II.2.

Presença no homem da ordem observada no Cosmos.

A maioria dos sistemas educacionais contemporâneos foram construídos sem que se procedesse a uma investigação prévia da ordem cósmica. Os homens que elaboraram as políticas educacionais dos países modernos não pararam para discutir se existe ou não existe uma ordem no Universo; estavam, na maioria dos casos, apenas preocupados com problemas que afligiam de modo imediato as sociedades em que viviam.

Diante de nossas considerações cosmológicas eles poderiam muito bem perguntar que problema haveria em existir um sistema educacional que ignorasse a ordem do Universo. Se for bom para o homem ignorar esta ordem e construir uma sociedade à parte da ordem do cosmos, porque o homem deveria deixar de fazê-lo? Certamente a estética do Universo ficaria comprometida, mas que diferença isto faria para o homem? Se com isto se resolvessem os problemas que afligem a humanidade, por que considerar a ordem do Universo? Se forem atendidas as necessidades das sociedades em que se vive, qual seria o problema em ter uma educação cuja finalidade discrepe da finalidade do cosmos? E, se estas necessidades não forem atendidas, que sentido teria considerar a ordem cósmica? Parece, pois, que a questão importante e básica em educação é bem outra.

Poderia a filosofia, diante destas considerações, indicar alguma razão mais imediato para justificar a intromissão destas considerações cosmológicas em educação?

Devemos responder a esta pergunta com um sim. Sim, pode-se justificar de um modo mais imediato a necessidades destas considerações cosmológicas em educação.

Já mencionamos na introdução a este trabalho que a questão cosmológica implica em uma questão metafísica, assunto sobre o qual voltaremos a falar mais extensamente em outras partes deste trabalho.

Ocorre, porém, que a questão cosmológica implica, além da questão metafísica, também uma questão antropológica, uma questão em que está envolvida a própria essência do homem. E se isto é assim, teremos, por conseqüência, que agindo contra a ordem cósmica, age-se também e necessariamente contra a essência do homem.

Santo Tomás de Aquino tratou deste problema no início da Prima Secundae da Summa Theologiae. Aí ele afirma que não é apenas no cosmos que se observa a existência de um fim. Ao contrário, a natureza humana é tal que o homem, justamente enquanto homem, age necessariamente tendo em vista um fim.

Cumpre, portanto, investigarmos que fim é este, e se está em consonância com o fim do cosmos.

Este será o assunto do presente capítulo.