IX.7.

A sociedade perfeita.

Esparsos ao longo de seu extenso texto, o Comentário à Política apresenta numerosas indicações acerca dos princípios sobre os quais deve constituir-se a sociedade ótima; neste e nos ítens seguintes examinaremos alguns dos mais significativos.

O Comentário afirma que nem sempre será possível estabelecer-se a sociedade ótima; quando, porém, isto for possível, isto se realizará sob a forma do governo de um só, isto é, uma monarquia. Monarquia em grego significa "um só princípio"; este, diz o Comentário à Política, quando estabelecido com as características descritas mais adiante, é o melhor de todos os governos:

"Entre as políticas retas,
a Monarquia é a ótima
e a mais reta das sociedades,
sendo por isso regra e medida das demais"
(48).

Mas para que a Monarquia seja a mais reta das sociedades, não é suficiente que apenas um governe. A Tirania também é o governo de um só, e no entanto é a mais abominável de todas as formas de governo. Para que uma monarquia seja uma sociedade ótima é necessário que aquele que irá governar

"difira dos súditos,
segundo a natureza,
pela grandeza da bondade
e que, todavia,
seja alguém do mesmo gênero
que os súditos,
ao menos segundo a espécie humana;
melhor ainda se puder pertencer ao mesmo povo.

O governante da sociedade ótima
deverá possuir sobre os súditos
uma prerrogativa natural de perfeição,
pelo que deverá diferir dos demais por natureza,
pois, a não ser que pela bondade natural
seja melhor do que os súditos,
não seria justo que dominasse com plenos poderes
sobre pessoas que lhe fossem iguais.

Esta forma de governo se assemelha
ao governo do pai em relação aos filhos,
o qual governa em primeiro lugar pelo amor,
porque ama por natureza aos filhos,
e em segundo lugar pela idade,
por possuir uma prerrogativa natural sobre os filhos"
(49).

Conforme dissemos, não é sempre que será possível estabelecer tal forma de governo em alguma sociedade. Para tanto será necessário que na sociedade que irá ser assim governada se encontrem homens que excedam em muito aos demais na excelência das virtudes:

"Quando isto não for possível,
e todos os homens forem quase iguais
pelas virtudes naturais,
o correto será
que todos participem igualmente do governo"
(50),

"não simultaneamente,
porque não seria possível,
mas em turnos,
de tal modo que cada um governe
em determinado ano
ou em qualquer tempo ou ordem determinada
e que todos possam,
em tempos diversos,
participar do governo"
(51).

"O melhor seria que a sociedade
fosse disposta de tal modo
que fossem sempre os mesmos
que governassem;
isto, porém, somente é possível
quando na cidade se encontram alguns homens
muito mais excelentes do que os outros
pelos quais a cidade possa ser governada sempre"
(52).



Referências

(48) In libros Politicorum Expositio, L. III, l. 13, 474.
(49) Idem, L. I, l. 10, 154. (50) Idem, L. II, l. 1, 183. (51) Idem, L. II, l. 1, 182. (52) Idem, L. II, l. 1, 183.