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Mas se por acaso os exemplos estranhos não tenham tanta força,
vamos examinar a questão em teu próprio filho, e o acharemos agora
não só mais glorioso, mas que o é justamente por aquilo que dizes
ser vil e desprezível. Vamos, pois, se te agrada, persuadi-lo a
que desça do monte e se apresente em praça pública e verás como a
cidade inteira irá atrás dele e que todos lhe acenarão e se pasmarão
e se maravilharão, como se houvesse descido um anjo do céu. Ou tu
achas que a glória consiste em outra coisa? Na verdade, não só
parecerá teu filho mais ilustre que os que moram em palácios, mas
mais também do que o imperador com seu diadema, e isto será
justamente pelas suas roupas miseráveis e puídas. E é certo que
não causaria a todos tanta maravilha se se apresentasse coberto de ouro
e com manto de púrpura e com a coroa sobre sua cabeça, ou se sentasse
num palanque de seda, montasse lombo de mulas e se rodeasse de uma
guarda de lanceiros resplandecentes de ouro, como agora que está sujo
e esquálido, vestido com panos grosseiros, sem acompanhamento de
ninguém e com os pés descalços. Porque todo aquele aparato do
imperador é coisa estabelecida pelas leis e entra no cotidiano, e,
por isto, se alguém nos viesse contando vantagens porque viu o
imperador vestido com roupas de ouro, não só não nos admiraríamos,
mas riríamos de semelhante notícia, pois nada tem isto de
extraordinário. Mas venham e nos contem de teu filho que desprezou a
riqueza paterna e pisoteou a pompa mundana e, mostrando-se superior a
todas as esperanças humanas, se retirou ao deserto, e se vestiu com
uma capa imunda e miserável, isso sim, fará com que todos corram
para vê-lo imediatamente e os encherá de admiração e os obrigará a
aplaudir sua magnanimidade. Por outro lado, sendo infinitas as
acusações que se dirigem aos imperadores, suas roupas de ouro não os
defendem absolutamente nada contra elas. Tão distantes estão de
converte-los por si mesmos em seres admiráveis. O monge, ao
contrário, só em seu hábito, leva muitos motivos para que se o
admire. Logo, se ninguém admira o rei porque se veste de púrpura e
todos se maravilham do hábito do monge, segue-se que a túnica fará
mais ilustre e glorioso o teu filho que a púrpura o imperador.
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