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- É que não é a mesma coisa - objetas - pecar um leigo, ou
pecar um homem que consagrou a vida a Deus. Um não cai da mesma
altura que o outro e, por isso, tampouco recebem as mesmas feridas.
- Pois muito te enganas e erras - respondo-te - se pensas que uma
coisa se exige do leigo e outra do monge. A diferença está em que o
leigo se casa e o monge não; nas demais coisas, a um e a outro serão
pedidas as mesmas contas. E assim, o que se irrita contra seu irmão
sem motivo, seja leigo, seja monge, ofende igualmente a Deus; e o
que olha para uma mulher para cobiçá-la, professe o estado que
professe, será igualmente castigado por este adultério. E se
devemos olhar com a razão, o leigo é neste caso menos credor do
perdão, pois não é a mesma coisa que se deixe arrebatar pela beleza
de uma mulher aquele que tem a sua própria mulher e goza de tão grande
consolo, que sofrer tal percalço aquele que está privado de toda
ajuda semelhante. Do mesmo, o que jura, seja leigo ou monge, é
condenado. Porque quando Cristo nos ensinou o mandamento e a lei
sobre isto, não fez distinção semelhante dizendo:
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"Se o que jura
é um monge, o juramento procede do maligno, e se não é um monge,
não";
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mas disse simplesmente e de uma só vez para todo o mundo:
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"Eu porém, vos digo: Não jureis de modo algum".
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E pelo mesmo motivo, quando disse:
não acrescentou:
mas apresentou a
lei simplesmente para todos. E o mesmo fez em todos os outros grandes
e maravilhosos mandamentos que nos ensinou. E assim quando diz:
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"Bem-aventurados os pobres de espíritos, os que choram, os mansos,
os que têm fome e sede da justiça, os misericordiosos, os puros de
coração, os pacíficos, os que sofrem perseguição por amor da
justiça, os que por sua causa ouvem todo o mal por parte dos gentios",
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não aparece em nenhum lugar o nome do monge
nem do leigo. Esta distinção foi introduzida por invenção dos
homens.
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