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Se nisto obedecerdes a Deus, vossa glória será grande; mas se o
contrariardes e o desobedecerdes, o castigo será muito grave, pois
já não adianta refugiar-vos em nenhuma espécie de defesa, e nem
dizer que ninguém vos havia instruído sobre o assunto. Na verdade,
mesmo antes destes meus discursos tínheis já cortada toda a defesa,
pois a própria natureza distingue perfeitamente o bem e o mal, esta
filosofia é patente para todo o mundo e os males da vida presente já
são suficientes para empurrar para o deserto até os mais apegados a
ela. Digo, pois, que ainda que me calasse, não vos restaria defesa
possível; e muito menos agora depois de tão grandes argumentos e de
tão copiosa exortação, fundada às vezes na própria experiência,
e às vezes - que é motivo mais claro - nas Sagradas Escrituras.
Mesmo que fosse possível que permanecendo no mundo não se
corrompessem totalmente e alcançassem ao menos o último posto
salvando-se, nem ainda assim certamente escaparíamos ao castigo, por
tê-los impedido de abraçar a vida mais perfeita e haver retido nas
coisas da terra aqueles que ansiavam em voar para o céu; mas não
sendo isto possível, sendo de todo modo forçoso que se percam,
postos em perigo os interesses supremos, que perdão merecemos, que
defesa nos resta, atraindo sobre nós mesmos a mais grave
responsabilidade não só de nossos próprios pecados, mas dos que
depois disso cometerem nossos filhos? Porque eu não creio que eles
haverão de ser tão duramente castigados pelos pecados que cometerem
depois de terem perdido a sua vocação, arrastados ao torvelinho do
mundo, como nós que os colocamos neste transe. Se quem escandaliza a
um só merece ser lançado ao mar com uma pedra de moinho (Mt
18,6), qual será o castigo e o suplício suficiente para quem
cometer esta crueldade e desumanidade com seus próprios filhos?
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