NEM SEMPRE SÃO OS PAIS OS QUE MELHOR CONHECEM O QUE CONVÉM A SEUS FILHOS

Por isto, deixando de lado os estranhos, vou conversar com aqueles a quem acima de tudo importa o bem de seus filhos ou, melhor dizendo, aqueles a quem deveria importar, mas não lhes importa em absoluto. E quero lhes falar com bondade e modéstia, rogando-lhes antes de tudo uma coisa: que não levem a mal nem se molestem se alguém lhes disser que conhece melhor do que eles mesmos o que convém a seus filhos. Haver gerado um filho não basta para que seja precisamente o pai que ensine ao filho o que lhe convém. A geração é indubitavelmente importante para infundir carinho à prole; porém nem a geração nem o carinho são suficientes para saber pontualmente o que é conveniente à prole. Se assim fosse, ninguém melhor do que o pai haveria de ver o que seria conveniente a seu filho, pois ninguém poderia ganhar dele em carinho. Mas o certo é que os próprios pais, pelo seu modo de agir, confessam que o desconhecem, e assim vemos que mandam seus filhos à escola, os põem aos cuidados de aias e tomam o conselho de uma infinidade de pessoas, quando tratam do gênero de vida a que os querem dedicar. E, afinal, não é de se espantar que tomem conselho, mas que muitas vezes, vindo a deliberar sobre o assunto de seus próprios filhos, deixem seu parecer e sigam o parecer alheio. Pois que também não se aborreçam comigo se lhes digo que sei melhor do que eles o que convém a seus filhos. Isto sim, se não o demonstrar com meus argumentos, acusem-me então e me dêem a alcunha de fanfarrão, corruptor e inimigo da natureza universal.