V.16.

A virtude da prudência.

Dissemos que a virtude é um hábito eletivo que opera segundo a razão reta, coisa possível nas virtudes morais por estarem elas no apetite que é racional por participação, cabendo à razão reta determinar a escolha do termo médio da operação, afastando-a tanto do excesso como do defeito.

Para completar o quadro das virtudes principais, iremos agora investigar as virtudes intelectuais pelas quais a própria razão é retificada (121).

a. A prudência e o intelecto dos primeiros princípios dos operáveis.

Há duas virtudes intelectuais às quais cabe a retificação da razão naquilo que é necessário à operação das virtudes morais, e ambas têm como sujeito a razão prática.Estas virtudes são a prudência e o intelecto dos primeiros princípios dos operáveis.

A prudência retifica a razão prática acerca dos operáveis que são meios para se alcançarem os fins últimos das operações humanas.

Já o intelecto dos primeiros princípios dos operáveis é um hábito semelhante àquela outra virtude de que já falamos anteriormente e que também se denomina intelecto; estamos nos referindo ao intelecto dos primeiros princípios das demonstrações, cujo sujeito é a razão especulativa e, conforme o próprio nome indica, diz respeito aos primeiros princípios das demonstrações. Assim como pelo intelecto dos primeiros princípios das demonstrações a razão especulativa se encontra corretamente disposta à apreensão dos primeiros princípios dos silogismos ou raciocínios, pelo intelecto dos primeiros princípios dos operáveis a razão prática se encontra corretamente disposta à inteligência dos fins das operações humanas retificadas pela prudência.

Prudência e intelecto dos princípios dos operáveis têm assim em comum a retificação da razão prática; mas diferem pelo objeto a que se referem e pelo modo como operam.

De fato, na prudência pressupõe-se uma certa investigação do raciocínio que é denominado conselho; já no intelecto dos primeiros princípios dos operáveis não há raciocínio nem conselho. Ninguém se aconselha acerca dos fins que, nas operações, são os primeiros princípios; os fins são pressupostos pelas ações e a eles somos inclinados por modo de natureza; somente nos aconselhamos acerca dos meios necessários para obter os fins; se alguma vez raciocinamos para investigar qual o fim a que devemos tender, é porque este fim, na verdade, não era o fim último de nossas ações.

Portanto, prudência e intelecto dos princípios dos operáveis são virtudes que trabalham de modo essencialmente diverso; a prudência diz respeito àqueles operáveis em que o homem, para agir conforme sua natureza racional, deve fazer eleição e, portanto, fazer intervir a razão prática no conselho incluído nesta eleição; já o intelecto dos princípios dos operáveis apreende estes primeiros princípios por uma certa conaturalidade para com eles.

Assim se expressa a este respeito Tomás de Aquino na Summa Theologiae:

"Na razão especulativa
há coisas naturalmente conhecidas,
acerca das quais é a virtude do intelecto,
e há também outras que são conhecidas
através das anteriores,
que são as conclusões,
acerca das quais é a ciência.

Assim também na razão prática
preexistem certas coisas
que são como princípios naturalmente conhecidos,
que são os fins (últimos) das virtudes morais,
(conhecidos pelo intelecto
dos primeiros princípios dos operáveis),
pois os fins estão para o que é operável
assim como os princípios estão
para o que é especulativo.

Há também na razão prática outras coisas
que são como que as conclusões,
que são as coisas que se ordenam aos fins,
às quais chegamos (por uma investigação
que parte como pressuposto) dos próprios fins.
A prudência diz respeito a estas coisas,
aplicando os princípios universais
às conclusões particulares dos operáveis"
(122).

Pertence, portanto, ao homem prudente, por faculdade deste hábito, que ele possa bem aconselhar-se a respeito das ações que se ordenam ao fim último das virtudes (123).

b. A prudência toma seus princípios dos hábitos das virtudes morais, e não diretamente do intelecto dos primeiros princípios dos operáveis.

Ocorre, porém, que segundo a doutrina de S. Tomás de Aquino e Aristóteles, a prudência não toma os primeiros princípios que pressupõe para sua operação diretamente do intelecto dos primeiros princípios dos operáveis, mas faz isto apenas de modo mediato, através dos hábitos das virtudes morais cujo sujeito são as forças apetitivas.

É por isto que o Comentário à Ética afirma que a prudência necessita da temperança, e das demais virtudes morais também, como salvadora de seus princípios (124).

A temperança, diz o Comentário, tem em grego um nome que significa "salvadora da prudência".

De fato, a temperança, na medida em que modera as deleitações e as tristezas do tato, salva a estimação dos fins por causa dos quais se fazem os operáveis. Os fins em vista dos quais são feitos os operáveis são princípios dos operáveis, por se acharem em relação aos operáveis assim como os princípios para com as demonstrações. Ora, quando há uma veemente deleitação ou tristeza, parecerá ao homem que é ótimo aquilo pelo qual conseguirá a deleitação ou fugirá da tristeza. Assim, corrompido o julgamento da razão, não parecerá verdadeiro ao homem o fim que é princípio da prudência acerca do operável existente, nem apetecerá este fim, nem lhe parecerá que é necessário escolher e operar todas as coisas por causa do fim verdadeiro, mas sim por causa do deleitável. Assim, de fato, qualquer malícia ou hábito vicioso corrompe os princípios das ações humanas, na medida em que corrompe a reta estimação do fim. Ora, esta corrupção é maximamente impedida pela temperança. De onde que se conclui que a prudência necessita da temperança como uma salvadora de seus princípios (125).

Por isso, embora a prudência esteja no intelecto prático como em seu sujeito, por causa do que é dita virtude intelectual, todavia não é virtude intelectual como outras virtudes intelectuais que o são somente com a razão. Este é o caso da arte e da ciência, mas, no caso da prudência, esta virtude requer a mais a retidão do apetite.

Sinal de que isto é assim é que o hábito que está apenas na razão pode ser trazido ao esquecimento, assim como a arte e a ciência, a não ser que seja hábito natural, como o intelecto. Mas a prudência não se dá ao esquecimento por falta do costume; ao contrário, somente é abolida pela cessação do apetite reto, o qual, enquanto permanece, é continuamente exercido nas coisas que são da prudência, de tal maneira que chegar-se ao esquecimento não é possível (126).

c. Extensão da prudência.

A prudência diz respeito tanto ao universal como ao singular, pois a obra do prudente é bem aconselhar. Ora, ao aconselhar-se, alguém pode errar de duas maneiras, isto é, tanto acerca do universal como acerca do particular. É necessário, portanto, que a prudência seja diretiva tanto do universal como do singular (127).

É sinal de que a prudência não seja somente acerca do universal, mas também acerca do particular, o fato dos jovens conseguirem tornar-se doutos em matemática e geometria e até sábios no que diz respeito a estas ciências, mas não parecer que se tornem prudentes. A causa disso está justamente em que a prudência é também acerca dos singulares que só se fazem conhecidos através da experiência. Ora, os jovens não podem ser experientes, porque para a experiência requer-se uma multidão de tempo (128).

d. Necessidade da prudência para a operação humana perfeita.

Para a perfeição de qualquer operação humana requer-se não apenas o hábito da virtude moral, mas também o hábito da virtude da prudência. De fato, duas coisas são necessárias na obra da virtude: a primeira é que o homem tenha uma reta intenção do fim, o que é feito pela virtude moral, na medida em que esta inclina o apetite para o fim devido; a segunda é que o homem se encontre corretamente disposto acerca das coisas que se relacionam com o fim, o que é feito pela prudência, a qual é bem aconselhante, julgante e preceptiva das coisas que se relacionam para com o fim. Assim, à obra da virtude concorrem a prudência, que é perfectiva do que é racional por essência, e a virtude moral, que é perfectiva da parte apetitiva da alma, que é racional por participação (129).

e. Natureza da prudência.

Deste modo, para que o homem seja virtuoso requer- se a virtude moral que faz a eleição reta quanto à intenção do fim, enquanto que as coisas que são feitas por causa do fim já não pertencem à virtude moral, mas à virtude da prudência que encontra os caminhos que conduzem ao fim.

Para entendermos melhor a natureza da prudência, deve-se dizer que na raiz da virtude da prudência encontra-se um princípio operativo que é chamado dinótica (130).

A prudência não é totalmente a mesma coisa que a dinótica; todavia, a prudência não pode existir sem a dinótica.

Dinótica significa engenhosidade ou indústria, e é um princípio operativo tal que por ela o homem pode operar as coisas que se ordenam à intenção que o homem pressupõe, seja boa ou má, alcançando o fim através destas coisas que são operadas (131).

Se a intenção é boa, tal engenhosidade é louvável; se a intenção é má, tal engenhosidade é reprovável.

Só quando a este princípio cognoscitivo que é a dinótica se acrescenta a virtude moral é que o hábito que daí surge passa a ser chamado de virtude da prudência.

f. Necessidade das virtudes morais para a operação da prudência.

A dinótica somente pode ser chamada de prudência se for acompanhada da presença das virtudes morais que a ordenam a um fim bom e louvável. Sem as virtudes morais, pode existir a dinótica, mas ela não constituirá mais a prudência, nem sequer terá natureza de virtude.

A razão desta afirmação é evidente.

Toda virtude se relaciona para com o bem. Ora, assim como os silogismos ou raciocínios especulativos tem seus princípios, assim também é princípio dos demais operáveis que tal ou qual fim seja tido como bom e ótimo. Deste modo, ao que é temperante será ótimo e será um princípio alcançar o termo médio da concupiscência do tato. Mas isto somente parecerá ótimo ao virtuoso que possui o correto julgamento acerca dos fins, já que a virtude moral faz a reta intenção acerca do fim, enquanto que a malícia, oposta à virtude, perverte o julgamento da razão e faz mentir acerca dos fins, que são princípios acerca do que é prático (132). Ora, ninguém pode raciocinar corretamente se errar acerca dos princípios. Portanto, como pertence ao prudente raciocinar corretamente acerca dos operáveis, torna- se manifesto que é impossível ser prudente aquele que não é virtuoso, assim como não pode ter ciência aquele que errar acerca dos princípios da demonstração (133).

Fica assim demonstrado como não pode existir a virtude da prudência sem as virtudes morais.

g. Necessidade da prudência para a operação das virtudes morais.

Acabamos de expor como S. Tomás de Aquino mostrou ser impossível existir a virtude da prudência sem as virtudes morais.

Mas ele também, logo a seguir, nos mostra o outro lado da questão, e afirma que do mesmo modo não podem existir as virtudes morais sem a prudência.

De fato, assim como a prudência pressupõe a dinótica, assim também as virtudes morais pressupõem as virtudes naturais.

As virtudes morais são as virtudes perfeitas. Elas, porém, pressupõem a existência de virtudes naturais assim como a prudência pressupõe a dinótica. Do mesmo modo como a dinótica não é totalmente a mesma coisa que a prudência, mas algo situado em sua raiz, assim também as virtudes naturais não são totalmente a mesma coisa que as virtudes morais, mas algo situado na raiz das mesmas.

A realidade das virtudes naturais é evidente pelo fato de que os costumes singulares das virtudes ou dos vícios parecem existir em alguns homens naturalmente; de fato, imediatamente desde o seu nascimento alguns homens parecem ser justos, temperantes ou fortes por uma disposição natural, pela qual são inclinados à obra das virtudes.

Estas virtude naturais podem originar-se no homem de três modos.

Primeiro, por parte da razão, pois existem no homem por natureza os primeiros princípios dos operáveis humanos, como por exemplo, que a ninguém se deve maltratar, e assim por diante.

Segundo, as virtudes naturais podem originar-se por parte da vontade, que é por si mesma naturalmente movida ao bem inteligido, como a um objeto próprio; estes dois primeiros modos são comuns a todos os homens.

Há ainda um terceiro modo pelo qual uma virtude natural pode originar-se no homem, o qual é por parte do apetite sensitivo, na medida em que por uma compleição natural alguns são mais dispostos à ira, outros à concupiscência ou a outras paixões, alguns mais e outros menos (134).

Mas a virtude moral, que é a virtude perfeita, está para a virtude natural assim como a prudência está para a dinótica. Prudência e dinótica, conforme já explicado, embora não sejam inteiramente a mesma coisa, todavia têm alguma semelhança entre si. A prudência não pode existir sem a dinótica e é mais do que a dinótica: a prudência acrescenta à dinótica o fato de não poder se realizar sem a virtude moral, a qual não é necessária à dinótica (135).

Assim também ocorre com a virtude moral.

Embora alguns sejam naturalmente fortes ou justos, todavia requer-se naqueles que são naturalmente tais algo para que estas virtudes naturais existam em nós segundo um modo mais perfeito, porque estes hábitos naturais mostram-se ser nocivos a não ser que esteja presente a discrição do intelecto.

Assim como no movimento corporal, se o corpo é movido fortemente sem estar a vista a dirigi-lo, aquilo que é movido é fortemente lesado, assim também se alguém possuir uma forte inclinação à obra de alguma virtude moral e não usar discrição na obra daquela virtude moral, acontecerá uma grave lesão ou do próprio corpo, como naqueles que são inclinados à abstinência de alimentos sem discrição, ou nos bens exteriores, como naqueles que são inclinados à liberalidade, e assim por diante nas demais virtudes.

Mas se o intelecto coexiste na operação de tais inclinações, de maneira que o homem passe a operar com discrição, então suas operações muito diferirão segundo a excelência da bondade, e o hábito que será responsável por tais operações feitas com discrição será própria e perfeitamente virtude.

Ora, é isto que são as virtudes morais, pois somente elas são própria e perfeitamente virtudes.

Assim, portanto, como na parte operativa da alma há duas espécies de princípios operativos, que são a dinótica e a prudência, assim também na parte apetitiva da alma haverá duas espécies de princípios operativos, que são a virtude natural e a virtude moral, e esta última, conforme acabamos de demonstrar, não pode existir sem a prudência (136).

De onde que se conclui de tudo quanto foi dito que não é possível homem algum ser bom segundo a virtude moral sem a prudência, nem também ser prudente sem a virtude moral (137).

h. Interdependência entre as diversas virtudes.

Chegando a este ponto do Comentário à Ética, considerando que nenhuma virtude moral pode se dar sem a prudência nem a prudência pode se dar sem a virtude moral, S. Tomás, seguindo a Aristóteles, pergunta se é possível ao homem possuir alguma virtude sem possuir também as demais.

De fato, pareceria, diz ele, que as virtudes morais possam ser separadas entre si, de tal maneira que uma virtude possa ser possuída sem a outra; pois vemos que um mesmo homem não é inclinado a todas as virtudes, mas um à liberalidade, outro à temperança, e assim por diante.

Isto acontece porque é fácil alguém ser conduzido àquilo ao qual é naturalmente inclinado, porém é difícil conseguir algo contra o impulso da natureza.

Se, portanto, algum homem está naturalmente disposto a uma virtude e não a outra, alcançará esta virtude à qual está naturalmente disposto enquanto que não alcançará outra virtude à qual não esteja naturalmente disposto.

Portanto, parece possível possuir alguma virtude sem possuir as outras (138).

Porém, se analisarmos mais atentamente este argumento, diz Tomás de Aquino, veremos que o que foi dito é correto no que diz respeito às virtudes naturais, não porém no que diz respeito às virtudes morais.

De fato, nenhuma virtude moral pode ser possuída sem a prudência, e assim, quando a prudência, que é uma só virtude, existe em alguém, simultaneamente existirão com ela todas as demais virtudes morais, das quais nenhuma existiria se a prudência não existisse.

Se houvesse diversas prudências acerca das matérias das diversas virtudes morais, assim como há diversos gêneros de coisas artificiais, não haveria impedimento para uma virtude moral existir sem que uma outra existisse, cada uma delas tendo a prudência a si correspondente.

Mas isto não pode ser, porque os princípios da prudência são os mesmos para toda a matéria moral, e portanto, por causa da unidade da prudência, todas as virtudes morais são conexas entre si (139).

Este argumento de S. Tomás no Comentário à Ética poderá ficar mais claro se entendermos melhor a natureza da unidade da prudência, que é o que faz com que todas as virtudes morais sejam conexas entre si.

A unidade da prudência é mais facilmente compreendida se nos lembramos que a prudência é na realidade uma forma de conhecimento, assim como as ciências e as artes. Ela é, de fato, enumerada entre as virtudes intelectuais, assim como as ciências, as artes e o intelecto. Mas ela é mais semelhante às ciências e às artes do que ao intelecto, porque o intelecto diz respeito ao conhecimento imediato dos princípios indemonstráveis em que se baseiam os demais conhecimentos, enquanto que a prudência, as ciências e as artes dizem respeito a certos conhecimentos que não são imediatos no homem, mas que se originam a partir do conhecimento de determinados princípios apreendidos como verdadeiros.

Assim, o objetivo da prudência é um determinado conhecimento, isto é, o conhecimento do termo médio das ações humanas operadas pelas virtudes morais, não porém naquelas ações que são os fins últimos destas virtudes morais, mas naquelas que se ordenam a estes fins.

A prudência difere da ciência por ser a ciência um conhecimento cuja finalidade é o próprio conhecimento, enquanto que a prudência é um conhecimento cuja finalidade é a ação, nisto se assemelhando à arte, que é um conhecimento cuja finalidade é a obra de arte.

A principal diferença, porém, entre a prudência enquanto conhecimento e as ciências e as artes enquanto conhecimento é bastante outra, e consiste no seguinte: enquanto os princípios do conhecimento que é a ciência e as artes são princípios que residem também na inteligência, os princípios do conhecimento que é a prudência não estão na inteligência, mas nas corretas inclinações das virtudes morais.

A prudência, assim, é uma espécie de ciência prática cujos primeiros princípios, à diferença das demais ciências, não estão na esfera da inteligência, mas na das virtudes morais, as quais se referem às paixões e operações humanas.

Ora, ocorre que a experiência mostra existir uma manifesta conexão entre as paixões e operações que se dão na vida humana: de uma paixão se origina outra, e das paixões se originam operações e vice versa, de tal modo que toda a matéria das virtudes morais é um conjunto de muitas partes mutuamente ordenadas.

Por esta razão as matérias das diversas virtudes morais não se ordenam entre si como diversas ciências cujas matérias são desconexas uma da outra, mas como os diversos princípios de uma mesma ciência.

Portanto, assim como um geômetra que errasse sobre um dos princípios da geometria não poderia pretender o conhecimento da ciência geométrica, porque tal erro se estenderia a toda esta ciência, assim também não pode ser dito prudente, isto é, alguém que possui o conhecimento de fazer retas eleições em matéria moral, aquele que errasse acerca de um só dos princípios em que se baseia tal conhecimento, pois o defeito da prudência em uma parte da matéria moral induziria ao erro em todas as suas demais partes (140).

Daqui se segue que, quanto à correta inclinação do termo médio, todas as virtudes crescem no homem simultaneamente em igualdade de proporção, assim como os dedos de uma mão, embora, materialmente falando, um homem possa ser mais disposto, pela natureza ou pelo costume, ao ato de uma determinada virtude do que de outra (141).

Se, pois, o homem se tornar prudente, possuirá todas as demais virtudes simultaneamente; se não se tornar prudente, porém, poderá possuir alguma inclinação especial à paciência ou à temperança, mas estas não serão verdadeiras virtudes, por causa do defeito da eleição reta proveniente da prudência, que será corrompida pela falta das demais virtudes morais (142).



Referências

(121) In libros Ethicorum Expositio, L. VI, l. 1, 1109; l. 1, 1113.
(122) Summa Theologiae, IIa IIae, Q. 47 a.6.
(123) Idem, loc. cit.. In libros Ethicorum Expositio, L. VI, l. 4, 1162.
(124) Idem, L. VI, l. 4, 1169. (125) Idem, L. VI, l. 4, 1169-1170. (126) Idem, L. VI, l. 4, 1174. (127) Idem, L. VI, l. 7, 1212. (128) Idem, L. VI, l. 7, 1208. (129) Idem, L. VI, l. 10, 1268-1269. (130) Idem, L. VI, l. 10, 1271-1272. (131) Idem, L. VI, l. 10, 1272-1273. (132) Idem, L. VI, l. 10, 1273-1274. (133) Idem, L. VI, l. 10, 1274. (134) Idem, L. VI, l. 11, 1276-1277. (135) Idem, L. VI, l. 10, 1273. (136) Idem, L. VI, l. 11, 1278-1280. (137) Idem, L. VI, l. 11, 1285. (138) Idem, L. VI, l. 11, 1286. (139) Idem, L. VI, l. 11, 1287.
(140) Summa Theologiae, Ia IIae, Q. 65 a.1, ad 3. Idem, Ia IIae, Q. 65 a.1, ad 4.
(141) Idem, Ia IIae, Q. 66 a.2. (142) Idem, Ia IIae, Q. 65 a.1.