X.7.

Fé e graça.

Pelo que já expusemos sobre a fé, apesar de tratar-se de um conhecimento que alcança seu objeto movido pela vontade, pode-se perceber nela notáveis semelhanças com a contemplação da sabedoria descrita pelos filósofos. Diferenças mais marcantes começam a aparecer quando, examinado mais atentamente o conteúdo do que é proposto pela fé, somos levados a concluir que apenas a vontade não é suficiente para mover a inteligência ao assentimento da fé; de fato, se dependesse apenas da vontade, a fé seria impossível.

Vimos que a fé diz respeito a objetos que primam pela sua imaterialidade e que, por isso mesmo excedem o alcance dos sentidos e da imaginação, somente podendo ser alcançados pela abstração da inteligência. Examinando, porém, melhor o seu conteúdo, verificamos que a fé igualmente nos revela coisas a respeito deste objetos que estão para além do alcance da evidência não só dos sentidos, mas também da inteligência humana, ainda que ela possuísse o hábito da sabedoria tão perfeito quanto possível. Ora, se a inteligência é o que há de principal na natureza do homem, segue-se daqui que a fé diz respeito a coisas que ultrapassam a barreira do que é conatural ao homem, por mais que se leve a sua natureza aos limites de sua perfectibilidade.

Uma coisa é, de fato, que depois de anos de estudo se chegue à firme certeza de que existe um ser inteligente e imaterial que é a causa do ser de todas as coisas e que excede na perfeição de seu próprio ser a tudo quanto existe além dele; que a felicidade do homem consiste em assemelhar-se a esta causa primeira; e que ela dispôs todas as coisas de modo a favorecer aqueles que assim procedem. Outra coisa muito diferente, porém, são as afirmações da fé segundo a qual somos amados pela causa primeira como seus filhos; que quando oramos a causa primeira nos ouve como um pai; e que ela nos espera após o término desta vida como a um ente querido para nos fazer felizes por toda a eternidade. Não há número de anos de estudo que sejam suficientes para se chegar à evidência de afirmações como estas. Ao contrário, quem quer que tenha verdadeiramente considerado a natureza do ser da causa primeira tal como nos reporta a metafísica, diante da impossibilidade de se produzir uma evidência filosófica para estas afirmações, não pode deixar de se surpreender pela certeza com que são formuladas pela fé.

De fato, que é o ser humano diante da imensidão do Universo que não precisamos descrever? É menos do que um grão de poeira. E o que é o Universo inteiro diante da perfeição da causa primeira? Menos ainda do que o homem diante do Universo.

Certamente a causa primeira sustenta todas as coisas no ser e sabe, por ser inteligente, que existem as coisas de que ela é causa; mas daí para a afirmação de que quando oramos a causa primeira nos ouve como um pai vai uma diferença descomunal.

Que dizer, então, de afirmações segundo a qual Jesus Cristo era a causa primeira, crucificada por ordem de Pôncio Pilatos? Ou daquela segundo a qual na causa primeira, perfeitamente una, subsistem desde toda a eternidade três pessoas que compartilham uma só divindade, que se conhecem e se amam com uma felicidade que supera o alcance de qualquer entendimento?

Que esta causa primeira nos ame a ponto de ter se deixado crucificar pelos homens e que esteja nos esperando após o término desta vida não apenas para fazer nos felizes levando as possibilidades de nossa natureza intelectiva aos limites de sua perfectibilidade, mas comunicando-nos uma outra felicidade, não a máxima que é possível à nossa inteligência, mas a sua própria, aquela que há nela mesma em virtude da Trindade de suas pessoas, é algo muito maior e mais extraordinário do que se um homem qualquer, de um momento para outro, soubesse que tivesse herdado o Reino da Inglaterra ou mesmo o mundo inteiro. Não há, porém, vontade humana capaz de, sozinha, fazer a inteligência assentir a afirmações desta natureza com a firmeza e a constância que as Sagradas Escrituras atribuem à fé. Ninguém, por mais que o queira, a não ser que se trate de um louco, mas neste caso a sua fé não lhe trará nenhum proveito, será capaz de acreditar firme e perseverantemente ter herdado o Reino da Inglaterra se não tiver alguma evidência adicional de que tal fato realmente se deu. As afirmações da fé, entretanto, estão além dos sonhos mais extraordinários que o homem possa conceber, muito além da herança do trono da Inglaterra. É necessário, portanto, para crer realmente nestas coisas, algo a mais do que o simples movimento da vontade. Além da vontade humana, a coerência da doutrina sagrada e os milagres operados pelos profetas e por Cristo como confirmação destes ensinamentos, embora venham nisto em auxílio do homem, também não são suficientes: de fato, diz Tomás de Aquino, "dos que vêem um mesmo milagre e ouvem o mesmo ensinamento, um crê e o outro não" (27). Não é o que acontece diante de um teorema de matemática ou de uma lição de História. Este algo mais que é necessário para crer verdadeiramente nestas coisas, diz Tomás de Aquino, é o auxílio da graça:

"Deve-se colocar uma outra causa interna,
que move interiormente os homens
a assentir interiormente às coisas que são da fé.
Esta causa não pode ser apenas
o livre arbítrio do homem,
porque como o homem,
assentindo às coisas que são da fé,
se eleva sobre a sua natureza,
é necessário que isto lhe ocorra
por um princípio sobrenatural
movendo-o interiormente,
que é Deus.
E por isso a fé,
quanto ao assentimento,
que é o principal ato da fé,
provém de Deus
interiormente movendo pela graça"
(28).

Desta maneira, não é apenas a vontade que move a inteligência para alcançar o conhecimento da fé; além da vontade, diz Tomás de Aquino, é necessário também o

"instinto interior
de Deus que convida"
(29).

A estas palavras de S. Tomás aplicam-se perfeitamente estas outras de Hugo de S. Vitor:

"Nestas coisas o conselho do homem,
sem o auxílio divino,
é enfermo e ineficiente.

É necessário, portanto,
levantar-se à oração,
e pedir o seu auxílio,
sem o qual nenhum bem poderá ser alcançado.

Isto é,
é necessário pedir a sua graça,
a qual,
para que tivesses chegado até aqui
para pedi-la,
era ela que já te iluminava,
e daqui para a frente será
quem haverá de dirigir
os teus passos para o caminho da paz,
e de cuja única boa vontade depende
que sejas conduzido ao efeito da boa operação.

Não serás obrigado por ela,
serás ajudado.

Se apenas tu operares,
nada realizarás;
se apenas Deus operar,
nada merecerás.

Aquele que corre por esta via,
busca a vida"
(30).

A graça, diz Tomás de Aquino, pode agir no homem de diversos modos. A que é suficiente para crer é aquela descrita na Prima Secundae da Summa Theologiae:

"Não é uma qualidade infundida
na alma por Deus,
mas apenas um movimento da alma,
na medida em que a alma do homem
é movida por Deus
para conhecer ou querer alguma coisa"
(31).

Neste texto S. Tomás afirma que a graça pode agir no homem tanto movendo a inteligência como a vontade. Resta saber em qual destes movimentos consiste a graça necessária para crer.

Nas Sagradas Escrituras temos testemunhos não apenas de que a graça pode mover a vontade, mas também iluminar a inteligência do homem. Após a ressurreição, Jesus caminhou longo tempo pela estrada de Emaús conversando com dois apóstolos sem que estes o reconhecessem; depois de terem entrado em casa, durante a ceia, quando Jesus abençoou o pão, diz a Escritura que

"seus olhos se abriram e o reconheceram;
Ele, porém,
desapareceu diante de seus olhos".

Lc. 24,31

Mais ainda do que nesta passagem, diz S. Paulo na Epístola aos Coríntios:

"O que os olhos não viram,
os ouvidos não ouviram,
e o coração do homem não percebeu,
isso Deus preparou
para aqueles que O amam.

A nós, porém,
Deus o revelou pelo seu Espírito,
pois o Espírito sonda todas as coisas,
até mesmo as profundidades de Deus.

Quem, pois, entre os homens
conhece o que é do homem
senão o espírito do homem que está nele?

Da mesma forma,
o que está em Deus,
ninguém o conhece,
senão o Espírito de Deus.

Nós não recebemos o espírito do mundo,
mas o Espírito de Deus,
para que conheçamos
os dons da graça de Deus".

I Cor 2,9-12

Entretanto, a iluminação direta e intensa da própria inteligência pela graça parece ser mais característica dos que já vão crescidos na fé do que daqueles que nela se iniciam. Naqueles que principiam na fé, a inteligência é ilustrada principalmente pelo que é proposto exteriormente e a graça move, pelo menos de modo principal, mais diretamente a vontade do que a inteligência.

Isto concorda tanto com a expressão de que se utiliza Tomás de Aquino quando descreve a graça de crer como aquele "instinto interior de Deus que convida", pois quem convida mais se dirige à vontade do que à inteligência, como com um texto de Hugo de S. Vitor em que ele descreve o crescimento da fé:

"Segundo o crescimento da fé",

diz Hugo de S. Vitor,

"encontramos três gêneros de pessoas que crêem.

Há alguns fiéis que alegam crer
apenas pela piedade,
os quais todavia não compreendem
se se deve crer ou não crer pela razão;
nestes, apenas a piedade faz a eleição.

Há outros que aprovam pela razão
o que crêem pela fé;
nestes a razão acrescenta sua aprovação.

Outros, finalmente,
pela pureza do coração e da consciência
já começam a saborear interiormente
aquilo que crêem pela fé;
nestes a pureza da inteligência
apreende a certeza"
(32).

Com isto concordam também as palavras de Dionísio Areopagita que descrevem as disposições necessárias para receber o Batismo e principiar a praticar os mandamentos divinos:

"Qual é o ponto de partida",

diz Dionísio,

"para a prática dos mandamentos divinos?

É este:

Preparar nossas almas
para ouvir a palavra sagrada,
acolhendo-a com a melhor disposição possível;

estar aberto à atuação de Deus;

desejar o caminho
que nos leva até a herança
que nos aguarda no Céu,

e receber a regeneração sagrada
(do Batismo)"
(33).

Este texto de Dionísio Areopagita não fala da fé, mas do Batismo. Entretanto, as Sagradas Escrituras associam o Batismo com a fé: "Quem crer e for batizado, diz Jesus, será salvo" (Mc 16,16); "Os coríntios que ouviam Paulo", dizem os Atos dos Apóstolos, "abraçavam a fé e recebiam o Batismo" (At. 18,8). De modo que as disposições para receber o Batismo têm grandes afinidades com as disposições para receber a fé, operadas em nós pela graça. Ora, as disposições descritas por Dionísio Areopagita são principalmente disposições mais da vontade do que da inteligência.

O que não significa, porém, que a graça, movendo a vontade, não cause por redundância também a iluminação da inteligência. O homem, de fato, quando ouve a verdade da fé, o mais das vezes costuma estar cego também para o entendimento de verdades que não estão acima das possibilidades da luz natural da inteligência; este obscurecimento lhe é causado não por um defeito da inteligência, mas pelas paixões e hábitos adquiridos pela vontade. Deste modo, movendo-se a vontade, a inteligência se abre para o entendimento de verdades de ordem natural que antes ela não via, e com isto dispõe-se para o assentimento das verdades da fé, por causa da grande coerência que as verdades da fé possuem para com as verdades da ordem natural. É por isto que a este efeito,podem-se aplicar as seguintes palavras das Sagradas Escrituras:

"O Sol,
que antes estava entre nuvens,
apareceu radiante".

II Mac 1,22

Comentando esta mesma passagem, assim se expressa S. Tomás de Aquino:

"O Sol, isto é,
a inteligência do homem,
está entre nuvens
quando está entregue às coisas terrenas;
refulge e resplandece, porém,
quando for afastado e removido do amor
do que é terreno"
(34).

E diz muito significativamente Tomás, que a inteligência do homem refulge e resplandece não quando for afastada do que é terreno, mas do amor do que é terreno. Num sentido oposto, assim se manifesta o apóstolo S. Paulo :

"Manifestamos a verdade,
e com isto nos recomendamos à consciência
de todos os homens diante de Deus.

Mas se, (apesar disto),
o nosso Evangelho permaneceu encoberto,
ficou encoberto para aqueles a quem
o deus deste mundo obscureceu a inteligência,
a fim de que não vejam brilhar a luz do Evangelho".

II Cor.4,2-3

Do que se pode deduzir que, quando move a vontade, a graça pode causar por redundância uma iluminação da inteligência, que usualmente se encontra obscurecida nos homens por muitas causas que não são de natureza intelectiva. Deste modo, a atuação da graça na vontade não se resume apenas a convidá-la a produzir o assentimento da inteligência, mas também a fazer com que a vontade se mova de um tal modo que se produza por redundância uma iluminação da inteligência, num efeito que é o inverso do que descreve o apóstolo Paulo.

É por isso que o mesmo apóstolo acrescenta, duas linhas adiante:

"De fato,
o Deus que disse à luz
que brilhasse no seio das trevas,
brilhou Ele próprio nos nossos corações,
para fazer brilhar
o conhecimento de sua glória".

II Cor.4,6

De modo geral, pois, nos princípios da vida espiritual a graça move a fé mais agindo sobre a vontade do que diretamente sobre a inteligência; um dos efeitos deste movimento é uma espécie de consolação, que é uma deleitação conseqüente ao repouso da vontade no objeto da fé. À medida em que a vida espiritual progride e a graça passa a iluminar mais intensa e diretamente também a inteligência, manifesta-se igualmente sob o aspecto de uma especial pureza, que da inteligência se estende às demais faculdades da alma. Diz a Escritura, porém, que o Espírito Santo "sopra onde quer" (Jo. 3,8); e, portanto, se assim o quiser, pode mover intensamente a inteligência atuando diretamente sobre ela mesmo no princípio da vida espiritual. Neste caso, o que ocorre no mais das vezes é que a inteligência se abre para a percepção do estado lastimável em que se encontra a própria alma; isto nela é conseqüência de uma fagulha de entendimento das coisas divinas, produzida pela graça. Produzem-se com isto aquelas conversões que causam tão profunda impressão nos homens, como a do apóstolo S. Paulo. Esta profunda impressão que tais conversões causam provém da energia com que repentinamente o homem parece estar disposto a lutar contra si mesmo e romper com seu pecado. Isto, por sua vez, ocorre por ter sido a inteligência iluminada diretamente, e não por redundância de um movimento da vontade; a inteligência passa com isso a entender coisas que os hábitos adquiridos da vontade mais prefeririam que não tivessem sido entendidos, e o homem passa a ter que impô-las sobre as faculdades apetitivas.

Menos geralmente, os que no início da vida espiritual são movidos intensamente pela graça também através do entendimento são pessoas que, por algum motivo bastante especial, já conduziam uma vida de virtude, como o foram, no início do Cristianismo, muitos entre os judeus e também, posteriormente, vários dos filósofos gregos que aceitaram a fé cristã; nestes casos a graça move diretamente a inteligência a um maior entendimento da profundidade dos mistérios da fé, embora, para estas pessoas, na expressão de Hugo de S. Vitor, "antes que elas tivessem chegado até aqui, a graça já os iluminava". Deve ter sido este o caso dos magos que vieram do Oriente, guiados por uma estrela, até Belém, adorar Jesus nascido no presépio (Mt. 2,1- 12). Foi este o caso, também, no Brasil recém descoberto da segunda metade dos anos 1500, de um índio que surgiu, repentinamente, já no fim de sua vida, próximo às praias do litoral paulista. As circunstâncias deste fato, e o modo como este índio veio a receber o Batismo das mãos do bem aventurado José de Anchieta, um dos primeiros missionários que aportaram no Brasil colônia, foram registradas por Pero Rodriguez, provincial jesuíta contemporâneo de Anchieta:

"Indo o Padre José uma vez por esta praia",

diz Pero Rodriguez,

"se desviou do caminho, sem ocasião alguma,
mas como que levado por outrem,
e se meteu um pouco pelo mato.
Encontrou com um índio velho,
assentado ao pé de uma árvore,
o qual primeiro armou a prática, dizendo:

`Acaba já de vir, Padre,
que muito tempo há
que aqui te estou aguardando'.

Perguntou-lhe o padre pelo nome, terra e aldeia.
Respondeu que sua aldeia estava sobre o mar,
e outras coisas das quais claramente entendeu
que aquele índio não era natural da comarca de S. Vicente,
nem de toda a costa do Brasil,
mas que viera ter ali,
trazido por braço mais que humano,
da parte do Oeste,
da contra costa da província do Brasil.

Perguntou-lhe mais a que viera,
e o que era que dele queria,
pois o estava ali aguardando;
respondeu o índio que vinha ouvir a vida boa,
pois esta é a frase dos índios com que significam
a Lei de Deus e o caminho da salvação.

Examinou a padre miudamente a sua vida
e achou que não tivera muitas mulheres,
que nunca fizera guerra senão para se defender,
pelas quais coisas e outras semelhantes
julgou que nunca pecara mortalmente contra a lei natural,
e que tinha muito conhecimento natural das coisas
e do autor da natureza.

Quando o padre lhe ia declarando
os principais mistérios da nossa fé,
o índio respondia:

`Assim entendia eu no meu coração,
mas não o sabia declarar'.

Finalmente o padre o instruiu bastante,
e o batizou com água da chuva,
que se conservava nas folhas dos cardos montezinhos,
e lhe pôs o nome de Adão,
que tanto se viu regenerado
em Jesus Cristo pelo santo Batismo,
com as mãos postas e os olhos no céu,
deu muitas graças a Deus,
com semblante mui alegre.

Agradeceu também ao padre a caridade que lhe fizera,
e como quem não esperava mais do que esta ditosa hora,
nem tinha mais que negociar na vida,
deu sua bendita alma a Deus nas mãos do mesmo padre,
e se foi para o Céu,
cujo corpo enterrou o padre, cobrindo-o com areia.

Caso por certo raro e digno de admiração,
e matéria para dar muitos louvores
ao Criador e Redentor dos homens"
(35).



Referências

(27) Summa Theologiae, IIa IIae, Q.6 a.1. (28) Idem, loc. cit.. (29) Idem, IIa IIae, Q.2 a.9 ad 3.
(30) Hugo de S. Vitor: Didascalicon; L. V, c. 9; PL 176, 797.
(31) Summa Theologiae, Ia IIae, Q.110 a.2.
(32) Hugo de S. Vitor: De Sacramentis Fidei Christianae; L. I, p. X, c. 4; PL 176, 332.
(33) Dionísio Areopagita: De Ecclesiastica Hierarchia; PG 3, 392.
(34) Opusculum De Duobus Preceptis Charitatis, Introductio.
(35) Pero Rodrigues: Vida do Padre José de Anchieta da Companhia de Jesus; L.II, c.6; São Paulo, Loyola, 1978; o original data de 1617.