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Assim, pois, estes são os males que transtornam a república
e são a pestilência do bem comum; estes são também para os outros a
causa de infinitas calamidades, perturbando a quem quer viver em paz,
trazendo-os em desassossego e destroçando-os de todas as formas;
para estes existem tribunais e se ditam leis e se inventam castigos e
torturas de toda a espécie. E como em uma casa onde há muitos
enfermos e poucos sadios se vê medicamentos por toda a parte e o entrar
e sair dos médicos, assim não há povo e não há cidade sobre a
terra em que não haja muitas leis, muitos governantes e muitos
castigos. Porque não bastam apenas os remédios para levantar o
doente, mas se requer alguém que os aplique, e cumprem esta função
os juizes que obrigam os enfermos, queiram ou não queiram, a tomar os
remédios. Porém a enfermidade se difundiu tanto que atacou também a
profissão médica, isto é, invadiu os próprios juizes. E acontece
a nós como se alguém, atacado ele próprio de febre, hidropisia e de
outros mil males ainda mais graves, não pudesse se livrar de suas
próprias enfermidades e se empenhasse em curar a outros dessas mesmas
enfermidades. E a inundação da maldade, rompendo como uma torrente
todos os diques, se derramou furiosamente nas almas dos homens.
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