NÃO DEVEMOS TEMER TANTO PELA SALVAÇÃO DO MONGE QUANTO PELA SALVAÇÃO DO LEIGO

Como, pois não temes nem vacilas em levar teu filho a um gênero de vida em que cairá rapidamente nas garras da maldade? Ou te parece pequeno mal a idolatria, ser pior que os infiéis e renegar o serviço de Deus, tudo o que sofrerão mais facilmente que os monges, aqueles que se acham ligados às coisas da vida? Vês como o teu medo não era senão um pretexto? Porque se devíamos temer, não era certamente pelos que fogem das ondas e se refugiam rapidamente no porto, mas por aqueles que se debatem em furiosa tempestade. A verdade é que no mundo são mais freqüentes os naufrágios, pois além de serem maiores as tormentas, os que deveriam enfrentá-las são os que vivem mais descuidados. Na vida monástica, pelo contrário, as ondas não são tão encrespadas, a tranqüilidade é muita e a solicitude de quem tem que as combater é maior. Por isso, se nós os empurramos para o deserto, não é para que se vistam simplesmente de saco, coloquem um cordão no pescoço e se deitem sobre cinzas, mas antes de tudo para que fujam do vício e abracem a virtude.

- Então - perguntas - todos os casados se perderão?

- Não é isso o que digo, mas que, se quiserem se salvar, necessitarão de maior esforço

"por causa da instante necessidade";
1 Cor 7,26

pois está claro que o liberto corre melhor que o amarrado. Logo também terá maior recompensa e usará uma coroa mais brilhante? De maneira nenhuma, pois foi ele que impôs a si mesmo esta necessidade, quando tinha a opção de não o fazer!

Conclusão: Fica aqui claramente demonstrado, pois, que temos as mesmas obrigações que os monges; corramos pelo caminho mais plano e levemos por ele os nossos filhos; não tratemos de afundá-los e de arrastá-los para o abismo da maldade, como se fossemos seus inimigos mortais. Se outros fizeram isto, paciência ; mas que defesa restará, que perdão, que misericórdia merecem os pais, com a experiência que têm das coisas da vida, quando sabem praticamente quanto é frio o prazer desta vida, se a tal ponto perdem a cabeça e empurram outros para estas mesmas coisas, cujo proveito a idade impede a eles? Quando deveriam considerar-se desgraçados com as lembranças de sua vida passada, lançam outros pelo mesmo caminho, e isto o fazem já com um pé no estribo para a viagem suprema, já tocando com a mão aquele tribunal e as contas posteriores. Porque ali pagarão com certeza não só pelos seus próprios pecados, mas também pelos pecados de seus filhos, consigam ou não derruba-los com a armadilha que lhes armam.