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E não penses que vou te falar dos bens do céu e do que nos
espera depois da viagem da vida presente. Não. A demonstração a
quero tomar do que tens ao alcance da mão. Pois aqui vai. Em
primeiro lugar, tu só és dono de teus próprios bens; o teu filho o
é dos de toda a terra. Não me acreditas? Pois te levarei até teu
filho e vamos convence-lo que desça do monte, ou melhor, que ele
fique ali, e que dali mesmo indique a um dos grandes ricos e piedosos
que lhe mande a quantidade de ouro que tu queiras... Mas não. Ele
não quererá que mande para ele. Ordena-lhe, pois, que a dê a um
necessitado qualquer, e verás como aquele rico lhe obedecerá e a
entregará com a maior prontidão e gosto do que se tu o mandasses a um
dos teus criados ou administradores. Porque o teu administrador quando
o mandam gastar, se põe de mal humor e resmunga; o rico piedoso, ao
contrário, quando não gasta se põe triste e teme ter ofendido os
monges em alguma coisa, pois não recebe uma ordem semelhante. E
posso mostrar-te muitos, e não dos mais ilustres, mas dos mais
humildes, que têm este poder. Ademais, se teus administradores te
malbaratam a fazenda que lhes confiaste, tu não tens a quem recorrer,
e, pela malícia deles, toda a tua riqueza se converte em pobreza
imediatamente. Teu filho, ao contrário, não tem porque temer tal
perda, pois se o primeiro a quem pedir parar na miséria, dará suas
ordens a outro; e, se com este acontecer o mesmo, acudirá um outro e
é mais provável que sequem as fontes das águas do que faltar alguém
disposto a obedecer-lhe nisto.
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