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Então - me dirás - é verdade que se perdem e naufragam os que
habitam as cidades e teremos que deixa-las e despovoa-las para irmos
ao deserto e habitar os cumes das montanhas? E és tu quem isto
ordenas e esta lei impões?
- Pelo contrário. Como já disse, melhor seria o oposto, e faço
votos a Deus que gozemos de tanta paz e seja arrancada a tirania destes
males pela raiz, que não só não tenham necessidade os que habitam as
cidades de tomar de assalto as montanhas, mas que mesmo os que moram
nos desertos, e, como desterrados por longo tempo, voltem a sua
própria cidade. Porém o que iremos fazer! Eu temo que, ao
empenhar-nos em devolvê-los a sua pátria, em lugar de entregá-los
a esta, os coloquemos nas mãos dos malignos demônios e, querendo
livra-los da solidão e do desterro, os façamos perder sua filosofia
e tranqüilidade.
E se puseres diante de mim a multidão dos que vivem nas cidades e se
crês deste modo comover-me e espantar-me, pois não me importarei em
condenar pouco menos que toda a face da terra, eu lançarei mão da
sentença do Cristo e com ela farei frente a tua objeção. Para que
não venhas a cometer tamanha temeridade como te opores ao voto de quem
um dia há de nos julgar. O que disse, pois, Cristo?
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"Estreita
é a porta e apertado é o caminho que leva à vida e poucos são os que
o encontram".
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E se são poucos os que acham o
caminho, muito menos são os que têm força para chegar até o
término do mesmo. Com efeito, nem todos os que a princípio entram
por ele, se mantêm firmes até o fim. Uns naufragam no começo,
outros pelo meio, outros na própria boca do porto. E em outra
ocasião disse o Senhor que
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"muitos são os chamados e pouco os
escolhidos".
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Pois bem, quando é o próprio
Cristo quem afirma que a maior parte se perde e limita a salvação a
uns poucos, porque tu te revoltas contra mim? É como se contando a ti
o que aconteceu no tempo de Noé, te admirasses que todos tivessem
perecido e só dois ou três homens escapassem de tão grande castigo,
esperando deste modo tapar-me a boca, como se eu não houvesse de me
atrever a condenar tanta gente.
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