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- Mas com que fim - dizes - vens a mim com tudo isto, quando estou
tão distante de toda a filosofia?
-Por que, então, também impedes o teu filho que se aproxime dela?
Melhor seria que o prejuízo se detivesse em ti. Não consideras como
o maior dos danos que vós, chegados à velhice, como alguém que não
tivesse colhido bem algum da vida passada, não fazeis senão vos
irritar com a própria velhice?
- Sim, nos irritamos - respondes - mas é justamente porque a
juventude nos proporcionou grandes bens.
- Que grandes bens são esses? Mostra-me um só velho que possua
esses grandes bens. Se alguma vez os tivesse tido e tivessem
permanecido firmes, não se lamentaria agora como um homem a quem
despojaram de tudo. E se voaram e se murcharam, que classe de
grandeza é esta que tão velozmente se desvanece?
Nada disto há de acontecer a teu filho; mas se acontecer que chegue a
grande velhice, não o verás lançando estes gemidos que vós
exalais, mas estará alegre, satisfeito e jubiloso, pois será então
que seus bens alcançarão todo o seu vigor. Vossa riqueza, ainda
quando tiveres possuído imensos bens, se reduziu a vossa primeira
idade; a nossa não é assim, pois também permanece na velhice e nos
acompanha depois da morte. Daí que vós, quando percebeis que na
velhice aumentam os vossos patrimônios e que por toda a parte se vos
oferecem ocasiões de glória e de prazer, vos desesperais por não ser
já vossa idade própria para gozá-los; e pela mesma razão, vos
estremeceis ao pensamento da morte e, quando chegais à cúspide de
vossa prosperidade, então assinaladamente vos declarais os mais
miseráveis de todos. Teu filho, entretanto, quando chegar à
velhice, será quando mais descansará, como quem corre a toda a vela
para o porto e para uma juventude que nunca se desvanece e nem conhece a
velhice. E tu quererias que teu filho gozasse de prazeres de que mil
vezes haveria de arrepender-se e seriam fonte de dor em sua velhice?
Não queira Deus que deles gozem nem os nossos piores inimigos.
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