CONTRA OS IMPUGNADORES
DA VIDA MONÁSTICA
1. |
Quando os filhos dos hebreus, na volta de sua longa escravidão,
quiseram reconstruir o templo de Jerusalém que por muitos anos
estivera destruído, houve então homens bárbaros e desalmados que,
sem respeito ao Deus em cuja honra se levantava aquele templo; sem
pena daqueles homens pela calamidade ao cabo da qual e a duras penas se
refaziam; sem medo, enfim, do castigo que se segue da parte de Deus
aos que cometem tais desaforos, tentaram, primeiro por si mesmos,
impedir-lhes a obra de reconstrução. Mas, como nada conseguiam,
escreveram cartas a seu rei, nas quais chamavam Jerusalém de cidade
rebelde e amiga de revoluções e de guerra, e assim o convenceram que
lhes permitisse impedir a reconstrução. Com esta autorização do
rei, e atacando aos judeus com forte esquadrão de cavalaria,
conseguiram prontamente interromper a obra, e ficaram muito orgulhosos
de uma vitória pela qual mais deveriam ter chorado. Sua insídia -
pensavam eles - havia tido um final feliz. A verdade, não
obstante, é que aquilo foi só o prelúdio e o começo das calamidades
que prontamente iriam cair sobre eles. A obra, com efeito, foi
levada a cabo e teve brilhante coroamento e eles tiveram que aprender
que nem Mitrídates então, nem outro jamais que declare guerra aos
que empreendem uma boa obra, fazem a guerra aos homens, mas antes que
a estes, ao próprio Deus a quem eles querem honrar. Pois bem, o
que faz guerra a Deus, não é possível que jamais venha a ter bom
paradeiro. Bem poderá acontecer que nada sofra (se é que já não o
sofre) no começo de seu atrevimento, como se Deus o estivesse
chamando a penitência e lhe desse tempo para que despertasse, por
assim dizer, de sua bebedeira. Mas se se obstina em sua loucura, sem
tirar proveito algum de tamanha paciência divina, pelo menos fará aos
demais um bem grandíssimo, pois lhes ensinará, com seu castigo, a
não entrar jamais em luta com Deus, sabendo que não é possível
escapar daquela mão invencível.
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