviram falar de Antão por alguns monges que iam vê-lo, e tendo fé no Senhor que curou a hemorroísa (Mt. 9, 20), pediram-lhes licença para irem também com sua filha,e eles consentiram. Os pais e a menina ficaram ao pé da montanha com Pafnúncio, o confessor e monge. Os demais subiram, e quando se dispunham a falar-lhe da menina, ele adiantou-se e lhes falou tudo sobre os sofrimentos dela, e de como havia feito com eles a viagem. Então, quando lhe perguntaram se essa gente podia subir, não lhes permitiu e disse:
Em todo caso o milagre se realizou: quando desceram, encontraram os pais felizes e a menina em perfeita saúde. |
59. |
Sucedeu também que quando dois dos irmãos estavam em viagem para vê-lo, acabou-se-lhes a água; um morreu e o outro estava a ponto de morrer. Já não tinha forças para andar, mas jazia no chão esperando também a morte. Sentado na montanha, Antão chamou dois monges, que casualmente estavam ali, e os compeliu a se apressarem:
Foram-se os monges, acharam um morto e o enterraram. Ao outro fizeram-no reviver com água e o levaram ao ancião. A distância era de um dia de viagem. Agora, se alguém pergunta porque não falou antes de morrer o outro, sua pergunta é injustificada. O decreto de morte não passou por Antão, mas por Deus que a determinou para um, enquanto revelava a condição do outro. Quanto a Antão, o admirável é que, enquanto estava na montanha com seu coração tranqüilo, mostrou-lhe o Senhor coisas distantes. |
60. |
Noutra ocasião em que estava sentado na montanha, olhando para
cima, viu no ar alguém levado para o alto, entre grande regozijo de
outros que lhe saiam ao encontro. Admirando-se de tão grande
multidão e pensando quão felizes eram, orou para saber quem podia ser
este. De repente uma voz se dirígiu a ele dizendo-lhe que era a alma
do monge Amón de Nitria, que levou vida ascética até idade
avançada. Pois bem, a distância de Nitria à montanha onde Antão
estava era de treze dias de viagem. Os que estavam com Antão, vendo
o ancião tão extasiado, perguntaram-lhe o motivo e ele lhes contou
que Amón acabava de morrer.
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61. |
Noutra ocasião, o conde Arquelao o encontrou na Montanha Exterior e pediu-lhe somente que rezasse por Policrácia, a admirável virgem de Laodicéia, portadora de Cristo. Sofria muito do estômago e das costas devido à sua excessiva austeridade, e seu corpo estava reduzido a grande debilidade. Antão orou e o conde anotou o dia dessa oração. Ao voltar a Laodicéia encontrou curada a virgem. Perguntando quando se havia visto livre de sua debilidade, tirou o papel de onde anotara a hora da oração. Quando lhe responderam, imediatamente mostrou sua anotação no papel, e todos se maravilharam ao reconhecer que o Senhor a havia curado de sua própria doença no momento em que Antão estava orando e invocando a bondade do Salvador em seu auxílio. |
62. |
Quanto a seus visitantes, predizia freqüentemente sua vinda, dias e às vezes um mês antes, indicando o motivo da visita. Alguns vinham só para vê-lo, outros devido a enfermidades, e outros, atormentados pelos demônios. E ninguém considerava a viagem demasiado molesta ou que fosse tempo perdido; cada um voltava sentindo que fora ajudado. Ainda que Antão tivesse esses poderes de palavra e visão, no entanto suplicava que ninguém o admirasse por essa razão, mas admirasse antes ao Senhor porque Ele nos ouve a nós, que somos apenas homens, a fim de que possamos conhecê-lo melhor. |
63. |
Noutra ocasião havia descido de novo para visitar as celas exteriores. Quando convidado a subir num barco e orar com os monges, só ele percebeu um mau cheiro horrível e sumamente penetrante. A tripulação disse que havia a bordo pescado e alimento salgado e que o cheiro vinha disso, mas ele insistiu em que o odor era diferente. Enquanto estava falando, um jovem que tinha um demônio e subira a bordo pouco antes como clandestino, soltou de repente um guincho. Repreendido em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, foi-se o demônio, e o homem voltou à normalidade; todos então se aperceberam e que o mau cheiro vinha do demônio. |
64. |
Noutra vez um homem de posição foi a ele, possuído pelo demônio. Neste caso o demônio era tão terrível que o possesso não estava consciente que ia a Antão. Chegava mesmo a devorar seus próprios excrementos. O homem que o levou a Antão rogou-lhe que rezasse por ele. Compadecido pelo jovem, Antão orou e passou com ele toda a noite. Ao amanhecer, o jovem lançou-se de repente sobre Antão, empurrando-o. Seus companheiros indignaram-se diante disso, mas Antão acalmou-os, dizendo
E enquanto Antão dizia isto, o jovem voltou a seu estado normal; deu-se conta de onde estava, abraçou o ancião e deu graças a Deus. |
VISÕES. |
65. |
São numerosas as histórias, e além disso todas concordes, que os monges transmitiram sobre muitas coisas semelhantes operadas por ele. E no entanto não parecem tão maravilhosas como outras ainda mais maravilhosas. Uma vez, por exemplo, à hora de noa, quando se pôs de pé para orar antes de comer, sentiu-se transportado em espirito e, estranho é dizê-lo, viu-se a si mesmo como se achasse fora de si mesmo e como se outros seres o levassem aos ares. Então viu também outros seres terríveis e abomináveis no ar, que lhe embargavam o passo. Como seus guias oferecessem resistência, os outros perguntaram sob que pretexto queria fugir de sua responsabilidade diantes deles. E quando começaram eles próprios a pedir-lhes contas desde seu nascimento, intervieram os guias de Antão:
Então começaram a apresentar acusações falsas e como não as
puderam provar, tiveram de deixar-lhe livre a passagem.
Imediatamente viu-se a si mesmo aproximando-se-ao menos assim lhe
apareceu e juntando-se a si mesmo, e assim Antão voltou de novo a
realidade.
Aí está precisamente o poder do inimigo que peleja e trata de deter os que intentam passar. Por isto o mesmo apóstolo dá também sua especial advertência:
e
E nós que aprendemos isto, recordemos o que o mesmo apóstolo diz:
Paulo, porém, foi levado ao terceiro céu e ouviu
e voltou, enquanto Antão viu-se a si mesmo entrando nos ares e lutando até que ficou livre. |
66. |
Noutra ocasião teve o seguinte favor de Deus, quando sozinho na montanha e refletindo, não podia encontrar solução alguma a Providência lhe revelava em resposta a sua oração; o santo varão era ensinado por Deus com palavras da Escritura (Is. 54, 13; Jo. 6, 45; I Ts. 4, 9). Assim favorecido, teve uma vez discussão com alguns visitantes sobre a vinda da alma e que lugar teria depois desta vida. Na noite seguinte chegou-lhe um chamado do alto:
Ele saiu, pois distinguia os chamados que devia atender, e olhando para o alto viu uma enorme figura, espantosa e repugnante, de pé, que alcançava as nuvens; viu além disto certos seres que subiam como com asas. A primeira figura estendia as mãos, e alguns dos seres eram detidos por ela, enquanto outros voavam sobre ela, e havendo-a ultrapassado, continuavam sem maior incômodo. Contra eles o monstro rangia os dentes, alegrando-se porém pelos outros que haviam caído. Neste momento uma voz se dirigiu a Antão:
Abriu-se seu entendimento (Lc. 24, 45) e apercebeu-se de que
isto era a passagem das almas e de que o monstro que ali estava era o
inimigo, o invejoso dos crentes. Sujeitava os que lhe correspondiam e
não os deixava passar; mas os que ele não tinha podido dominar,
tinha que deixá-los passar fora do seu alcance.
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