I.2.

Fontes de referência fundamentais.

Conforme afirmamos, iremos nos basear ao longo deste trabalho nos textos filosóficos de Santo Tomás de Aquino. Por textos filosóficos não entenderemos aqui apenas as obras de S. Tomás cujos títulos afirmem explicitamente tratar-se de um trabalho filosófico; entenderemos por textos filosóficos todas aquelas passagens das obras de Santo Tomás de Aquino, qualquer que seja o seu título, em que haja algum argumento cuja validade não dependa necessariamente de algum princípio que somente possa ser conhecido por meio da Revelação.

Desta maneira, não serão apenas os Comentários de Santo Tomás às obras de Aristóteles que serão considerados textos filosóficos; todas as passagens, mesmo de uma obra como a Summa Theologiae, desde que contenham argumentos cuja validade não dependa necessariamente de um dado revelado, serão consideradas neste trabalho como textos filosóficos.

Para julgar, portanto, se um texto deve ser tido como filosófico não será relevante a presença ou a ausência de citações das Sagradas Escrituras; se a citação das Sagradas Escrituras for utilizada apenas como um exemplo, do qual independa o valor do argumento, o texto será considerado filosófico. Por este critério, a maior parte da Summa contra Gentiles, apesar das copiosíssimas citações de passagens das Escrituras, será, não obstante isso, uma obra filosófica. Já algumas passagens dos comentários a Aristóteles, por outro lado, poderão pelos mesmos critérios não ser considerados textos filosóficos.

Os principais textos de S. Tomás de que faremos uso serão, em primeiro lugar, os comentários às obras de Aristóteles, isto é, o Comentário aos Livros da Interpretação, o Comentário aos Segundos Analíticos, o Comentário à Física, o Comentário ao De Anima, o Comentário à Metafísica, o Comentário à Ética a Nicômaco, o Comentário à Política, e o De Ente et Essentia, que é como que um prolongamento do Comentário à Metafisica, embora, na ordem cronológica, o De Ente et Essentia seja um dos primeiros trabalhos de Tomás de Aquino, escrito muitos anos antes do Comentário à Metafísica. Em segundo lugar, as Quaestiones Disputatae e as duas Summae, a Summa contra Gentiles e a Summa Theologiae. Este conjunto pode ser considerado, de uma certa maneira, o próprio esqueleto da obra de S. Tomás de Aquino.

Mas, além destes, nos serviremos quando necessário de todas as suas demais obras, qualquer que seja a sua natureza; por exemplo, o Opúsculo sobre os Princípios da Natureza, as Quaestiones Quodlibetales, o Comentário ao Símbolo dos Apóstolos, o Comentário aos Livros das Sentenças, o Comentário ao Livro dos Nomes Divinos, o Comentário ao Livro do Profeta Isaías, etc.

Para evitar prolixidade desnecessária, as citações das obras de S. Tomás e de seus biógrafos originais serão dadas em forma abreviada, contendo apenas o nome da obra e a localização da passagem; na Bibliografia contida no final deste trabalho poderão ser encontradas as referências quanto à edição utilizada.

O mesmo deve ser dito a respeito das citações da Patrologia de Migne, uma obra de quase quinhentos volumes publicada no século passado na França contendo a quase totalidade dos escritos de autores cristãos desde o início do cristianismo até o início dos anos 1200 no Ocidente latino e até a queda de Constantinopla (1453) no Oriente grego. A obra é bastante conhecida e existente em todas as principais bibliotecas do mundo; será citada neste trabalho apenas como PL, isto é, Patrologia Latina, ou PG, isto é, Patrologia Grega.

Nas citações das Sagradas Escrituras, por existirem tantas e tão boas traduções em todas as línguas, excelentes edições críticas do original e até versões oficiais como as Vulgatas latinas, serão mencionadas apenas as localizações das passagens.