CAPÍTULO II. PROVA-SE A PRIMEIRA PROPOSIÇÃO: QUE A MONARQUIA SIMPLES É MAIS EXCELENTE DO QUE A ARISTOCRACIA E A DEMOCRACIA.

Para que, portanto, comecemos pela primeira, não comparamos, neste lugar, a Monarquia com as formas de regimes mistos nem a antepomos a todos os regimes mistos e simples, mas aqui somente declaramos que, se alguma forma simples de regime necessariamente deve ser escolhida, sem dúvida essa forma é a Monarquia. Isto, porém, comprovamos por dois argumentos.

Primeiro: Convêm nesta sentença todos os velhos escritores hebreus, gregos, latinos, teólogos, filósofos, oradores, historiadores e poetas. Filão, no livro sobre a confusão das línguas, louvando a sentença de Homero, diz: "Aquilo de muitos imperarem é mau, seja o rei único para as cidades, que não pertence mais aos homens do que ao mundo e a Deus".

Da parte dos gregos, o bem aventurado Justino, na oração de exortação aos gentios, ensina ser nocivo o principado de muitos e, ao contrário, o principado de um só ser útil e salutar. De fato, o principado de um só está livre de guerras e disputas, e costuma ser livre. Também o beato Atanásio, na oração contra os ídolos, diz: "De fato, como a multidão de deuses dissemos ser a nulidade dos deuses, assim também é necessário que, na multidão dos príncipes, nenhum deles pareça ser príncipe; onde, porém, não há príncipe, ali nasce o distúrbio".

Entre os latinos, também nos ensina o bem aventurado Cipriano, que prova, no tratado da Vaidade dos Ídolos, ser fortíssimo que Deus é um só a partir do fato de que a monarquia é o melhor de todos os governos, é um regime ótimo e o mais natural. Diz: "Para o império divino, tomemos também emprestado o exemplo dos terrenos: como a sociedade do reino ou começou com a fé ou nunca cessou sem derramamento de sangue?". E o bem aventurado Jerônimo, na Epístola ao monge Rústico: "Um só imperador é juiz de uma só província. Roma, como foi fundada não pôde ter simultaneamente dois irmãos reis". Finalmente, S Tomás, na primeira parte da Summa Teológica, q. 103, art. 3, e no livro 4 de Contra os Gentios, cap 76.

Já dos filósofos, Platão, na República, depois da metade, diz: "Um só domínio para os bons, instruído pelas leis, e de todas elas a melhor lei é; aquele governo, no qual verdadeiramente não muitos imperam, devemos considerar como mediano; dos muitos restantes, (devemos considerar) a administração das coisas por todos débil ou enferma". Platão foi seguido por Aristóteles no livro 8 da Ética, capítulo 3. Depois que enumerou aquelas três formas de regime, acrescentou estas palavras: "Destas a melhor de todas é o reino, a pior de todas a República".

Sêneca, no livro 2 de Benef., diz: "Marcus Brutus não agiu de um modo suficientemente prudente ao matar Julio César com a esperança da liberdade." E, dando a razão, diz: "Já que o Estado mais excelente da cidade é estar sob um só rei justo".

Plutarco, porém, escreveu todo um opúsculo sobre a Monarquia e as outras formas de reger a multidão, no qual expressou a sua sentença. "Se a opção", diz, "de escolher tiver sido concedida, não escolha outra coisa senão a do poder um só". E novamente o mesmo Plutarco, em Sólon, dizendo terem-se originado em Atenas muitas sedições quando vigorava a Democracia, acrescenta, em seguida: "Há uma razão que parecia ser válida para a salvaguarda, a quietude e a ordem : se as coisas fossem entregues para serem dominadas".

Por parte dos oradores, Isócrates, naquele discurso que leva o nome de Nicocles, por muitas razões se esforça para provar isto mesmo. Porém, João Sobeus, no sermão 45 com este título, observou que "a Monarquia é mais bela". E nesse discurso produziu os testemunhos de Hesíodo, Eurípedes, Sirino, Ecfantes e de muitos outros para confirmar isto mesmo.

Heródoto, no livro 3 das suas Histórias que se chama Tália, tendo exposto a matança dos Magos, que ocuparam o reino da Pérsia, expõe também a disputa que entre os príncipes foi versada sobre a república que seria constituída. Disputa cujo resultado foi este: que diligentemente examinadas as sentenças daqueles que disputavam a favor da Aristocracia ou a favor da República (Democracia), com o consenso de todos exceto de um só, julgaram que a Monarquia seria a mais útil e a melhor. E por causa disso também a conservaram na Pérsia.

Finalmente, da parte dos poetas, Homero, no livro 2 da Ilíada, expõe aquela sentença celebrada por todos os escritores. "Não é bom o governo de muitos. Haja um só rei". A este testemunho de Homero, contrário ao qual, somente, entre tantos outros, fez objeção a sua sentença, responde Calvino, no livro 4 das Institutas, capítulo 6, parágrafo 8: "Fácil é, diz, a resposta: de fato, não neste sentido ou do Ulisses de Homero, ou de outros louva-se a Monarquia, como se uma só pessoa devesse reger toda a face do império; mas quiseram indicar que, no reino, dois não cabem e que o poder (como disse ele) é impaciente (no sentido de que não sofre a ação) do consorte".

E certamente, se foi fácil responder a Calvino, mais fácil para nós é refutar a sua resposta, porque ou nada disse, ou disse o que nós dissemos, ou disse o falso e, assim, se contradisse. Se, de fato, ao dizer "um só reino não comporta dois", a força enfatiza a palavra "reino" e quer dizer que o reino propriamente dito não comporta dois, já que o reino propriamente dito é a suma potestade de um só homem. Ou, então, não diz absolutamente nada, mas somente mostra a ambigüidade das palavras obscuras aos imperitos. Porque dizer nesse sentido "o reino não comporta dois" significa o mesmo que alguém dissesse "o regime de um só não é regime de dois", e "um só homem não são dois homens"; para um tal pronunciamento, em obra nenhuma consistia a sabedoria de Ulisses.

Se, porém, a ênfase não faz a força na palavra, mas o reino intelige a multidão que deve ser regida, então ele mesmo diz o que nós dizemos. Por isso, de fato afirmamos que a Monarquia antecede a República (Democracia) e a Aristocracia, porque a multidão não é regida comodamente por muitos, e o poder é impaciente do consorte.

Se, finalmente, ele quis que fosse entendido por reino não qualquer multidão, ou alguma única província, ou algum reino pequeno, de tal maneira que o sentido seja "a uma província deve-se atribuir um só rei", não sendo todavia o mesmo o julgamento de toda a face da terra, então ele diz o falso e contradiz a si mesmo, porque o livro de Homero não discute se a república se constitui em uma só província, mas ele prega para todo o exército dos Gregos que lutava em Tróia, exército no qual havia muitas nações, muitos príncipes e também alguns reis, e afirma não ser conveniente que toda esta multidão seja regida por muitos, mas apenas por um só. E assim, o sentido dessa celebérrima sentença não pode ser outro senão que em qualquer uma só multidão dever haver um só reitor primário: o que, de fato, tem um lugar idêntico no reino pequeno e nos impérios máximos. Com efeito, não se deve a um só reino exíguo um só rei porque aquele reino é exíguo, mas porque ele é um só.

Pelo que se algum reino amplíssimo, tal como foi o de Nino, Ciro, ou também Alexandre ou Augusto, for um só, dever-se-á a ele um só príncipe, e já que a Igreja é uma só, como diz Lucas I: "o seu reino não terá fim" , e Daniel, cap 2: "nos dias daqueles reinos suscitará Deus o reino dos céus que não deverá ser dissipado eternamente": por causa disso deverá ser governado por um só.

Ademais também luta consigo mesmo Calvino. Posto que não somente em toda a face da terra considera não ser útil a Monarquia, como também em uma só cidade ou igreja, como abertamente se entende no livro 4 das Institutas, capítulo 41 parte 6, onde todo poder eclesiástico atribui à Assembléia dos Anciãos. E no livro 4, cap 20, parágrafo 8, onde louva aquelas cidades em que derrubaram os príncipes e são governadas pelo povo e pelo senado, como é a República de Genebra, na Suíça, onde ele governava. Portanto, não deixando Calvino totalmente nenhum lugar à Monarquia, parecerá que ele tenha respondido bem a tantos e tão graves autores que louvam a sentença de Homero.

Outra razão é trazida pela autoridade divina, que mostra, de três modos, que a Monarquia é o governo mais excelente. Primeiro, pela instituição do gênero humano: Deus, de fato, fez o gênero humano a partir de um só, como diz o Apóstolo, no capítulo 17 de Atos: que, com efeito, não produziu o homem e a mulher a partir do barro, mas o homem a partir do barro, e a mulher a partir do homem. Expondo a causa disso, S João Crisóstomo, na homilia 34, sobre a epístola I Cor., capítulo 13, diz ser esta: para que houvesse entre os homens não a Democracia, mas o reino. De fato, se muitos homens tivessem sido produzidos a partir do barro, todos eles deveriam ter sido príncipes de modo igual em sua posteridade. Acerca do qual poderíamos duvidar merecidamente se a Deus agradaria o regime de um só. Agora, porém, tendo feito todo o gênero dos homens a partir de um só, que todos dependessem de um só, parece ter dito suficientemente que aprova mais o principado de um só do que o governo de muitos.

Então, indicou Deus a sua sentença quando não apenas nos homens, mas também praticamente em todas as coisas enxertou uma inclinação natural para o regime monárquico. Nem pode haver dúvida de que a propensão natural deve ser atribuída a Deus, autor da natureza. Declara, em primeiro lugar, ser o principado de um só maximamente natural, como em qualquer casa naturalmente pertence a um só pai de família o governo do cônjuge, dos filhos, dos servos e, finalmente, das demais coisas. Assim como a maior parte da face da terra é governada pelos reis. E, ademais, que os reinos são de longe mais antigos do que as repúblicas. No princípio das coisas, o império dos povos e das nações estava inteiramente em poder dos reis.

Finalmente, também pela natureza, os seres vivos carentes de razão parecem pedir o principado de um só. Assim, de fato, fala S Cipriano, no Tratado sobre a Vaidade dos Ídolos: "Um só rei para as abelhas, um só condutor para a grei e um só reino para as manadas". Acrescenta S Jerônimo, na Epístola a Rústico, que as aves seguem um só por uma ordem sábia. Calvino ri dessa razão no livro 4 das Institutas, cap. 6, par. 8. Ele diz: "Se Deus aprecia esta coisa, eles tomam a prova a partir das aves e das abelhas que a si sempre escolhem um só guia e não muitos. De boa vontade recebo o que os exemplos dizem, mas por acaso as aves se reúnem de toda face da terra para escolher um só rei? Nas suas colméias, elas se contentam com reis únicos e também assim ocorre com as aves. Cada bando possui seu rei próprio; o que mais se pode provar além do fato de que cada uma das igrejas deve escolher os seus próprios bispos?"

Mas facilmente pode-se refutar esta resposta de Calvino. Porque a Igreja é um só redil, diz João, capítulo 10, e não muitos redis. E também pode ser dita uma só colméia e um só rebanho. E, por isso, assim como há um só rei para as abelhas e as aves seguem um só guia por uma ordem sábia, assim deve toda Igreja ter um só e seguir um só condutor e doutor primário. Ademais, as aves e as abelhas não são de uma natureza tal que se possam unir por uma conjunção e copular com os animais ausentes e colocados ao longe e, por causa disso, não é de se admirar que elas não se reúnam de toda terra para escolherem um só rei; e pelo fato de que o rebanho de qualquer uma delas tem seu próprio rei, fica claro que o regime natural é o regime de um só.

Finalmente, se por estes exemplos levantados pelos mais sérios padres deduzimos, como diz Calvino, que cada igreja deve escolher os seus próprios bispos, por que o próprio bispo não recebe, nem que seja apenas pelo nome, o poder eclesiástico que, na realidade, ele atribui à Assembléia dos Anciãos?

Omitidas, porém, todas essas coisas, a forma de reino que Deus quis confirmar pela sua santidade pode-se entender também maximamente por isto, pela república que ele instituiu no povo dos Hebreus. De fato, como diz Calvino, o governo dos Hebreus não foi próximo à Aristocracia ou à Democracia, mas foi plenamente monárquico. Os príncipes dos primeiros Hebreus foram patriarcas, como Abraão, Jacó, Judas e os demais; depois condutores, como Moisés e Josué; depois juízes, como Samuel, Sansão e outros; depois reis, como Saul, Davi e Salomão. E, finalmente, condutores, como Zorobabel e os Macabeus.

Que os patriarcas tivessem sido revestidos de poder real indicam as coisas realizadas. Abrahão, no Gênesis, 14, conduziu a guerra contra quatro reis e não se lê ter recebido de nenhum senado o poder dos ótimos e nem ter ele consultado algum senado. Judas, no Gen. 38, tendo sido sua nora acusada de adultério, julgou pelo fogo e não consultou ou pediu a nenhum senado. Moisés, no Êxodo, 32, como verdadeiro e sumo príncipe do povo dos Judeus, por causa do bezerro de ouro que tinham erigido, em um só dia mandou matar muitos milhares de Judeus e não lemos que alguma consulta senatorial ou plebiscito tenha precedido essa decisão. A mesma coisa pode ser dita completamente dos juizes que, por nenhuma faculdade admitida pelo senado ou pelo povo, administravam guerras e davam a morte àqueles a quem queriam. Certamente Gedeão, no capítulo 8 dos Juizes, depois das vitórias dos Madianitas, matou 70 homens na cidade de Socó e derrubou a torre de Fanuel.

Ademais, que os reis e aqueles que os seguiram, os condutores dos Judeus, foram revestidos de suma e, portanto, da régia potestade é algo mais evidente do que seja necessário provar. Teria parecido, portanto, a Calvino, onde tiver lido, que a república dos Judeus costumeiramente teria sido governada pelos melhores e pelo povo, e não por um só príncipe.

Mas, talvez, objetar-se-á aquilo que temos no livro 1 dos Reis, capítulo 8, onde os israelitas são repreendidos por Deus por terem pedido um rei. Porque, se a Deus não aprouve instituir um rei para governar aquela república, como se pode crer que os condutores e os juízes tinham uma potestade régia constituída por Deus?

Respondemos: por dois modos alguém pode, com sumo poder, governar toda república: de um modo, como rei e senhor, que não depende de ninguém; de outro modo, como vice-rei ou condutor primário, que certamente está acima de todo povo, mas que, todavia, tenha que se submeter ao seu rei.

De fato, Deus já tinha instituído isto na república dos Judeus posteriormente, no tempo dos condutores e dos juízes, de tal maneira que fosse ele mesmo como que o verdadeiro e peculiar rei daquele povo; e, todavia, já que eles eram homens e necessitavam de um reitor visível a quem poderiam ir e consultar, colocou para eles um homem como um vice-rei que de nenhum modo fosse sujeito ao povo, mas somente ao verdadeiro Deus e rei. Isto é o que está escrito em Samuel 1, cap. 8: "Não se afastaram de ti, mas de mim, para que eu não reine sobre eles". E também é isso que ele diz ao Apóstolo no cap. 3 da Epístola aos Hebreus: "Moisés era fiel em toda sua casa como um servo".

Porém, porque os judeus, não contentes com este estado da república, quiseram ter aquele primeiro modo de rei, que não governasse todos ao modo de um só e que também fizesse condutores e juízes, mas que possuísse todo reino como seu e próprio, e aos filhos e aos netos como herança transmitissem, por causa disso merecidamente foram repreendidos e castigados pelo Senhor. Não, todavia, desgostou a Deus aquela cobiça do povo de ter o próprio rei, de tal maneira que os mandou aplicar a sua alma, em vez disso, em aderir à Democracia, ou aplicar o ânimo à Aristocracia; antes, ao contrário, ele mesmo, Deus, designou para eles um rei excelente e, depois, tanto o rei, como o reino deles, conservou e protegeu enquanto permaneceram no ofício.

Segue-se a última razão, que é tirada da lista de suas propriedades, as quais todos têm como reconhecido convir ao ótimo regime. E a primeira propriedade é a ordem, posto que o melhor governo é aquele que é mais ordenado; e que a Monarquia é mais ordenada que a Democracia e a Aristocracia pode ser demonstrado assim. Toda ordem está colocada nisto, que alguns presidam e outros se submetam; e não também entre iguais, mas entre superiores e inferiores. Onde, porém, existe uma Monarquia, ali todos inteiramente possuem alguma ordem, não havendo ninguém que não seja submetido a alguém, excetuado apenas aquele que administre o cuidado de todos. Por esta razão, na Igreja Católica, existe uma suma ordem, pela qual o povo está submetido aos párocos, os párocos aos bispos, os bispos aos metropolitanos, os metropolitanos aos primazes, os primazes ao sumo pontífice, e o sumo pontífice a Deus. Onde, porém, o governo é inteiramente dos melhores ou Aristocracia, o povo, de fato, tem a sua ordem, estando submetido aos aristocratas; mas os aristocratas entre si não tem nenhuma ordem. Muito mais, também, a Democracia carece de ordem, já que todos os cidadãos são considerados na república de mesma condição e autoridade.

A outra propriedade é a consecução do fim próprio. De fato, não pode haver dúvida de que a melhor forma de reger a multidão seja aquela que mais comodamente e mais facilmente alcança o fim proposto; o fim, porém, do governo é a união dos cidadãos entre si e a paz. União esta que parece estar colocada de uma maneira poderosíssima no fato de que todos sintam o mesmo, queiram o mesmo e sigam o mesmo. Isto muito mais certamente e muito mais facilmente obterão se tiverem que se submeter a um só do que a muitos; dificilmente, de fato, pode-se conseguir que muitos, dos quais um não depende do outro, julguem as coisas do mesmo modo. Assim, também, se forem muitos os que regem a multidão e um não impere sobre o outro, ou alguém não obedecerá a alguém, ou será necessário dividir o povo em várias ocupações; e, então, não poderá acontecer que ao ofício de um só pertença o imperar.

Confirma isso, também, o uso e a experiência que é mestra das coisas. Posto que, junto aos Romanos, quando estavam debaixo dos reis, lê-se que muito raras eram as distinções entre os cidadãos. Removidos, porém, os reis, sendo a república administrada por magistrados anuais, raro foi aquele ano em que não contendessem os patrícios com os plebeus. E, finalmente, as disputas entre os civis progrediram até um certo ponto em que, de uma certa forma sob as suas mãos, morreu aquela poderosíssima república. Chegou, finalmente, aquele sob o qual a cidade romana nunca experimentou maior e mais longa paz. Isto se deu sob o império de Augusto, que instituiu a primeira monarquia estável de Roma.

A terceira propriedade é a força e a potência da república.

Supera, pelo julgamento de todos, aos demais aquele governo que faz uma república mais potente e mais forte. É mais forte, porém, aquela república na qual maior é a união e a conspiração dos cidadãos entre si. As forças, de fato, unidas em si são mais fortes do que as forças dissipadas, e a maior união está mais onde todos dependem de um só do que onde dependem de muitos, como acima foi demonstrado. Portanto, a Monarquia faz uma república mais forte, e ela própria é a mais excelente forma de governo.

Acrescenta-se a experiência de que, dos quatro mais poderosos impérios, três cresceram debaixo de reis: o império dos Assírios, o dos Persas e o dos Gregos. Um outro é o dos Romanos, que cresceu sob o domínio do povo, mas também ele não pôde conservar-se, nas máximas perturbações, sem um ditador, isto é, sem um rei constituído durante algum tempo. E floresceu muito mais, depois, sob a Monarquia de Augusto do que jamais havia florescido no tempo da República.

A quarta propriedade é a estabilidade e a longevidade. De fato, não se pode negar que o melhor governo é aquele que é mais estável e mais longevo, e a Monarquia, de fato, é muito mais duradoura do que a Aristocracia ou a Democracia. Em se tratando da força externa, isso já foi demonstrado quando ensinamos que, sem dúvida, ela era mais forte.

Agora, falta demonstrar que, por não ser usada por nenhuma força externa, menos envenenada está a Monarquia pelos acasos e pela mutação do que nenhuma outra forma de governo. Isto, porém,se prova assim: todo reino dividido entre si será destruído, como diz Cristo em Mateus, 12. A Monarquia é mais difícil de ser dividida do que nenhuma outra forma de governo. Aquilo que, de fato, se divide menos facilmente é o que é mais uno. Ora, é mais uno aquilo que é simplesmente uno do que uma multidão que converge para um só. Aquela, de fato, é una per se e naturalmente, e nenhuma outra é tão una . Esta é una somente pela arte, mas por si e naturalmente são muitos. Portanto, a Monarquia, que depende de um só, menos facilmente será dividida do que a Aristocracia ou a Democracia, que dependem de uma multidão que se ajunta num só.

E aqui, admiravelmente, a Monarquia dos Assírios, desde Nilo até Sardanapalon, durou 1240 anos, como ensina Eusébio na Crônica, ou 1300, como se depreende do livro 1º de Justino, ou mais de 1400, como se vê no livro 2, capítulo 7 de Deodoro. Assim, portanto, durou esse reino, de tal maneira que, morto o rei, o sucessor do reino foi sempre o filho, se é verdadeiramente conforme escreve Valleius Pateculus no primeiro volume das histórias.

O reino, porém, dos Citas, que é tido por todos como antiqüíssimo, nem pôde ser destruído por nenhum inimigo externo, como ensina Justino no livro 2, nem por si foi dissolvido em nenhum tempo; pelo que foi necessário aquele reino ter permanecido de pé por alguns milhares de anos, e não houve, assim, nenhuma república que tivesse sido longeva e estável.

Certamente poderosíssima foi a República dos Romanos. E dificilmente conseguiu alcançar 480 anos, desde a expulsão dos reis e a Monarquia de Julio César. E sobre a Monarquia do oriente, de Julio até o ultimo Constantino, sem interrupção, durou 1400 anos. No ocidente, porém, desde o próprio Julio César até Augusto mais de 500, e desde Carlos Magno até o presente imperador foram 800 anos. Mas naqueles 480 anos, nos quais floresceu a Democracia, nem sempre do mesmo modo a república era regida. No início, de fato, os cônsules eram criados anualmente; depois de algum tempo, foram acrescentados os tribunos; então, removidos os cônsules e tribunos, foram criados os decêmviros; também eles rejeitados depois de um ano, novamente os cônsules e os tribunos foram introduzidos. E não raro introduziram ditadores e tribunos militares no seu poder consular. Assim, nenhuma forma única durou longamente e nenhum deles simultaneamente conseguiu chegar à idade dos nobres reinos.

Alguns objetariam, talvez, a república dos Vênetos (Veneza), que enumera em anos mais do que 1100. E nem ela chegou aos anos dos reinos dos Citas ou dos Assírios; ao contrário, nem ao dos Francos, de certo; e, além disso, não é a república de Veneza uma Aristocracia misturada com a Democracia, aquela forma que Calvino louva, mas uma Aristocracia misturada com a Monarquia, de tal maneira que, na sua cidade, não há lugar para a Democracia.

A quinta e última propriedade é a facilidade do governo. Muito, de fato, importa se facilmente ou dificilmente pode-se obter que uma sociedade seja bem governada. Mais facilmente pode-se provar que por um só corretamente uma cidade pode ser regida do que por muitos.

Primeiro: É mais fácil um só homem encontrar o bem do que muitos, de onde que mais facilmente os povos se ordenarão a um só do que a muitos.

Ademais, os magistrados, que por breve tempo administram uma república, são antes mais frequentemente obrigados a deporem a província do que terão conhecido completamente os negócios da republica. O rei, porém, que sempre está no mesmo ofício, ainda que de vez em quando seja de inteligência mais lenta, todavia, pelo uso e pela experiência está mais adiante do que muitos outros. Ademais, os magistrados anuais consideram como alheios os negócios da república e não como próprios. O rei, porém, considera o reino como algo seu e próprio, e mais facilmente e também com mais diligencia cuida das próprias coisas do que das alheias. Onde há muitos que reinam dificilmente pode-se fazer que estejam ausentes a emulação, a ambição e a contenda, pelo que não raramente costuma acontecer que alguns impeçam a outros e o façam de tal maneira que aqueles que administram em presença (em ato) a república administrem mal. E isso pelo fato de que uma maior glória vem a eles quando exercem a magistratura. Contudo, o monarca que não tem a quem invejar e com quem contender sobre o governo facilmente modera todas as coisas.

Finalmente, assim como acontece nas famílias, quando muitos servos são designados nos mesmos ministérios, não cuidam diligentemente desses negócios porque um deixa ao outro a província comum, assim também, quando há muitos príncipes na república, um olha para o outro, enquanto cada um rejeita o ônus para os colegas, ninguém satisfatoriamente usa de cuidado diligente para com a cidade. O rei, porém, que sabe que todas as coisas dependem apenas de si próprio cogita nada negligenciar e até aqui, de fato, está demonstrado que a Monarquia simples de longe está acima da simples Aristocracia.

Agora vamos nos aproximar para provar a segunda proposição.